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Os seis meses de Ronaldinho Gaúcho no Paraguai, da prisão à condenação e soltura

'Estadão' mostra em seis capítulos, passo a passo, como foi o período em que o ex-jogador esteve preso em Assunção. Este é o Capítulo 1

1 set 2020 - 18h06
(atualizado às 21h22)
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Seis meses em seis capítulos. O Estadão conta a partir desta terça-feira, passo a passo, os principais fatos em detalhes do período em que Ronaldinho Gaúcho e seu irmão Assis ficaram presos no Paraguai acusados de usar passaportes falsos para entrar no país. Ambos foram detidos no dia 6 de março e só deixaram o Paraguai no último dia 25 de agosto. Quando os dois foram presos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não havia declarado a pandemia de covid-19. Depois, com as fronteiras fechadas, Ronaldinho e o irmão ficaram isolados, sem receber visita de familiares e sofreram várias derrotas na Justiça até que conseguissem o direito de voltar ao Brasil. Eles foram condenados, mas ganharam liberdade após pagar fiança.

Neste primeiro capítulo, o Estadão mostra como ocorreu a prisão quase que cinematográfica dos brasileiros em Assunção e os primeiros dias de Ronaldinho e o irmão em um presídio de segurança máxima.

CAPÍTULO 1

O drama de um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro começa exatamente às 9h15 da manhã do dia 4 de março, quando Ronaldinho apresenta às autoridades de controle migratório do Aeroporto Silvio Pettirossi, em Luque, no Paraguai, o passaporte n° Q568928 no qual consta que ele é cidadão brasileiro naturalizado paraguaio. O clima era de festa. Muitos fãs foram até o aeroporto para reverenciar Ronaldinho, que chegava ao país para participar do lançamento de um projeto da Fundação Fraternidade Angelical, da inauguração de um cassino e também para promover a sua biografia, Gênio da vida.

O clima festivo, no entanto, cai por terra no mesmo dia, à noite, quando promotores e fiscais do Ministério do Interior vão ao hotel onde Ronaldinho estava hospedado para analisar detalhadamente os documentos do ex-jogador e de seu irmão. Descobre-se, então, que eram passaportes fraudulentos (originais, mas com conteúdo falso). O documento de Ronaldinho havia sido emitido cerca de dois meses antes em nome de María Isabel Gayoso.

Chegou a se considerar que tudo não havia passado de um mal-entendido. Mas a história mudou dois dias depois, quando a Justiça decretou a prisão de ambos. A suspeita do MP era de que Ronaldinho Gaúcho e Assis faziam parte de um amplo esquema de falsificação e lavagem de dinheiro, com a participação de funcionários públicos e políticos.

Já era quase fim de noite quando os policiais entraram em uma das suítes de um dos hotéis mais luxuosos de Assunção para levar os brasileiros à Agrupación Especializada, um quartel da Polícia Nacional adaptado em presídio. No dia seguinte, um sábado, rodou o mundo a imagem de Ronaldinho chegando para prestar depoimento à Justiça algemado, cobrindo os braços com um pano rosa.

Na Agrupación, o ex-jogador e seu irmão passaram a dividir uma cela de 18 m². O local era equipado com duas camas, televisão, geladeira e um ar-condicionado instalado após a chegada da dupla. O banheiro, no entanto, era fora da sala e de uso coletivo. Como a temperatura na capital paraguaia batia os 40ºC em março, Ronaldinho e Assis passavam o dia de bermuda, camiseta, chinelos e cheios de repelente de mosquito por todo o corpo. O presídio fica em uma região arborizada, próxima do Rio Paraguai, e havia muitos insetos naquela época do ano.

Nos primeiros dias de cárcere, Ronaldinho se recusava a comer a mesma refeição servida aos outros quase 200 detentos e só se alimentava com a comida de restaurantes levada pelos seus advogados. Depois, no entanto, passou a ir com frequência ao refeitório da cadeia e até participava de partidas de futebol e futevôlei na cadeia. Em um dos jogos, atuou no time de Fernando Gonzalez Karjallo, ex-dirigente do Sportivo Luqueño preso por lavagem de dinheiro. A equipe de Ronaldinho venceu por 11 a 2, com cinco gols e seis assistências do brasileiro. Na comemoração, o ex-jogador não se furtou em posar sorridente para fotos com os companheiros de cárcere.

Antes de o governo paraguaio ter implantado a quarentena no presídio, com proibição de vistas numa tentativa de evitar a disseminação do coronavírus, era comum Ronaldinho Gaúcho receber colegas que conquistou no futebol. Um deles foi o ex-zagueiro Gamarra. Outro foi o jogador paraguaio de futevôlei Fernandito Lugo. Ele conheceu Ronaldinho em um torneio disputado no Rio e foi prestar solidariedade ao brasileiro. "Ronaldinho parece bem. Está em um lugar bem equipado, não lhe falta nada. Ele é uma boa pessoa", disse Lugo, à época, ao Estadão.

Com a proibição de visitas, o horário das atividades recreativas e esportivas foi ampliado. Ronaldinho e os demais presos podiam se exercitar ao ar livre duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, e o brasileiro passou a ser ainda mais requisitado. Ao Estadão, o comissário Blas Vera, chefe da Agrupación, contou que os outros detentos costumavam bater na porta da cela para buscá-lo para jogar futebol. Começaram a circular nas redes sociais, cada vez com mais frequência, fotos e vídeos do brasileiro praticando esportes na cadeia.

Ronaldinho joga futebol com outros presos
Ronaldinho joga futebol com outros presos
Foto: Twitter / Reprodução / Estadão

No campo jurídico, no entanto, Ronaldinho não enfrentava um bom momento. Foram negados dois recursos apresentados pelos seus advogados de transferência para prisão domiciliar. Nem mesmo a alegação de que o seu irmão tinha problemas no coração e, por isso, precisava de cuidados médicos especiais convenceu os juízes.

Seu consolo era que, por não ser uma cadeia comum, e sim um quartel transformado em presídio de segurança máxima, era permitida a entrada de aparelhos celulares na Agrupación Especializada. Dessa maneira, Ronaldinho e o irmão mantinham contato com familiares no Brasil, inclusive por videochamadas.

SEGUNDO CAPÍTULO

Nesta quarta-feira, o Estadão mostrará como, no mês de abril, Ronaldinho e o irmão, enfim, tiveram uma boa notícia e convenceram as autoridades paraguaias a permitirem que ambos fossem transferidos da cadeia para um hotel no centro de Assunção a fim de cumprir prisão domiciliar.

Estadão
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