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Champions LiGay: saiba histórias e como surgiu a competição

Oito equipes formadas por jogadores gays irão disputar a competição neste sábado, no Rio de Janeiro. Atletas falam ao LANCE! sobre a luta contra o preconceito

23 nov 2017 - 08h02
(atualizado às 09h21)
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O ano está acabando, mas há campeonato brasileiro começando no país, e de forma histórica, já que será o primeiro homossexual. Os dribles serão em busca da vitória contra o preconceito. O Rio de Janeiro recebe o Brasileirão da categoria neste sábado. A Champions LiGay, nome dado para a competição, terá entrada gratuita para os fãs de futebol society que quiserem ir até a arena Rio Sport, na Barra da Tijuca, a partir das 12h (horário de Brasília) para ver oito equipes duelarem por duas vagas na final. A página "Ligaybr" no Facebook retransmitirá todos os jogos.

Os times que vão inaugurar o torneio são: Beescats e Alligaytors (RJ), Futeboys e Unicorns (SP), Bharbixas (BH), Bravus (DF), Magia (RS) e Serenyos (SC). A fórmula de disputa tem dois grupos de quatro times valendo vagas na semifinal aos dois melhores de cada um deles. Serão dois tempos de 12 minutos por cotejo. A abertura do campeonato será entre Beescats e Futeboys.

- Os BeesCats se juntaram aos Unicorns e Futeboys de SP e decidimos fomentar a criação de outras equipes Brasil afora. Nasceram quatro novos times. Com isso, decidi criar LiGay Nacional de futebol. Uma federação amadora que reúne os times gays de futebol do país - explicou André Machado, 37 anos, criador do time e do evento. Ele ainda completa.

- Champions LiGay é o evento de comemoração para esse início - afirmou.

Machado, que é radialista formado, comenta ações parecidas no exterior.

- Lá fora existem espécies de Olimpíadas LGBT. OutGames e World Gay Games são exemplos - destacou o também jogador.

Em agosto de 2018, os Beescats, Unicorns e uma equipe formada pelos melhores da LiGay disputarão na França um torneio semelhante aos citados acima. Os Beescats são federados à liga de futebol society do Estado do Rio, que tem 150 equipes espalhadas em oito divisões. A agremiação é a única base formada somente por homossexuais.

Entretanto, não são todos os times que conseguem tal apoio.

- Ao contrário de outros times, não temos comissão técnica, preparador, treinador, nada disso. Temos os fundadores, eu, Bruno Host e Pedro Gariani, que comandamos tudo - ressaltou Filipe Manetta Marquezin, fundador do Unicorns Brazil.

Ainda assim, o grupo Águia, que tem tradição de cuidar dos deslocamentos da CBF em eventos no país, se pôs à disposição do organizador do campeonato e conseguiu descontos na hospedagem e nos transportes para os clubes, que ficarão em um hotel no bairro de Ipanema.

Marquezin ainda confirmou que o time fundado em abril de 2015 é o primeiro ligado à comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) do Brasil. O jogador do Unicorns aborda a questão do preconceito no esporte: ser gay e jogador futebol.

- Minha família é fanática por futebol. Todos vão ao estádio, e sempre fui criado nesse ambiente. Eles me dão todo o apoio, como sempre me deram em todos os caminhos da minha vida - afirmou.

O Magia, assim como os outros times da competição, sofre por não ter apoio financeiro.

- Nossa viagem ao Rio está sendo totalmente financiada pelos próprios atletas, uma vez que não temos patrocínio para isto, então, estadia, transporte e alimentação são por conta de cada atleta - relatou o bancário e coordenador da equipe, Carlos Renan Evaldt.

Esporte para todos

A ascensão das minorias em busca de reconhecimento tem tido mais espaço na mídia. A prática esportiva é um grande elo de diálogo com a população, avalia um dos participantes da competição.

