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Presidente da CBF admite que árbitros não foram treinados para o VAR: "Não deram condição"

Em entrevista ao 'Estadão', presidente da CBF comentou do momento da arbitragem brasileira e do calendário, mas evitou dar pistas do sucessor de Tite na seleção após a Copa

22 set 2022 - 05h10
(atualizado em 23/9/2022 às 10h41)
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Ednaldo Rodrigues, eleito quase que por unanimidade, é o sétimo dirigente a assumir a presidência da CBF
Ednaldo Rodrigues, eleito quase que por unanimidade, é o sétimo dirigente a assumir a presidência da CBF
Foto: Divulgação/CBF/Lucas Figueiredo

Sétimo dirigente a assumir a presidência da CBF na última década, Ednaldo Rodrigues completou no mês passado um ano à frente da confederação. Primeiro, de forma interina, mas desde março o baiano de Vitória da Conquista ocupa o cargo mais alto do futebol brasileiro de maneira oficial. Eleito praticamente por unanimidade, ele tem a missão de recuperar a credibilidade de uma entidade que, nos últimos anos, viu seus principais cartolas serem banidos, suspensos, depostos ou até mesmo presos.

Nesta entrevista de quase uma hora ao Estadão, o dirigente comentou sobre as mudanças na entidade, futebol feminino, combate ao racismo, calendário do futebol brasileiro, arbitragem, casas de apostas e seleção brasileira. Desses todos, um único assunto não teve resposta direta: a sucessão de Tite, que já declarou que deixará a seleção após a Copa do Mundo do Catar.

Depois de assumir a CBF, ao longo dos meses o senhor trocou praticamente todos os diretores da entidade. Foi uma decisão sua, ou foi uma decisão junto com os seus vices? Por que houve essas mudanças?

Primeiro que diretor é um cargo de confiança, não só competência. Não adianta a pessoa ter competência, mas não ter confiança. E também não adianta ter confiança, mas não ter competência. A mudança foi pelo melhor da entidade. A entidade tinha um formato como se fosse uma confraria, e o que a gente queria era não ser mais o mesmo do mesmo. A gente queria trazer pessoas com dignidade, com competência e transparência, e que atendessem tudo aquilo que o futebol brasileiro espera de uma nova CBF. Que as coisas sejam bem claras e objetivas, que possam respeitar sempre os filiados. Os clubes não tinham voz, se quisessem fazer uma reunião não podiam, porque aparecia sempre um secretário para minar as reuniões dos clubes (convocadas) para tratar questões deles próprios. A gente buscou dirigentes com perfil de mudança, visando a competência, que pudessem melhorar as coisas ruins que, mesmo com tantos diretores, ficaram tanto tempo e não demonstraram.

Quando o senhor fala em confraria, é no sentido de que as decisões eram sempre únicas, vinham sempre de cima?

Não sei, não diria nem que de cima… O que a gente via aqui é que cada um fazia o que queria, cada um se comandava. Era esse perfil que a gente queria que mudasse, que houvesse um comando. Modéstia à parte, hoje a CBF tem um comando.

O senhor colocou mulheres em sua diretoria. Foi para mostrar um novo perfil, foi por competência? Pretende colocar mais?

Já são duas, a primeira foi a Luisa (Rosa), na diretoria de Patrimônio e Infraestrutura. É uma pessoa muito competente, que já estava na CBF num cargo em que respondia pelo legado da Copa (de 2014), com relação à construção de centro de desenvolvimento. A gente viu que tinha um perfil importante, que já desenvolvia um trabalho perante a Fifa, que já conhecia todas as arenas aqui no Brasil e de outros países. Foi por competência, não só por ser mulher. A mesma coisa foi a Samantha Longo (diretora jurídica), uma pessoa que tem um trabalho muito sério voltado principalmente a questões de contratos, litígios, recuperação judicial - que não era o caso da CBF, mas era o caso de recuperação de credibilidade. Havia coisas ruins, um monte de contratos sem critérios. É uma pessoa que está tendo um trabalho muito competente nesse sentido, ajudando a administração e trazendo para a entidade receitas perdidas. Não vamos parar só nelas. Já tem outras, que não estão no cargo de diretoras, mas são coordenadoras e gerentes. Temos, por exemplo, a Aline Pellegrino, que coordena competições, e não só as femininas, ela coordena todas as competições da CBF.

