Plebeus na realeza! Conheça o Rei e o Príncipe que podem tirar o Chile da fila
O Chile faz neste sábado, no Estádio Nacional de Santiago, a final da Copa América contra a Argentina, e tem como um trunfo a sua "realeza". O time tem como motor a dupla formada pelo Príncipe Charles e o Rei Arturo, apelidos de Aránguiz e Vidal respectivamente. Porém, na vida real, os dois nasceram longe de berços de ouro, vieram da plebe, fazem questão de manter as origens e defendê-las como verdadeiros guerreiros.
Ambos nasceram em Santiago, mas em lugares distintos. A origem de Vidal é em San Joaquín, periferia da capital. Humilde, começou a jogar bola no campinho de terra do clube amador Rodelindo Román, que literalmente fica na frente da casa em que nasceu e cresceu. Anos depois, virou rei pela garra e por ser xará da famosa figura lendária britânica, e que era amigo do mago. Não o Valdivia, mas o Merlin. Porém, a chave disso vem de longe.
Vidal é o rei e Aránguiz é o príncipe da seleção chilena (Ilustração: Mario Alberto)
– Arturo começou a jogar há uns 23, 24 anos, ele nasceu aqui. Chegou no clube muito pequeno. E gostava de jogar com os adultos. Às vezes ele pegava a camisa, mesmo criança, e começava a jogar ao lado de adultos de 45 anos. Mas ele ia, entrava e não estava nem aí, na terra, ele comia terra e a bola. Saía de casa e estava já no campo. Nunca teve medo de jogar com os muito mais velhos. Talvez daí que venha a garra dele – explica José Calderón, diretor do pequeno clube, e que viu Vidal nascer, ao LANCE!, lembrando que a qualidade sempre esteve lá, e que até hoje o observa como um menino.
- Quando tinha aquela idade, já dava pinta de jogador, era diferenciado. É um grande orgulho, uma grande honra... Imagina só! É considerado não só um dos melhores do Chile, mas do mundo. Então é uma coisa muito grande. Quando eu vejo na televisão, ainda enxergo ele jogando aqui, é Arturo.
Anos depois, Vidal pode ter saído da "plebe" e virado rei. Mas a plebe nunca saiu de Vidal. Seus avós ainda moram em frente ao campinho de terra, e sua antiga casa está hoje com os tios.
- Ele se identifica como o Rei, mas também com a sua origem daqui. Aqui é um bairro humilde, dá para ver. Mas sua mãe deu estudo, deu educação, a família é muito afetuosa, ele sempre teve muito carinho, sempre foi bem cuidado por todos. Quando vem ao Chile, sempre passa aqui, vem ao clube. É um exemplo para a garotada. Tenho um neto de quatro anos, sempre pede para fazer o corte de cabelo de Arturo. Os garotos sempre estão com a camisa da Juventus.
Vidal já marcou três gols na Copa América (Foto: Luis Acosta/AFP)
Guerreiro como um rei antigo em campo, Vidal ganhou a companhia de Aránguiz, o príncipe. Neste caso, a inspiração é o filho da Rainha Elizabeth, da Inglaterra. O craque da Juventus é filho ilustre de San Joaquín, e o do Internacional virou até nome de avenida em Puente Alto, na região metropolitana de Santiago.
– Ele é o trabalhador da seleção, o sócio de todos – diz Mariana Sandoval, mãe de Aránguiz, ao LANCE!, que busca uma explicação para todo essa nobreza, digna de um príncipe, do filho dentro das quatro linhas:
- Charles tem sete tios diretos, mais cinco irmãos, e todos, de alguma forma, estão ligados ao futebol. Com um deles, eu sempre falava que algum dos nossos iria chegar a aparece na televisão. Não apostávamos, a gente sonhava. E tem sido um sonho maravilhoso, uma emoção grande para uma família grande. Nessa população, é difícil sair e buscar outras coisas.
Mariana Sandoval, mãe de Aránguiz, no ginásio em que trabalha (Foto: Thiago Correia)
Mariana diz ainda que é uma privilegiada. Mais até do que outras mães de jogadores que conseguem vencer no futebol. Simplesmente por também ser uma apaixonada pela modalidade. Há cerca de 20 anos, chegou a fazer um curso e foi treinadora de crianças. E lembra de quando o seu garoto começou a gostar de jogar.
- Quando tinha três anos, andava com a bola para todo o lado, como todas as crianças. Mas sempre notava algo diferente. Gostava de dominar a bola, jogava paredão e chutava muito forte. Às vezes quebrava vidros, quadros... Apesar de ser tímido, tinha personalidade para jogar. Passam duas emoções para mim. Entendo todas as mães de jogadores que se emocionam. Mas para mim, o futebol corre na veia, fico mais encantada. É o meu filho ali, uma emoção grande, começo a chorar, gritar. Vendo o meu filho jogar tão bem na Copa do Mundo... - derrete-se a mãe coruja.
