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Terra na Copa

Morte na Arena Pantanal: irregularidades vitimaram operário

19 ago 2014 - 18h34
(atualizado em 20/8/2014 às 17h29)
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<p>Vista aérea da Arena Pantanal em Cuiabá</p>
Vista aérea da Arena Pantanal em Cuiabá
Foto: Joel Marcos / Reuters

Laudos da perícia técnica e criminal confirmam que o operário Muhammad’Ali Maciel Afonso, de 32 anos, morto eletrocutado na Arena Pantanal, em Cuiabá (MT), dias antes da Copa do Mundo, estava em desvio de função e sem os devidos equipamentos de segurança. Ele morreu no dia 8 de maio deste ano, na finalização do estádio para o Mundial da Fifa. Mediante a conclusão do trabalho pericial, que durou quatro meses, a família do operário decidiu processar a empresa Etel Engenharia, contratada para fazer a instalação elétrica da arena de alto padrão.

Afonso, que era montador de eletrocalhas e eletrodutos, estava trabalhando de eletricista, como divulgou o Terra no dia do acidente. “Na correria para concluir o estádio, o colocaram em outra função, a qual ele não dominava”, argumentou o advogado da família do operário, João Carlos Polisel. A Arena Pantanal ficou pronta dias antes da Copa começar. “Lá havia tudo que é irregularidade que você possa imaginar, tanto é que a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) registrou mais de 50 autos de infração gerados por conta de desrespeito às normas de segurança”.

A morte do operário, um mês e uma semana antes do primeiro jogo da Copa na cidade, poderia ter sido evitada, diz trecho do laudo. Isso se o funcionário não estivesse em desvio de função, se ele tivesse recebido a devida capacitação e qualificação para atuar na área elétrica, se estivesse usando equipamentos adequados quando levou o choque ou se houvesse o devido aviso de que a rede estava ligada, no momento em que manipulava fios de alta tensão.

Os laudos técnico e pericial, que juntos somam mais de 500 páginas, vão orientar o juiz, no processo trabalhista, através do qual a família vai pedir indenização, já que o operário ajudava à mãe e na criação dos dois filhos, um menino de 10 anos e uma menina de oito.

Conforme a irmã dele, Alerrandra Rebeca Maciel Fontes, era um bom filho e um bom pai. “Meu irmão era um amigão para mim. Me ajudava em tudo que eu precisava, sempre que estava ao alcance dele. A gente fazia churrasco junto, combinava festas e antes dele morrer a gente já tinha planejado de fazer um almoço para o Dia das Mãe. Ele era alegre, brincalhão, gostava de brincar com os sobrinhos”, lembra.

A mãe do operário, Eliana Maria Antunes Maciel, comenta que ainda não se recuperou da morte do filho. Sofre e ainda chora ao falar dele, que, segundo ela, deixou um vazio difícil de preencher.

Mohamed morreu, após receber uma descarga elétrica de 220 volts por 30 segundos, quando tentava encaixar fios de luz em uma estrutura metálica no teto do setor Leste da Arena Pantanal. Com o forte choque, o corpo dele, que ficou preso à fiação, sucumbiu.

<p>Arena Pantanal foi uma das sedes de partidas da Copa do Mundo</p>
Arena Pantanal foi uma das sedes de partidas da Copa do Mundo
Foto: Stringer / Reuters

Etel Engenharia, conforme a família dele, deu suporte inicial somente para pagar as contas do velório. “Isso não era mais do que a obrigação da empresa. Meu irmão morreu, por um erro dela e, embora negue, o laudo está aí para confirmar”, reage a irmã do operário.

A Etel Engenharia, procurada pelo Terra para tratar do assunto, disse, através de nota, que está "há 37 anos no mercado, preza pelos seus princípios éticos e morais e valoriza seus colaboradores". Lamentou o acidente com o operário Afonso e reforçou que deu suporte financeiro e psicológico à família. Informou ainda que "já realizou o pagamento da rescisão do contrato de trabalho, seguro de morte e seguro de vida". Mas, com relação ao laudo pericial, a Etel não se manifestará.

A nota diz ainda que "quanto aos autos de infração lavrados pelo Ministério do Trabalho e Empregos, a  empresa foi intimada e está dentro do prazo legal para apresentar sua defesa".

A Empresa Etel Engenharia Montagens e Automação Ltda., de Rio Claro (SP), foi contratada pela Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa), pelo valor inicial de R$ 98 milhões, para executar serviços de instalação de rede elétrica e outros circuitos na Arena.

Fonte: Especial para Terra
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