Quando assumiu, o senhor anunciou que faria um pente-fino nos contratos. Esse pente-fino já acabou? E o senhor citou recuperação de receitas, como que a CBF as perdia?

O pente é fino mesmo, e por isso não terminou. A gente quer ver tudo, todos os contratos. Ninguém está olhando para trás, estamos fazendo nosso trabalho. Notamos algumas situações, como contratos sem assinatura correta, sem alguma contraprestação bem definida. São situações das mais diversas. O que a gente conseguiu notar pelo trabalho do Jurídico, capitaneado pela Dra. Samantha, foi nesse sentido. Teve um contrato que a gente teve de romper por inadimplência, quando caberia um gerenciamento da diretoria financeira no que diz respeito às garantias, o que não foi dado. Houve uma inadimplência que chegou a um volume grande. Os clubes ficaram com contrato de patrocínio para as publicidades da Série B, que eram valores para 2022, 2023 e 2024, e representavam R$ 24 milhões. A CBF, com mais de dez rodadas de competição já em andamento, conseguiu trazer nestes mesmos três anos R$ 81 milhões aos clubes. Ou seja, foi o triplo. Isso é recuperação de receitas. Havia contratos de serviços que não eram prestados e que foram rompidos. Além disso, a gente não está mais pagando por aquilo que não tinha contrapartida. É uma despesa que a gente já não está tendo.

 

O senhor foi eleito praticamente por unanimidade, assim como todos os seus antecessores. E o senhor foi presidente da Federação Baiana de Futebol por 18 anos. Por que as eleições na CBF são todas por unanimidade? As federações têm medo da CBF?

Não. Eu não era CBF e fui eleito por unanimidade (nota: Ednaldo Rodrigues foi vice-presidente eleito da entidade durante o mandato de Rogério Caboclo e presidiu a CBF de forma interina antes de ser eleito) entre os que estavam presentes. Faltou a Federação Alagoana, que você sabe dos problemas, e um clube da Série B, que tinha mandado uma procuração que só chegou no dia da eleição, e precisava ter chegado 24 horas antes. Neste caso, com todos os clubes e federações, foi uma construção de trabalho. As anteriores (eu não sei), mas no meu teve uma disputa.

Mas uma disputa interna…

Não, foi uma disputa externa mesmo. Tanto que teve o Judiciário que se intrometeu, não reconhecendo uma decisão da própria Assembleia Geral quando foi ratificada a decisão da Comissão de Ética sobre a deposição do nosso antecessor. As 27 federações estaduais decidiram que continuaria (na presidência) quem estava interino. Isso estava no estatuto e houve quem tentasse mudar isso. Foi uma disputa externa, a ponto de a própria Fifa querer intervir na CBF. Então, não foi assim tão fácil. Houve uma disputa, e daquela ocasião até a data de registro de chapa, eram duas que iriam concorrer. E tem outra coisa, e não por vaidade ou prepotência: quando a CBF fez, no dia 7 de março, a reunião dentro daquilo que foi acordado com o Ministério Público, foi definida a data e baixou a exigência de oito para quatro clubes (subscreverem uma chapa). Isso era para dar condição para o concorrente registrar chapa, para ter oposição.

Hoje o senhor sente "forças externas" atuando no seu trabalho?

Não, não sinto. Quando a gente procurou dirigir o trabalho com os mais dignos e mais competentes, foi exatamente para não ter nenhuma interferência externa. Se fosse para isso eu continuaria lá na Bahia e meu projeto acabaria. Não faria sentido dar continuidade a um trabalho que não favorecia aos afiliados, não favorecia à Fifa, à Conmebol, a todos os envolvidos no ecossistema do futebol. A gente procurou fazer um trabalho sem nenhuma interferência, a não ser com diálogo com clubes, federações, imprensa, diretores, com toda a sociedade. Recentemente nós organizamos um seminário de combate ao racismo, que reuniu diversos segmentos e superou todas as expectativas da CBF. A CBF não fala pra ela, ela propõe medidas para o futebol e para a sociedade. O racismo não acontece só no futebol, ele acontece numa empresa aérea, numa emissora, em todos os lugares. Daquele seminário ficou um grupo de trabalho permanente. Por que isso não foi feito antes? Por que não acontecia de chamar a sociedade para debater essas questões? Porque as pessoas ficavam trancadas aqui dentro, com os objetivos só deles, sem querer dividir as questões que pudessem melhorar o futebol brasileiro com outros.

