Cobreloa e Cobresal: "mineiros" vivem extremos no Chile
O cobre é o principal produto da economia do Chile. No futebol, a indústria do setor financiou por muitos anos duas agremiações nascidas em acampamentos mineiros: o Cobreloa e o Cobresal. Com a crise econômica do minério, as equipes sofreram uma grande diminuição de investimentos. Atualmente, os clubes vivem momentos distintos no futebol do país que sedia a Copa América de 2015.
Ligadas à estatal chilena Codelco (Corporación Nacional del Cobre), as equipes do norte do país sul-americano sofreram um choque no final de 2014, quando a empresa anunciou que iria diminuir o recurso aos clubes, muito por conta da crise que o setor sofreu pela diminuição da exportação do produto para a China, principal comprador.
O Cobreloa era o maior beneficiado, recebendo 563 milhões de pesos chilenos (aproximadamente R$ 2,8 milhões), enquanto o Cobresal ganhava o montante de 454 milhões (cerca de R$ 2,3 milhões). Agora, a Codelco aplicará os recursos conforme as equipes apresentem projetos interessantes, que sejam auditados, além de ter que respeitar os preços do mercado.Em comunicado oficial, a Codelco justificou ter desenvolvido um papel de articulação e impulsão para a criação dos clubes, em um contexto onde os trabalhadores e a comunidade careciam de uma oferta de atividades esportivas e de eventos públicos familiares.
Octa chileno e vice da Libertadores, Cobreloa é rebaixado pela primeira vez na históriaFundado em 1977 na cidade de Calama, perto do acampamento de Chuquicamata, o Cobreloa surpreendeu a América do Sul ao chegar à decisão da Copa Libertadores em duas oportunidades, nos anos de 1981 e 1982 (na primeira, perdeu para o Flamengo de Zico apenas na partida de desempate).
Nacionalmente, o Cobreloa foi ainda mais bem sucedido. Berço de Alexis Sánchez, o elenco de Calama faturou oito títulos do Campeonato Chileno, sendo o quarto clube com mais taças da competição na história. Com o time mais temido fora da capital Santiago, a agremiação era a única a encarar de igual para igual o trio capitalino formado por Colo-Colo, Universidad de Chile e Universidad Católica.
Até o começo deste ano, o Cobreloa era ao lado do Colo-Colo o único time que nunca havia sido rebaixado para a Segunda Divisão. Só que na última temporada a equipe da região norte terminou com a 17ª pior média de pontos, caindo para o acesso chileno pela primeira vez em sua história.
O fato revoltou os torcedores, que foram às ruas protestar contra rebaixamento. O goleiro do time, Luciano Palos, comparou a ida do elenco de Calama à Segunda Divisão com o descenso do River Plate na Argentina.
Capacidade do estádio do atual campeão é maior que população própria sedeO Cobresal é um caso raro no futebol mundial. Fundado em 1979, tendo revelado o atacante Iván Zamorano e considerando Franklin Lobos, um dos 33 mineiros soterrados em 2010, como um de seus ídolos, a equipe manda seus jogos no Estádio El Cobre, com capacidade para 20 mil espectadores. Já o acampamento de El Salvador, sede da equipe, tem cerca de 7 mil habitantes. Como consequência, o time sempre registra as piores médias de público do Campeonato Chileno.
O elenco de El Salvador soube lidar com a crise do cobre e conquistou o seu primeiro título chileno na última temporada, mesmo não tendo um grande apoio financeiro. O clube mineiro levantou a taça do Clausura 2015 ao superar a Universidad Católica na briga pelo topo da tabela.
A conquista também serviu de alento ao norte do país. Pouco antes da conquista do título, a Região do Atacama, onde fica localizado o acampamento de El Salvador, foi castigada pelas fortes chuvas, deixando milhares de pessoas desabrigadas. Por causa das tempestades e alagamentos, o Cobresal teve que mandar alguns jogos na capital chilena.
Atual campeão nacional, o Cobresal ainda sofre com a ameaça de ver El Salvador ser fechado. Pelos altos custos e baixa produtividade, o acampamento poderá ter suas atividades encerradas em 2021. Apesar disso, a agremiação segue na busca dos melhores resultados, esperando uma solução para o futuro.