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Especialistas analisam a crise no futebol brasileiro diante da pandemia

Vantuil Gonçalves e Lucas Barroso ressaltam a necessidade de tratar a modalidade como uma indústria de mercado, que se for bem conduzida, pode dar retorno à sociedade

17 abr 2020 - 15h50
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A paralisação do futebol brasileiro completou um mês nesta sexta e as consequências do período de inatividade da modalidade podem ser devastadoras. Com isso, os especialistas Vantuil Gonçalves e Lucas Barroso analisaram o atual cenário econômico diante de uma pandemia global e destacaram a importância de mudanças significativas no esporte.

Estimativa da EY é que clubes deixem de arrecadar entre R$ 500 milhões e R$ 2 bilhões em 2020 (Alexandre Vidal / Flamengo)
Estimativa da EY é que clubes deixem de arrecadar entre R$ 500 milhões e R$ 2 bilhões em 2020 (Alexandre Vidal / Flamengo)
Foto: Lance!

"A pandemia do Covid-19 afeta todos os setores da economia, inclusive o futebol, que, no Brasil, já "respirava por aparelhos", beirando a insolvência.

O cenário que se apresenta é de queda considerável nas receitas dos clubes, principalmente em direitos de transmissão, patrocínios, bilheteria, programa de sócio-torcedor e transferências de jogadores. Estimativa da EY é que deixem de arrecadar entre R$ 500 milhões e R$ 2 bilhões em 2020.

O momento é excepcional e reforça a importância de maturidade institucional para articulações sólidas, em busca de soluções coletivas para garantir a sobrevivência do setor com segurança jurídica. Porém, os agentes do futebol brasileiro sequer estão falando a mesma língua. A tentativa de acordo coletivo entre clubes e atletas não prosperou devido à falta de legitimidade, representatividade, união e organização.

As entidades que comandam o futebol, e deveriam regê-lo, por sua vez, mostram-se preocupadas apenas com o retorno dos campeonatos estaduais para o cumprimento do atual calendário de competições do futebol brasileiro, que já se mostrava inviável mesmo antes da pandemia.

A falta de consenso entre os clubes ocorre mesmo na representação em temas de interesse comum, como a negociação de direitos de transmissão das competições ou na criação de uma liga para organizar suas próprias competições, por exemplo.

Os jogadores também carecem de uma entidade que os represente efetivamente. Vale lembrar que os capitães dos clubes da Série C se uniram por conta própria em carta pleiteando auxílio financeiro, com o título "CBF, a Série C precisa do seu apoio!"

Pouco tem sido feito no combate à crise pelos gestores do futebol brasileiro. Em geral, jogadores, clubes e a CBF têm adotado algumas ações isoladas, que, apesar de ajudar, teriam maior efetividade e alcance, se houvesse maior interação e coordenação.

A Europa é um exemplo positivo. Além das doações consideráveis, as principais ligas organizaram ajuda financeira aos clubes, que chegam a R$ 3 bilhões, como na Espanha. Observa-se também a tomada de decisões em conjunto, unindo jogadores e clubes na busca de soluções coletivas para a crise, com acordos de redução salarial em até 80%, como aconteceu em Roma.

No Brasil, o auxílio do Poder Público será essencial, mas é preciso exigir contrapartidas para o desenvolvimento do futebol brasileiro, como a migração do formato de associação sem fins lucrativos para o modelo empresarial, adotado em praticamente todo o mundo e que vem sendo "driblado" pelos clubes brasileiros desde a década de 90, para que se mantenham na vanguarda do atraso, com estruturas amadoras e defasadas, sem qualquer responsabilidade dos dirigentes pela péssima gestão que fazem, muitas vezes até irregular ou temerária.

Segundo a FGV, o futebol brasileiro tem potencial para gerar mais de 2 milhões de empregos e hoje gera apenas 370 mil. É preciso enxergar o futebol como uma indústria de mercado, que, bem conduzida e explorada, dará retorno à sociedade, que, atualmente, segue pagando a conta da ineficiência da gestão do futebol brasileiro, que deixa de gerar empregos, renda e de recolher impostos.

Se "nas crises surgem grandes oportunidades", este talvez seja o momento oportuno para mudar o futebol brasileiro, com clubes organizando a liga e virando empresas com gestão profissional. Só assim será possível evoluir e, enfim, deixar o grupo de risco que já integrava antes mesmo da pandemia do novo coronavírus."

Vantuil Gonçalves Junior é Membro da Câmara Nacional de Resoluções e Disputas da CBF, Membro da Comissão de Esportes da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro e Sócio do Trengrouse. Gonçalves Advogados;

Lucas Barroso Silva é Membro do Grupo de Estudos em Direito Desportivo da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e integrante do Trengrouse. Gonçalves Advogados

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