O senhor anunciou que irá propor aos clubes no próximo ano a perda de um ponto nos campeonatos em casos de racismo. Nos bastidores, alguns dirigentes se mostraram reticentes quanto a isso. O senhor acredita que a medida vai ser aprovada? E se não for, tem receio que isso passe uma mensagem ruim para o futebol?

O que eu estou fazendo é aquela história do beija-flor que queria apagar o incêndio na floresta. Eu estou fazendo a minha parte. O beija-flor chegou lá com uma gotinha de água no bico e jogou, mas será que ele iria apagar o incêndio da floresta inteira? Eu estou fazendo a minha parte, e é de coração. Faço sabendo que não vou cobrar de ninguém nem ficar inimigo de ninguém porque não pensa igual a mim. É no diálogo que as pessoas vão fortalecer suas ações. É uma proposta minha, da CBF, para que os clubes possam analisar. Muitos perguntam como ficaria a prova… Isso são questões que têm de ser tratadas a nível de STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), de órgãos como o Ministério Público Estadual e Federal. O que nós queremos é que isso não morra, que não fique só na punição pecuniária, porque é como se estivesse pagando para ser racista. Acho que tem de haver penas desportivas; o estatuto da Fifa tem previsão legal para isso, o estatuto da Conmebol tem previsão legal para isso, então que se aplique e que se busque não fazer injustiça. Se teve um torcedor infiltrado, todo mundo vai saber, porque num dia se vasculha tudo e se sabe se aquele torcedor é de outro clube. Quando um clube tira US$ 100 mil e coloca numa punição por conta de um torcedor fazer esse tipo de discriminação, ele paga, mas na outra semana o fato se repete novamente. Poderia haver a pena desportiva, e aquele dinheiro que ele deu para uma federação ou tribunal, aquilo ali fosse transformado em educação, de fazer um credenciamento dos torcedores, de colocar mais pessoas que pudessem gerenciar o torcedor dentro do estádio. Eu estou tranquilo se essa medida não for aprovada, mas a CBF também tem o Regulamento Geral de Competições. Os julgadores - seja Comissão de Ética, seja STJD, quem for - vai avaliar que o racismo é um crime violento, um crime bárbaro, e que julguem de acordo com isso.

Sobre datas, há espaço de fato para melhorar o calendário do futebol brasileiro? As competições vão parar nas datas Fifa? Mas parar mesmo, não adianta a seleção jogar na terça e já ter rodada na quarta-feira...

Calendário não é uma situação que passe apenas pela CBF; é preciso colocar todos os atores juntos e discutir de forma bem exaustiva. O calendário da CBF não saiu até agora porque a gente depende, primeiro, da Fifa; depois, da Conmebol. A gente verifica as datas deles e, com o que sobra, a CBF faz o dela. A Copa do Brasil tem os melhores prêmios do futebol, e da primeira fase até a última um clube arrecada mais de R$ 70 milhões. Um clube, para isso, vai ter (que jogar) 14 datas. E eu não vi até hoje um clube chegar para mim e falar 'olha, para eu ter um conforto e não jogar tanto, não quero participar da Copa do Brasil'. Eles assinam para jogar a Copa do Brasil. Para Libertadores, Sul-Americana, da mesma forma. Aí falam que o problema está nos Estaduais. Só que, para um clube chegar à Copa do Brasil, o acesso é pelos Estaduais. Se acabar os Estaduais, quem vai nortear? A gente reconhece que os Estaduais estão sendo longos, mas isso não é por causa de 27 federações. Já foi enxugado tanto, que se você verificar os Estaduais do Norte e do Nordeste, ficaram 12 ou 13 datas. Esse calendário, em relação a datas, tem impacto em cinco federações talvez. É melhor discutir com essas federações, e de forma gradativa ir diminuindo as datas, até por força de contratos que elas têm, principalmente com TV. Como você disse, data Fifa (tem que começar) pelo menos quatro dias antes de ter jogo, porque senão o jogador está envolvido mesmo. Para 2023, a gente entende que vai ser possível, mas em 2024 você tem Olimpíada e Copa América, então vai ficar difícil. A discussão tem que começar desde agora.

