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Federações veem Rogério Caboclo a um passo de voltar à CBF

Dirigente foi afastado após acusação de assédio sexual e moral, o que foi descaracterizado pela Comissão de Ética da entidade

25 ago 2021 - 11h55
(atualizado às 12h42)
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No jogo de xadrez é preciso conhecer o movimento das peças para derrotar o oponente. No tabuleiro da CBF, qualquer semelhança não é mera coincidência. Se dias atrás a maioria das federações estaduais de futebol achava-se disposta a excluir da confederação o presidente Rogério Caboclo, afastado do cargo em junho por denúncia de assédio sexual e moral contra uma funcionária da casa, tudo mudou nessa terça-feira (24). O dirigente conta agora com o apoio de mais de 60% dessas entidades para retornar ao posto.

A reportagem do Terra acompanhou a movimentação de presidentes de federações até a madrugada desta quarta, no restaurante do Hotel Windsor Marapendi, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e conversou com vários deles, hospedados ali.

Rogério Caboclo deve voltar à presidência da CBF, preveem seus auxiliares (Foto: Divulgação/Leandro Lopes)
Rogério Caboclo deve voltar à presidência da CBF, preveem seus auxiliares (Foto: Divulgação/Leandro Lopes)
Foto: Gazeta Esportiva

Se antes havia um ambiente movediço para Caboclo, um erro estratégico do adversário lhe deixou com a oportunidade de aplicar o xeque-mate. Some-se a isso o fato de a Comissão de Ética da CBF ter descaracterizado a denúncia de assédio.

Seu destino na CBF será conhecido em Assembleia Geral, que deverá ser realizada na semana que vem. Nesse colegiado somente as 27 federações têm direito a voto. Diante da sentença da Comissão de Ética, que propôs 15 meses de afastamento do presidente por conduta inapropriada, muitos “chefes” de federações enxergaram uma manobra do grupo de Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF banido da Fifa por escândalos de corrupção, para deixar no poder o coronel Antônio Nunes – vice-presidente que ocupava até a manhã desta quarta interinamente o lugar de Caboclo e foi substituído por outro vice, Ednaldo Rodrigues.

Para que a indicação da Comissão de Ética seja levada a cabo são necessários os votos de 21 dessas federações. Ou seja, Caboclo precisaria de apenas sete deles para se ver livre da punição. Até às 2h30 de hoje, esse número já parecia mais do que dobrado

Um dos oito vices da entidade, Antônio Nunes é uma figura decorativa na CBF. Segue rigorosamente às determinações de Del Nero. Sua “substituição” nesta quarta, em decisão conjunta dos vices, soou como uma jogada de última hora de Del Nero, a fim de acalmar seus partidários.

Ao longo dos últimos meses, Del Nero criou em sua cobertura da Barra da Tijuca uma espécie de gabinete paralelo da entidade, chamado por alguns dos auxiliares de Caboclo de “gabinete do ódio”. Ali o ex-presidente banido reúne diretores e vices da CBF, além de presidentes de federações, pelo menos uma vez por semana para um carteado que vale como pano de fundo para a elaboração de roteiros que interferem no dia a dia da CBF.

Del Nero é o dono do baralho e sua carta preferida não é nenhum numeral, tampouco o ás, o valete e a dama. Seus súditos costumam abaixar a cabeça a tudo que diz.

Como o objetivo de Del Nero é tirar Caboclo da CBF - muito antes da denúncia de assédio os dois romperam relações, a partir do corte de regalias que estavam à disposição do ex-presidente punido pela Fifa -, havia em seu grupo a expectativa de que a Comissão de Ética propusesse o afastamento definitivo de Caboclo.

Essa hipótese foi alimentada por vários dias pelo próprio Del Nero e pelo diretor jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes, que internamente se vangloriavam de ter ingerência sobre os membros da comissão. Dessa forma, abriria-se um novo processo, no qual um dos oito vices teria de ser eleito para completar o atual mandato, até abril de 2023.

Isso aguçou alguns dos vices, como Gustavo Feijó, de Alagoas, Castellar Guimarães, de Minas Gerais, Fernando Sarney, do Maranhão, e até Francisco Novelletto, do Rio Grande do Sul, que esperavam contar com o apoio de Del Nero para uma eventual eleição. Feijó, por exemplo, já se comportava ultimamente como futuro presidente da CBF. Aproveitava-se do vácuo na presidência para dar ordens em vários departamentos da confederação, indispondo-se com diretores e funcionários da casa.

Ao tomarem conhecimento de que a Comissão de Ética defenderia o afastamento de Caboclo por 15 meses, portanto, não o banindo da CBF, e que a acusação de assédio sexual e moral não tinha sustentação jurídica, houve uma reviravolta no rumo de vices e de várias federações.

Perceberam que a suspensão de Caboclo por 15 meses, caso referendada em assembleia, resultaria na manutenção do coronel Nunes na presidência interina até a volta do titular, em setembro de 2022. Ou seja, detectaram que havia uma possível manobra de Del Nero e Carlos Eugênio por trás disso tudo - para tentar debelar o incêndio.

Essa interpretação provocou um embate entre o presidente da Federação de Futebol do Mato Grosso do Sul, Francisco Cezário, e Carlos Eugênio Lopes, na sede da CBF na tarde-noite dessa terça. O dirigente estadual chamou Lopes de incompetente. No mesmo local, Feijó, inconformado com a inviabilidade de sua candidatura à presidência da CBF, quase chegou às vias de fato com o presidente da Federação de Futebol de Pernambuco, Evandro Carvalho, que criticara sua posição.

O clima ficou muito tenso e aliados de Del Nero se voltaram contra ele. Houve, entre esses que se queixavam no restaurante, quem o chamasse de traidor. Um deles, que pediu anonimato, reagiu assim a uma pergunta do Terra:

- Parece que o grupo de Del Nero deu um tiro no pé, não?

- Nada disso. Foi um tiro na cabeça.

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