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Seleção versus clubes

A CBF é a grande vilã pelos desfalques dos times brasileiros para a seleção

23 set 2019 - 04h11
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A convocação de Tite para os amistosos da seleção brasileira contra Senegal e Nigéria provocou uma gritaria maior do que se imaginava no País. Ele tirou sete jogadores de clubes nacionais para as partidas dos dias 10 e 13 de outubro em Cingapura. Portanto, do outro lado do mundo. Fosse a seleção brasileira um poço de respeito e comoção, talvez o torcedor entenderia melhor as escolhas do treinador. Mas não é assim. Não há atualmente qualquer sentimento pelo escrete nacional, assim chamado o time pelos críticos do passado.

A seleção não desperta nada nas pessoas a não ser desconfiança e indiferença. Nem usar sua camisa podemos mais, porque ela, na versão amarela, foi associada equivocadamente ao presidente da República, a manifestações políticas, a movimentos partidários. Há quem aprove isso. Mas também há quem se sinta bastante incomodado.

O fato é que ganhar ou perder com a seleção não significa nada para os torcedores e, ouso dizer, para muitos jogadores também, principalmente aqueles seguem depois suas vidas na Europa ou em seus respectivos clubes como se nada tivesse acontecido.

Os atletas sabem que o que conta são os jogos de competições, conquistas importantes e não amistosos contra rivais que não acrescentam nada ao Brasil. Mas vencer significa muito para a CBF, que ganha dinheiro com seleção - e dada a prisão e o banimento do futebol dos principais dirigentes da entidade, diria que ganha dinheiro sujo.

Flamengo e Grêmio foram os times mais prejudicados por Tite, com duas baixas em rodadas do Brasileirão. Palmeiras, São Paulo e Athletico-PR também perderam um jogador cada. O treinador chamou os melhores dessas equipes porque precisa apresentar resultados diante de Senegal, contra quem o Brasil nunca jogou, e Nigéria, como explicou em sua entrevista sexta-feira. Joga para manter o emprego.

Convocar atletas que atuam no Brasil não é, em si, o ponto da discórdia. Afinal de contas, nós queremos ver na seleção os jogadores mais próximos da gente, dos nossos clubes no Brasil. O problema é a CBF não parar os campeonatos no País e acertar o mesmo com a Conmebol em relação a Libertadores e Sul-Americana. O problema é a CBF dizer, e Tite repetir, que esses são os únicos rivais que aceitaram jogar amistosamente contra a seleção. Não cola mais. No dia 9 de outubro, por exemplo, a Argentina vai enfrentar a Alemanha na mesma data Fifa que o técnico alegou não ter encontrado oponentes melhores do que Senegal e Nigéria. O torcedor sabe que a CBF 'vendeu' a seleção. Ora, só isso explica levar o time para o outro lado do mundo. Ou, nas partidas passadas, jogar à meia noite contra Colômbia e Peru nos Estados Unidos.

O torcedor desconfia que há esquemas e que esses esquemas prejudicam o seu time. Então, entre servir o Brasil ou jogar pela sua equipe, não há mais dúvidas sobre sua preferência. A seleção brasileira que se dane!

Esse sentimento, inimaginável em outros tempos, tem muito a ver com a postura arrogante da CBF, livre em sua redoma para fazer o que bem entender, e com a fraqueza da comissão técnica de Tite. O próprio técnico perdeu respeito depois de passar a mão demais na cabeça de Neymar, dar explicações nada convincentes sobre o time e se submeter aos desejos e caprichos da CBF. Tite mostra-se igual aos outros que foram demitidos antes dele. Juntou-se à farinha no mesmo saco.

A CBF é a grande vilã dos desfalques dos times brasileiros, mas os clubes também têm boa parcela de responsabilidade nisso tudo. Os dirigentes devem ser cobrados. São eles que se rendem a todos os mandos da Confederação Brasileira de Futebol, seduzidos talvez pelo poder dessa perigosa aproximação. Continuam sendo paus mandados.

Estadão
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