Sob batuta de Felipão, Marcos participa até de preleção na final da Copa
Disputar uma final de Copa do Mundo é o sonho de qualquer jogador. E Marcos realizou. Goleiro em um time de estrelas, o ídolo palmeirense foi bancado por Luiz Felipe Scolari na meta da equipe canarinho e teve como auge o desempenho no Mundial de 2002.
"Penso que, se a escolha fosse justa ou um pouco diferente, com o voto para melhor goleiro sendo dado depois da final, ele seria o escolhido, porque teve uma atuação espetacular na decisão, e o Kahn teve aquela falha", destaca Felipão, lembrando que o arqueiro da Alemanha levou o prêmio de melhor jogador da Copa, já que a votação foi feita antes da final, sem levar em conta a falha no primeiro gol de Ronaldo.Na época, Marcos já era ídolo do Palmeiras, mas ainda não era tão badalado quanto jogadores como Ronaldo, Rivaldo e Cafu. Mesmo assim, o palmeirense exibiu espírito de liderança. Na preleção da véspera da final contra a Alemanha, Marcos se juntou a Cafu para passar um recado ao restante do elenco.
Felipão exibia o vídeo do adversário e falava sobre as características do oponente, abrindo também a possibilidade para os jogadores expressarem opiniões. Preparador físico da Seleção na Copa, Paulo Paixão se lembra das palavras do goleiro e do lateral. "Eles sabiam o que tinham de fazer e suas atribuições (em campo), mas também falaram: 'como a Alemanha está pensando do outro lado, sabendo que temos aqui Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Rivaldo? Como eles vão nos marcar também? Temos a certeza de que viemos até aqui por méritos do grupo e somos sabedores do que temos a fazer'. O Marcos se expressou desta forma, com o Cafu, em uma Seleção que tinha todos aqueles jogadores", recorda Paixão.
A atitude antes de uma final de Copa do Mundo não surpreendeu o preparador físico. "Em todos os sentidos, ele sempre soube se impor. Naquele momento, em uma decisão, nós vimos que ele já tinha um conceito com o grupo".
Apesar de ter se destacado no Japão e na Coreia do Sul, a trajetória de Marcos pelo Brasil começou bem antes, em 1996, quando ainda era reserva de Velloso no Palmeiras. Na época, o atleta já havia sido chamado para as divisões inferiores da Seleção e aguardava suas oportunidades no Palmeiras.
Depois de ter feito uma série de 13 jogos pelo Palmeiras (a maior de sua carreira até então), durante um período de Velloso no departamento médico, Marcos foi chamado por Mário Jorge Lobo Zagallo para compor o elenco do Brasil no amistoso contra a Lituânia, em Teresina.
Apesar de ter atuado pouco por seu próprio time naquela época, o então goleiro chamou a atenção do treinador. Quase 15 anos depois da primeira convocação da carreira de Marcos, Zagallo ainda se recorda dos motivos da convocação.
"Sempre que ele entrava no time dele, era um jogador que mostrava muitas qualidades. Tanto é verdade que é um goleiro que marcou época dentro do Palmeiras", explica o ex-técnico.
Na vitória por 3 a 1 sobre a Lituânia, Marcos ficou na reserva de Zetti, mas Zagallo tem certeza de que acertou ao dar a primeira experiência em um grupo da Seleção. "Não tenho dúvidas, ele demonstrou ser um ótimo goleiro e fez uma trajetória muito bonita".
Porém, Marcos precisou aguardar por mais três anos para estrear pelo Brasil. Em 1999, Vanderlei Luxemburgo depositava sua confiança em Dida, mas o palmeirense ganhou sua chance na última partida da temporada, quando a Seleção foi comandada interinamente por Candinho, já que o técnico principal estava com o grupo pré-olímpico.
No dia 13 de novembro, com o status de melhor jogador da Libertadores daquele ano, Marcos foi titular no empate por 0 a 0 com a Espanha, em amistoso disputado na cidade de Vigo.
