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Rússia

Símbolos de uma era, 'sete irmãs de Stalin' ostentam poder

Conjunto de prédios foi construído para comemorar a vitória soviética sobre a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra

8 jul 2018 - 05h12
(atualizado às 05h12)
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O turista Antonio Celso Petronio ficou com uma sensação de déjà vu diante do prédio da Universidade Estatal de Moscou, um dos mais imponentes da capital russa. Ele tinha certeza de que já tinha visto aquele prédio. Não se enganou. Ele realmente viu um prédio idêntico em outra região. Moscou tem sete prédios muito parecidos, igualmente monumentais, chamados poeticamente "as sete irmãs de Stalin".

Os prédios foram construídos durante o governo de Josef Stalin, entre 1947 e 1953, para comemorar a vitória sobre a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e também os 800 anos da capital russa. São monumentos de poder e ostentação para impressionar o mundo. Vistas do alto, elas simbolizam as sete pontas da estrela da vitória, símbolo do orgulho soviético.

Com as principais metas de habitação básica já cumpridas, Stalin autorizou o refinamento da arquitetura. Era o classicismo soviético ou arquitetura stalinista, estilo que deu a cara de várias cidades socialistas da época. Os sete prédios não são idênticos, mas seguem a mesma linha aristocrática, com estrutura em cascata, como um bolo de muitas camadas. Tudo é grandioso, imponente e solene.

O Estado percorreu os sete endereços, que apresentam funções distintas atualmente. Eléna Vladímirovna Sávina estava no prédio residencial da Kudrinskaya. Seu pai, que era engenheiro, ganhou o apartamento em 1954 como presente do governo por sua dedicação na construção do local. Ela conta que os amigos ficaram abismados porque era um apartamento de luxo dado a um simples construtor. "As pessoas trabalhavam pelo bem da União Soviética e não pensavam apenas nas carreiras. Foi uma recompensa para o meu pai", explica.

Naquela época, o prédio tinha ascensorista, madeira vermelha nos elevadores e vitrais projetados pelo mesmo artista que trabalhara no metrô de Moscou. Um palácio, na visão de Eléna, menina na época. Havia até um bunker. O prédio de 24 andares tinha ainda cinema e quatro supermercados (hoje, restaurantes). Era o endereço de atores de cinema e militares de alta patente da aeronáutica.

Quase 80 anos depois, ela admite que o local precisa de reforma. Uma visita rápida a alguns andares denuncia cheiro de mofo, teias de aranha e umidade. Paredes descascadas clamam por nova pintura. "Restam poucos moradores daquela época", diz.

REFERÊNCIAS

Não é difícil achar as "sete irmãs". Elas estão por toda a parte, são referências ao invadir a paisagem urbana. Onipresentes, essa é a palavra.

O maior desses edifícios é o da Universidade de Moscou, aquele admirado pelo turista brasileiro. É a maior de todas e a queridinha das irmãs. Por muitos anos, foi o maior edifício da Europa, com 240 metros.

O prédio mais antigo (Kotelnicheskaya) se tornou residencial, mas abriga um museu com as memórias do apartamento onde morou Galina Ulanova, uma das maiores bailarinas russas do século 20.

Existem dois hotéis na lista: Radisson Royal, com vista para o Rio Moscou, e o Leningradskaya, construído para ser o hotel mais luxuoso de Moscou. A sede do Ministério de Assuntos Estrangeiros tem 172 metros distribuídos em 27 andares, mas não permite que a imprensa estrangeira passe da porta. O prédio de escritórios de Krasnye Vorota, construído simultaneamente à estação de metrô de mesmo nome, pede que a solicitação seja feita com cinco dias de antecedência.

Na era soviética, eles foram utilizados como apartamentos comunais (Kommunalka) nos quais as famílias tinham cômodos privados, mas compartilhavam banheiro e cozinha. Nas décadas seguintes, viraram locais de luxo, exclusivo para as elites, como contou Elena.

Os prédios perderam prestígio com a morte de Stalin. Depois, ficaram estigmatizados quando seu sucessor, Nikita Kruchev, secretário-geral do Partido Comunista entre 1953 e 1964 e líder até ser afastado do poder por sua perspectiva reformista, denunciou os excessos do ditador, que teria ordenado a morte de 4 milhões de pessoas. Pesquisadores afirmam que o número pode chegar a 20 milhões.

Estadão
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