- Ocorre que o futebol é um esporte que, ainda hoje, é permeado pelo preconceito. Raros são os casos em que pessoas declaradamente LGBT conseguem ser verdadeiramente incluídas nas equipes tradicionais. Participar da LiGay é, acima de tudo, sinalizar à sociedade e ao mundo do futebol que existimos e que muitos de nós fomos e somos preteridos, todos os dias, por preconceito. Trata-se de um posicionamento claro: gays jogam bola, e jogam bem! - enfatizou o contador e membro do Bharbixas, Thyago Ribeiro dos Santos.

Segundo o levantamento do site Outsports durante os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, somente 49 tinham a orientação sexual assumida. Número baixo, já que são mais de 10 mil atletas que disputam Olimpíadas de quatro em quatro anos.

Porém, um historiador, à época, Tony Scupham-Bilton, dedicado à cultura LGBT com o blog "Queer Story Files", divulgou em julho de 2016 que só 257 atletas, na história centenária das Olimpíadas, se assumiram gays. A Rio-2016, portanto, recebeu solitariamente 20%. Um marco.

Se o filtro analisado usar somente o futebol, esse abismo é muito maior. Há mais de um século praticado no mundo, o "soccer" para os americanos, "fussball" para os alemães e "football" para os criadores do esporte, os ingleses, segue machista.

O jogador de futebol mais conhecido assumidamente gay é Thomas Hitzlsperger, ex-meia da seleção da Alemanha que se aposentou em 2010 por conta de lesões aos 31 anos. Apesar de afirmar à revista "Die Zeit", uma publicação nacional alemã, que era gay e que isso era para o mundo avançar, ele se assumiu após sair das quatro linhas. Ou seja, com a carreira em andamento, ainda não houve um grande futebolista que tenha se agarrado a essa causa.

- Temos jogadores que já atuaram em grandes times nacionais, portanto com grande dificuldade de relações e não se assumindo. Já a grande maioria, sempre jogou em futebol amador - lembrou Eddie Prim, que além de jogador do Sereyos também é arquiteto e urbanista em Santa Catarina.

Isso porque o Brasil, com cerca de 207 milhões de habitantes até 2016, não fazia contagem deste grupo social. Apenas separava por etnia, religião e classe social. Tanto que, o relatório anual do Grupo Gay da Bahia revelou que no ano passado morria um membro da LGBT a cada 25 horas. Quase um por dia. No total de 343, o maior dado deste novo século. O recorde negativo era de 260, no censo de 2010 da GGB. Por conta disso, é quase impossível que não haja ao menos uma grande estrela do futebol brasileiro homossexual, uma vez que há mais de 28 mil jogadores profissionais no Brasil, segundo a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), publicou em 2016.

Regulamento

Todos os times na Champions LiGay vão se enfrentar em turno único contra os adversários do próprio grupo sorteado no último dia 17 de novembro, ao longo das oito horas de competição. Todos os atletas devem ser homossexuais e assinam termo de compromisso antes do início dos jogos com risco de eliminação da equipe no Brasileirão.

- Por isso foi formado um time com 100% jogadores gays. Nosso objetivo não é excluir os héteros, muito pelo contrário, eu espero que daqui 10 anos não precise mais existir (separação), será normal um gay jogar futebol ou ser galã de novela, delegado, jornalista ou que quer que seja - disse André Machado criador do evento.

Planejamento

A próxima edição da Champions LiGay será em 14 de abril de 2018, em Porto Alegre. Serão adicionadas no torneio do próximo ano oito equipes que ainda não estão definidas de quais estados. Ainda não há local definido. Também há previsão de receber 250 atletas e três países convidados.

SERVIÇO

Champions LiGay - 1ª Edição

Data: Sábado - 25 de novembro de 2017

Horário: Campeonato das 13h às 19h. Festa das 19h à 1h

Local: Rio Sport - Av. Ayrton Senna, 2541 - Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

Ingressos: Gratuita entrada para o campeonato das 12h às 19h.

Festa de encerramento: a partir das 20h, valor inicial de R$30,00 (1º lote). R$40,00 (2º lote) e R$50,00 (no dia).

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