Aránguiz e Vidal jogam bem próximos em campo pela Roja (Foto: AFP)
Inclusive, Mariana Sandoval é vice-presidente do Nuevo Esperanza, onde o filho deu os primeiros passos e foi observado também por Germán Hernández, presidente do time, que revela a personalidade tímida do meia.
– Ele sempre foi mais quieto, um pouco tímido. Não conversava muito com os outros garotos. De poucas palavras. Mas foi crescendo, foi se soltando, mostrou personalidade, é um bom garoto. Ele sobressaía jogando com garotos maiores. Já dava para ver que a qualidade estava ali, e só precisávamos lapidar. Nunca pensamos que chegaria aonde chegou...
Aránguiz também é destaque do Colorado (Foto: Divulgação / Internacional)
Quem o acompanha hoje, garante que a condição "real" se mostra dentro de campo, e que faz por merecer o apelido.
– Charles é um cara fantástico, meu... É um cara do bem para caramba. Chegou quietinho, na dele... O jogador conquista outro jogador é com a bola no pé. E com isso ele alcança um nível de admiração e credibilidade lá dentro (do campo) - disse Alex, meia do Internacional, que revelou ainda se no Colorado ele chega a ser chamado de "Príncipe Azul", complemento que ganhou na época de Universidad de Chile, e que tem a cor predominante justamente a do Grêmio:
- Apelido assim não... Mas príncipe Charles sempre sai. Isso aí é normal. Charlito é como a gente chama ele carinhosamente. É um cara bacana para se relacionar e, dentro, ele assume ele assume essa condição de príncipe (risos). Joga muita bola!
A grande questão que fica agora é se todos os súditos do Chile irão se curvar à realeza neste sábado. O Chile pega a Argentina e pode levar o título inédito da Copa América no Estádio Nacional de Santiago.
BATE-BOLA
Alex, meia do Internacional, ao LANCE!
Tem acompanhado, sempre que possível, a seleção do Chile na Copa América por conta da presença do Aránguiz?
A seleção do Chile já chama a atenção por si só né. Tem um tempo que ela vem bem montada, tem uma geração boa, que todos falam que é a melhor geração. Por isso, nós acompanhamos, por ter um bom futebol. E ainda mais desde que a gente conheceu o Charles aqui. É um cara que também nos mostra um pouco da escola deles lá, que vem com uma qualidade altíssima. Por isso que a gente gosta de acompanhar.
Ele tem sido um dos destaques do Chile, o que não é uma novidade. Quais são, na sua opinião, as principais qualidades do Aránguiz, que sempre é cogitado por clubes da Europa?
O Charles tem todas as qualidades. É um cara que sabe marcar, compor espaço, tem frieza muito grande para jogar, um controle de bola, um controle da situação, articula muito bem as jogadas, joga simples e em dois toques. É um cara que gosta de jogar para frente, tem inteligência mesmo sem falar, sem se comunicar muito. Ele sempre ocupa um lugar no campo, está sempre participando do jogo o tempo todo. É um cara ativo e um cara muito difícil de se jogar contra ele né. Por essa dinâmica que ele tem, de chegar na área, voltar, ir pelas beiradas, pelo meio. Ele tem uma facilidade muito grande nos movimentos e um conhecimento, um amadurecimento de um jogador diferente.
Ele não sentiu problema de adaptação ao chegar ao Brasil e, desde então, vem sendo um dos destaques do Internacional. Como é o Aránguiz no dia a dia?
Tudo isso que ele conseguiu no Inter foi por isso. O Inter tem uma tradição de uma casa acolhedora, aconchegante, de facilitar para todo mundo que chega, ainda mais para quem vem de fora como ele. Mas ele é um cara muito maduro, está em um momento muito bom da carreira e, por isso, que ele vem sendo um dos caras mais importantes desde o ano passado, desde a chegada dele. E a cobiça de outros clubes é bem natural. Tomara que a gente não venha a perdê-lo.
Como que você analisa a dupla Vidal/Aránguiz, já que o primeiro é chamado de "Rei" e o Aránguiz é o "Príncipe"?
Ambos vivem momentos muito bons individualmente nos seus times se for analisar. Eles assumem responsabilidades, são maduros dentro de campo, são protagonistas. Eles têm a consciência do protagonismo e conseguem levar isso muito bem, sem o problema de ser coadjuvante em algum momento se tiver que correr atrás de alguém, tiver que marcar. E a questão de ser favorito ou não, acredito que será um grande jogo. Sempre o Messi vai fazer uma grande diferença para a Argentina tem um ataque poderoso demais, que vive um momento muito bom. Mas, nesse embate, com a vantagem de jogar em casa eu daria, de repente, até um pouco de torcida para o Chile justamente pelo Aránguiz.*Colaborou: Luiz Signor