 

O senhor já reconheceu que a arbitragem brasileira passa por um momento delicado, com muitas críticas. Foi colocado o Wilson Seneme à frente da Comissão de Arbitragem e vocês falaram em "divisor de águas". Quando a arbitragem de fato vai melhorar?

O problema da arbitragem é em todo mundo. Aqui mais, porque eu acredito que - não querendo colocar culpa em ninguém -, quem colocou antes não fez um planejamento melhor da situação do treinamento, principalmente dos árbitros que operam VAR. Quiseram fazer de uma forma rápida, mas não deram uma condição melhor. É exatamente isso que o Seneme está procurando fazer, e dando a mão à palmatória. Ele assumiu dia 7 de abril, e a competição (Brasileirão) começava dois dias depois. Ele não teve tempo de fazer uma pré-temporada, uma intertemporada, coisa que ele já tem feito dentro da própria competição. Tem melhorado muito, mas a gente ainda não está na perfeição, não é o que a gente espera. Mas não é falta de trabalho. Da mesma forma que o Tite faz na seleção, que treina bem e procura orientar melhor os seus atletas, mas às vezes não sai da forma que ele quer, é a mesma coisa o Seneme na Comissão de Arbitragem. Ele é uma pessoa séria, que melhorou muito a arbitragem sul-americana quando foi para a Conmebol. É tão competente que ainda faz parte da Comissão de Arbitragem da Fifa. Sempre vai haver discussão sobre arbitragem, mas tenho certeza que vão diminuir muito os equívocos.

Historicamente, a CBF sempre foi contra uma liga de clubes. O senhor assumiu e afirmou que os clubes podem organizar uma liga. Por que essa mudança de pensamento? E o senhor acredita que eles, de fato, vão conseguir? Já há meio que um racha…

A mudança de pensamento não foi minha, pode ser de quem conduzia a entidade. Quando ainda presidente da Federação Baiana de Futebol, a gente criou uma liga lá, regional, do Nordeste. Os problemas melhoraram, e os problemas todos que eu vinha tendo com a CBF foi justamente quando acabaram a Copa do Nordeste - eu assumi a federação baiana em 2001, e em 2002, de uma forma sumária terminaram a Copa do Nordeste. Eu entendia que havia mais receita para os clubes, sem contar a questão técnica. Muitos clubes subiam num ano, mas rebaixavam no outro, porque não jogavam entre forças mais fortes do que nos Estaduais. Para mim, sempre achei que poderia haver uma liga. Está previsto no estatuto da CBF, no da Fifa, no da Conmebol. É a pessoa confiar. Eu não tenho nenhuma vaidade de falar 'sou o presidente da CBF', colocando isto aqui como se fosse o presidente da República. 'Ah, vai perder poder.' Poder de quê? A gente está conversando com os clubes e tentando melhorar o futebol brasileiro, com mais receitas aos clubes e fomentando o futebol. Não vejo poder… Um gabinete deste tamanho aqui, que dá pra fazer umas cinco federações… Isto aqui é aberto para todo mundo, para federações, clubes, vocês da imprensa, torcedores, desde que tenha qualquer sugestão para melhorar o futebol. Quem está discutindo a liga, a receita que pode trazer, não vai ser só para a Série A ou B, vai ser para todo o ecossistema do futebol. Vai melhorar para as federações, porque tem clubes nas Séries C e D que não têm uma liga. Vai ser melhor. Antes pregavam terrorismo e diziam para as federações 'no dia que tiver uma liga, acabou tudo'. Não havia proximidade entre federações e clubes. Hoje, já acontece, é aberto. A gente vem acompanhando essas questões da liga, não é tão fácil quando há vários pensamentos diferentes. Mas é diálogo, e eles têm tempo. A CBF não está colocando nenhuma pressa. Pra que fazer às pressas e com um ano não dar certo? Nessa situação, a bola está com eles (clubes).