No entanto, mesmo sendo chamado outras vezes, o palmeirense não teve uma sequência na meta, já que Dida seguiu com a preferência de Luxemburgo. Com a troca de treinadores em 2000, Emerson Leão abriu mais espaço também para Rogério Ceni, em detrimento do palmeirense.
Assim, restou ao ídolo alviverde esperar mais um pouco, até uma nova alteração no comando. No dia 1º de julho de 2001, Felipão realizou seu primeiro jogo como técnico da Seleção, e Marcos virou titular absoluto.
Dos 29 jogos que o ídolo palmeirense disputou pelo Brasil, 24 foram sob o comando do treinador, estando presente inclusive na pífia campanha da Copa América de 2001. Portanto, o jogador chegou com uma boa sequência à Copa do Mundo de 2002, quando Scolari manteve sua convicção pelo atleta.
"Na Copa, nós tínhamos Marcos, Rogério e Dida, três goleiros de muita qualidade e que não tinham quase nada de distância um do outro. Eram do mesmo nível e quem jogasse representaria bem o Brasil. Como tive um ambiente com ele aqui no Palmeiras, convivi com ele, optei pela colocação dele e foi muito bem", explica Felipão.
Além do treinador, Marcos contava também com a plena confiança do preparador de goleiros do Brasil, Carlos Pracidelli, com quem trabalhou no Palmeiras durante a maior parte de sua carreira.
"O Marcos foi titular por conta do nosso conhecimento. Não digo que os outros não cresceriam, mas já tínhamos trabalhado com o Marcos e sabíamos que em momentos decisivos faria uma Copa maravilhosa. E ele fez uma Copa fantástica, sem erros", avalia Pracidelli.
Na decisão contra a Alemanha, Marcos fez defesas importantes na cobrança de falta de Neville e também em um chute forte, de dentro da área, de Bierhoff, colaborando para a conquista do pentacampeonato.
Depois do Mundial, o ex-goleiro fez parte do último jogo de Felipão na Seleção, contra o Paraguai, e perdeu a condição de titular com a chegada de Carlos Alberto Parreira. Mesmo assim, o palmeirense continuou sendo chamado pelo novo técnico e até fez parte do grupo que conquistou a Copa das Confederações de 2005.
E foi justamente no torneio na Alemanha que disputou sua última partida pela Seleção Brasileira. No empate por 2 a 2 com o Japão, no dia 22 de junho, Marcos vestiu pela última vez a amarelinha.
Confira abaixo todos os jogos de Marcos pela Seleção:
Brasil 0 x 0 Espanha - Amistoso - 13/11/1999
Brasil 0 x 1 Uruguai - Eliminatórias - 01/07/2001
Brasil 0 x 1 México - Copa América - 12/07/2001
Brasil 2 x 0 Peru - Copa América - 15/07/2001
Brasil 3 x 1 Paraguai - Copa América - 18/07/2001
Brasil 0 x 2 Honduras - Amistoso - 23/07/2001
Brasil 5 x 0 Panamá - Amistoso - 09/08/2001
Brasil 2 x 0 Paraguai - Eliminatórias - 15/08/2001
Brasil 1 x 2 Argentina - Eliminatórias - 05/09/2001
Brasil 2 x 0 Chile - Eliminatórias - 07/10/2001
Brasil 1 x 3 Bolívia - Eliminatórias - 07/11/2001
Brasil 3 x 0 Venezuela - Eliminatórias - 14/11/2001
Brasil 6 x 1 Islândia - Amistoso - 07/03/2002
Brasil 1 x 0 Iugoslávia - Amistoso - 27/03/2002
Brasil 1 x 1 Portugal - Amistoso - 17/04/2002
Brasil 3 x 1 Catalunha - Amistoso - 18/05/2002
Brasil 4 x 0 Malásia - Amistoso - 25/05/2002
Brasil 2 x 1 Turquia - Copa do Mundo - 03/06/2002
Brasil 4 x 0 China - Copa do Mundo - 08/06/2002
Brasil 5 x 2 Costa Rica - Copa do Mundo- 13/06/2002
Brasil 2 x 0 Bélgica - Copa do Mundo - 17/06/2002
Brasil 2 x 1 Inglaterra - Copa do Mundo - 21/06/2002
Brasil 1 x 0 Turquia - Copa do Mundo - 26/06/2002
Brasil 2 x 0 Alemanha - Copa do Mundo - 30/06/2002
Brasil 0 x 1 Paraguai - Amistoso - 21/08/2002
Brasil 1 x 2 Portugal - Amistoso - 29/03/2003
Brasil 5 x 2 Catalunha - Amistoso - 25/05/2004
Brasil 3 x 0 Guatemala - Amistoso - 27/04/2005
Brasil 2 x 2 Japão - Amistoso - 22/06/2005
Exemplo de amor à camisa no futebol moderno
A carreira de Marcos pode ser classificada como uma das mais bonitas dos últimos anos. Mesmo consagrado e objeto de desejo de grandes clubes europeus durante a trajetória dentro dos gramados, o goleiro deu um raro exemplo de "amor à camisa" no futebol moderno. O camisa 12 permaneceu os quase 20 anos de vida futebolística na mesma instituição: a Sociedade Esportiva Palmeiras.
