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Especialista defende projetos socioeducativos para torcidas

14 jul 2017 - 15h01
(atualizado às 15h02)
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Os casos mais recentes de violência envolvendo torcedores de futebol, que provocaram a morte de um palmeirense e de um vascaíno nos últimos dias, expõem novamente uma situação fora do controle das autoridades. Muitas dessas ações que terminam em tragédia poderiam ser evitadas se o País adotasse medidas de prevenção, como já ocorre em alguns países da Europa. Nesse sentido, a atual campeã mundial Alemanha também se destaca.

Foto: ALE VIANNA/Agência Eleven/Gazeta Press

As informações são da professora titular de Sociologia do Esporte da Unicamp, Heloísa Reis, referência no Brasil sobre o assunto. Ela enfatiza a necessidade da criação de projetos socioeducativos voltados para jovens apaixonados por futebol como uma forma de atenuar o problema.

Na Alemanha, isso já é feito desde 1983. Em cada cidade de centros importantes de futebol se montam casas com dinheiro público e da federação e liga nacional. São contratados assistentes sociais que trabalham com os torcedores, com uma série de atividades, palestras, workshops, incluindo até produções artísticas.

Atacado por golpes de facão (aqui apresentados em delegacia de São Paulo), torcedor palmeirense foi morto em briga após o clássico Palmeiras x Corinthians, no último domingo, na capital paulista.
Atacado por golpes de facão (aqui apresentados em delegacia de São Paulo), torcedor palmeirense foi morto em briga após o clássico Palmeiras x Corinthians, no último domingo, na capital paulista.
Foto: Edu Silva/Futura Press

“São atendidos jovens de 14 a 24 anos e muitos deles passam a orientar pouco tempo depois outros torcedores do mesmo clube para que não cometam atos de violência. Em 1993, o ‘Fan Projekt’ foi abraçado pelo governo local e o resultado disso é muito expressivo. “Não houve, por exemplo, o surgimento naquele país de novos hooligans”, contou ela, em entrevista ao Terra.

A professora apresentou um projeto similar há sete anos ao Ministério do Esporte, que seria feito com torcedores dos quatro grandes clubes de São Paulo e envolveria uma parceria do governo federal com universidades públicas. Mas a iniciativa não foi adiante.

“Na Alemanha, todos os clubes das duas principais ligas nacionais são obrigados a ter um Departamento do Torcedor, com profissionais de várias áreas. Eles têm de responder à federação e à liga e interagem com as forças de segurança. O nível de agressividade do torcedor alemão, como um todo, ainda é muito alto. O ódio que se tem lá contra a Polícia é assustador. Mas o mérito do Fan Projekt foi impedir que inúmeros jovens se tornassem hooligans.”

Para Heloísa, cada novo assassinato em torno do futebol no Brasil evidencia uma outra medida equivocada – a adoção de torcida única nos estádios.

“Se não brigam no local da partida, marcam para outro ponto. No Brasil, nos últimos anos, há uma busca desenfreada por respostas rápidas, a fim de atender a uma demanda imposta por parte considerável da mídia, interessada em soluções imediatas. A violência no futebol reúne questões complexas”, comentou a professora, em crítica à decisão da Federação de Futebol de São Paulo, que atendeu a um apelo do Ministério Público Estadual e resolveu não aceitar a presença das torcidas de dois times locais em grandes jogos no Estado.

“CBF, federações e clubes estão dando um tiro no pé ao acreditar que eliminar uma parte da torcida nos jogos vai resultar em diminuição da violência. Tensão e conflito fazem parte do universo do futebol, historicamente um espaço em que predominam traços visíveis de masculinidade. Além disso, vetar instrumentos de bateria e bandeiras só esvazia o evento. O futebol só sobrevive há 120 anos por causa dessa atmosfera de festa e rivalidade”.

Futebol: vídeo mostra quebra-quebra promovido por torcedores do Internacional:
Fonte: Especial para Terra
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