As casas de apostas estão disseminadas entre os clubes. Se não me engano, 18 dos 20 da Série A têm algum patrocínio, na Série B há estádios com publicidades de mais de uma. Há uma discussão ética muito forte quanto a isso, e há torcedores em redes sociais levantando suspeitas de manipulação de resultados. Como o senhor vê essa invasão de casas de apostas no futebol brasileiro?

Olha, o que não é proibido, é permitido. Não existe, que eu saiba, nenhuma proibição de as casas de apostas estarem no futebol. Existe um projeto, já aprovado na Câmara dos Deputados e que já foi o texto final ao Senado, para regulamentar essas questões de casas de apostas. No dia em que esteve aqui o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), ele falou que logo depois que passar as eleições ele vai reunir para que se tenha um relator e se sacramente o que foi definido na Câmara dos Deputados. A gente vai aguardar essa definição, e ali vamos saber como nos comportar. Acho que vai haver várias exigências com relação a essa proliferação de casas de apostas. A CBF vai seguir o que a lei determina.

Hoje o senhor não se preocupa com isso?

Preocupar, a CBF se preocupa com tudo. Tudo que envolve futebol a CBF se preocupa. Ela tem parceria com empresas grandes, a própria que faz com a Fifa, para acompanhar todas as competições com relação à manipulação de resultados. A empresa monitora todas as partidas nacionais, e isso a CBF estendeu também às federações. Quando tem algum jogo suspeito, a empresa entra em contato para analisar.

Estamos a cerca de dois meses da Copa do Mundo. O senhor foi vice na gestão passada, é presidente agora. Considera que o trabalho na seleção foi bem feito? Não apenas no campo, mas do ponto de vista do suporte da CBF?

Sim. Eu tive a oportunidade de acompanhar a seleção brasileira logo que o Tite assumiu, naquele ciclo anterior à Copa da Rússia. Vi que é um trabalho bem organizado, competente. Nesse período agora, também vi que é um trabalho voltado ao melhor da seleção brasileira.

A seleção está há 20 anos sem um título de Copa do Mundo. Um novo insucesso no Catar será considerado um fracasso para a CBF?

Não, não seria um fracasso. É um trabalho com muita organização, com muito desprendimento, sempre buscando o melhor. E, além do Brasil, há muitas seleções fazendo a mesma coisa. O que se decidir não será em função de um trabalho completo, mas talvez em um detalhe, em uma partida por questão de reposição de atleta ou de alguma falha individual. Esperamos que isso não aconteça, mas não seria um fracasso. O trabalho que a gente tem visto está sendo muito bem feito e com seriedade.

Há uns meses, a imprensa espanhola noticiou um suposto interesse da CBF no Pep Guardiola. O senhor desmentiu ainda àquela época. Mas um profissional com o perfil do Guardiola interessaria para a sucessão do Tite?

Vou repetir o que tenho falado para todos, até para depois não falarem que eu disse uma coisa e agora é outra: todos esses assuntos com relação a treinadores para a seleção brasileira eu só posso falar depois que acontecer a Copa. Nosso foco é totalmente voltado para que a CBF consiga trazer o hexacampeonato, através dos atletas e da comissão técnica. A CBF tem feito todo o empenho e colocado tudo à disposição quando solicitado. Nosso foco está todo nesse sentido. A gente só vai falar nesse assunto no pós-Copa.

Então a CBF não pensa num sucessor neste momento?

A gente só vai tratar desse assunto depois que terminar a Copa do Mundo. No momento a gente não tem pensado nisso. Não há um único detalhe.

A seleção brasileira tem que jogar bonito ou tem que ganhar?

Numa competição dessas, com menos de 30 dias de competição, é o regulamento que vai decidir. Vai jogar bonito sempre que possível, mas vai jogar para ganhar as partidas. Para ser campeão tem que passar de fase, da primeira, depois da segunda, da terceira, até a final. Nunca vi um clube ser campeão, ou uma seleção ser campeã, jogando com muita regularidade, ou eminentemente com brilho - com exceção da seleção de 1970, que jogou bonito, empolgou o mundo e foi campeã.

Por muitos anos, técnico estrangeiro foi assunto vetado na CBF. O senhor tem alguma ressalva a treinador estrangeiro na seleção brasileira?