Com a camisa alviverde, Marcos conquistou os maiores títulos da organização paulista. Campeão brasileiro nos anos de 1993 e 1994, o goleiro alcançou o auge da carreira. Em um espaço de apenas três meses, deixou o banco de reservas para se tornar um dos principais responsáveis pelo título inédito da Copa Libertadores da América de 1999, a maior glória obtida pelo Palmeiras até hoje.
Já tratado como ídolo, Marcos conquistou ainda mais a torcida na edição seguinte da competição sul-americana. Embora tenha passado por um péssimo momento de pressão, após falhar na decisão do Mundial de 1999 (não conseguiu interceptar um cruzamento de Ryan Giggs, que resultou no gol do título do Manchester United, marcado por Roy Keane), o goleiro se tornou símbolo da vitoriosa geração alviverde ao novamente impedir o arquirrival Corinthians de seguir no torneio.
Na semifinal, Marcos defendeu o pênalti cobrado por Marcelinho Carioca, principal ídolo corintiano na época, e classificou o Palmeiras à decisão da Libertadores de 2000 - competição na qual o time acabou como vice-campeão.
Ídolo consolidado dentro do clube, Marcos atingiu o Brasil inteiro em 2002. Goleiro de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari, o representante palmeirense vestiu a camisa 1 da Seleção Brasileira e teve participação fundamental na conquista do pentacampeonato, especialmente na decisão contra a Alemanha.
As grandes atuações despertaram o interesse europeu. O Arsenal, depois de conhecer o goleiro palmeirense na Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul, buscou a contratação de Marcos. Entretanto, na contramão do futebol moderno de negócios, o jogador rejeitou a proposta e seguiu na instituição alviverde, apesar do rebaixamento à Série B do Brasileiro em 2003.
Marcos passou pela pior crise da história palmeirense sem ter o respeito adquirido durante o fim da década de 90. O jogador seguiu convivendo com lesões, alguns vexames (como a goleada de 7 a 2 para o Vitória, pela Copa do Brasil de 2003, no Palestra Itália) e grandes atuações. O último título conquistado pelo camisa 12 no único clube da carreira foi o Campeonato Paulista de 2008.
FICHA TÉCNICA
Nome: Marcos Roberto Silveira Reis
Posição: Goleiro
Cidade de nascimento: Oriente (SP)
Nascimento: 4 de agosto de 1973
Altura: 1,93 m
Camisa preferida: 12
Jogos pelo Palmeiras: 530
Jogos pela Seleção Brasileira: 29
Clubes: Palmeiras
Títulos: Campeonato Brasileiro (1993 e 1994); Campeonato Paulista (1994, 1996 e 2008); Copa do Brasil (1998); Copa Mercosul (1998); Copa Libertadores (1999); Torneio Rio-São Paulo (2000); Copa dos Campeões (2000); Campeonato Brasileiro Série B (2003).
Pela Seleção: Copa América (1999); Copa do Mundo (2002) e Copa das Confederações (2005)