Famílias de vítimas de incêndio Ninho do Urubu criticam absolvição dos réus: 'Falha grave'
Associação que representa familiares pediu apoio de torcedores para que paixão pelo clube "se traduza também em compromisso com a vida"
Famílias das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu criticaram a absolvição dos réus, classificando a decisão como "falha grave" e reforçando o sentimento de impunidade, além de cobrar maior compromisso com segurança e justiça preventiva.
As famílias dos 10 garotos mortos no incêndio do Centro de Treinamento do Flamengo repudiaram a decisão da Justiça do Rio de Janeiro de absolver os sete réus do caso e manifestou "profundo e irrevogável protesto" com a sentença proferida pela 36ª Vara Criminal. Elas classificam a decisão judicial como uma "falha grave" e pediram apoio dos torcedores do Rubro Negro, para que a paixão pelo clube "se traduza também em compromisso com a vida".
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Em nota oficial, a Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) relembrou que as vítimas eram "adolescentes em formação, atletas da base, que dormiam em contêineres improvisados, sem alvará adequado, com indícios de falha elétrica, grades de janelas que dificultavam a saída, entre outras condições de insegurança".
"A absolvição dos acusados, sob o argumento de que não se conseguiu individualizar condutas técnicas ou provar nexo causal penalmente relevante, renova em nós o sentimento de impunidade e fragiliza o mecanismo de proteção à vida e à segurança dos menores em entidades esportivas, formativas ou assistenciais no país", segue o texto.
O juízo da 36ª Vara Criminal da Capital absolveu, nesta terça-feira, 21, os últimos réus no processo criminal que apura as responsabilidades pelo incêndio ocorrido no Ninho do Urubu, do Flamengo.
O incêndio ocorreu em 8 de fevereiro de 2019 no Centro de Treinamento George Helal e deixou dez mortos e três feridos entre atletas das categorias de base.
Para a Justiça do Rio, não houve "provas suficientes de que os acusados tivessem concorrido de forma direta para a ocorrência do incêndio". A decisão, do juiz Tiago Fernandes Barros, destaca "que não se pode responsabilizar criminalmente alguém apenas em razão do cargo que ocupava, sem comprovação efetiva de ação ou omissão determinante para o resultado".
Foram absolvidos os réus Antônio Márcio Mongelli Garotti (diretor financeiro do Flamengo entre 2017 e 2020), Marcelo Maia de Sá (diretor adjunto de patrimônio), Edson Colman da Silva (sócio da Colman Refrigeração, que realizava manutenção nos aparelhos de ar condicionado), Cláudia Pereira Rodrigues (responsável pela assinatura dos contratos da empresa de contêineres, NHJ), Danilo da Silva Duarte, Fábio Hilário da Silva e Weslley Gimenes (engenheiros responsáveis pelas partes técnicas dos containers).
A punibilidade de Eduardo Carvalho Bandeira de Mello, então presidente do clube, foi extinta em razão do tempo transcorrido. Parte dos demais denunciados já havia sido excluída do processo em fases anteriores.
"Entendemos que o papel da Justiça não se limita à aplicação da lei em casos individuais, mas exerce uma função pedagógica essencial na prevenção de novos episódios semelhantes, no envio de mensagem clara à sociedade de que negligências de segurança, falhas na estrutura técnica e irresponsabilidades não serão toleradas — e não cumprir essa função configura, para nós, grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade", segue a nota da Afavinu.
A associação afirma que seguirá "em busca de Justiça" e tem esperança de que a decisão seja revista, "para que a morte destes adolescentes não seja em vão, seguiremos exigindo dos órgãos de fiscalização (municipal e estadual) e do poder público em geral — inclusive esporte, juventude e fiscalização de edificações — a implementação de medidas concretas para tornar obrigatórias auditorias frequentes e manutenção preventiva em alojamentos de atletas, jovens/menores em todos os clubes do país".