Sou desprovido de qualquer preconceito. Não tenho nenhum compromisso que seja técnico estrangeiro, como também não tenho nenhum compromisso que seja brasileiro. Não tenho preconceito com nacionalidade de treinador.

Nos últimos anos, por força de contrato com a Pitch, a seleção praticamente só jogou fora do Brasil. Os jogos em casa foram pelas Eliminatórias e Copa América. O senhor pretende mudar isso?

Pretendemos, sim. Não que sejam todos os jogos apenas em solo brasileiro, mas que não sejam todos. Nem tão poucos, nem só fora do Brasil. A gente precisa encontrar um meio termo, para que a seleção possa estar dentro do seu País. E isso não é só uma vontade do presidente, mas também uma vontade dos atletas e da comissão técnica. Muitas vezes ela quis fazer aqui e não foi possível.

Da mesma forma, quando os jogos são aqui, em geral eles são disputados sempre nas mesmas praças. O senhor pretende, ou pelo menos gostaria, de levar a seleção para estados que há muito tempo não recebem esses jogos?

Olha, desde que ele tenha um estádio e toda a infraestrutura que corresponda a um jogo da seleção brasileira. Isso envolve muita logística, um gramado perfeito, uma iluminação perfeita por conta das transmissões que são exigidas, que tenha um aeroporto internacional, que tenha acesso tranquilo às praças de jogo. Tudo isso se leva em consideração.

O contrato com a Nike será renovado?

Ele ainda está em vigor e vai até 2026. O que nós pretendemos é conversar e estreitar laços de profundidade com a Nike. Nesse período todo, em que passamos por muita turbulência, eu não sei se a Nike conheceu algum presidente. Se conheceu, eu não sei o que foi tratado. A gente pretende é chegar lá e dizer 'olha, estamos aqui, com tudo o que a Nike exigiu em contrato, com todas as cláusulas anticorrupção, e todas aquelas que a CBF tem'. O que a gente quer é que essa relação seja saudável, que seja importante para ambos, que tenha melhorias no contrato, e que seja uma relação de cordialidade e de parceiros.

Sobre o futebol feminino: o senhor está satisfeito com o trabalho da Pia?

Estamos satisfeitos. Ela tem procurado fazer um trabalho de renovar a seleção, o que não é tão fácil. Ela não teve uma estrutura com competições longas e mais atletas sendo observadas; ficou um universo muito pequeno a ser observado. Alguns campeonatos não têm visibilidade, e há muitas atletas que podem ser vistas. Com isso, a gente espera que o trabalho da Pia possa ser até melhor avaliado por parte de vocês da imprensa. A CBF pretende, em 2023, expandir o fomento do futebol feminino, colocando competições regionais, com Sub-17, Sub-20, e com isso ter um ponto de observação bem mais abrangente.

Domingo tivemos a primeira final do Brasileirão Feminino, com mais de 36 mil torcedores no Beira-Rio, e deverá haver um público ainda maior no próximo final de semana. A torcida demonstrou que gosta do futebol feminino. Por que, na avaliação do senhor, ele ficou tanto tempo relegado a segundo ou terceiro plano na CBF?

Não foi para a CBF, e falo isso até para ser justo com os que aqui passaram. Isso vem muito de uma cultura - hoje nem tanto, porque os clubes estão se rendendo a isso -, de achar que o futebol feminino só era trabalho e só tinha custos. É uma cultura que ainda não está dissipada. A gente verifica que, se não fosse (obrigatório) para jogar a Série A ter um time feminino, acho que ficariam dez. Imagina na B, na C e na D. A CBF praticamente foi impondo essa obrigação de ter futebol feminino, e nós vamos ser ainda mais rigorosos com relação a isso. Por exemplo, uma federação que tenha parceria com a CBF de fomento ao futebol, ela vai ter que ter uma obrigação de colocar uma competição feminina de Sub-17 e Sub-20.

Essa imposição virá logo?

Bom, primeiro que a gente não gosta de colocar goela abaixo. Vamos dialogar, mostrar a importância do futebol feminino para o mundo e o potencial que nós temos. Temos muitas atletas craques, como no masculino, que estão ficando à margem de uma convocação, um melhor trabalho, porque precisam de fomento. A CBF quer bancar competições, mas é preciso fazer as federações convencerem os clubes.

Estadão
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