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Ex-técnico destila ódio e culpa Amarilla por carreira curta

26 jun 2015 - 07h38
(atualizado às 08h50)
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"Qual foi o jogo que esse filho da p... apitou?", perguntou Ademar Braga, assim que questionado pela Gazeta Esportiva sobre a atuação de Carlos Amarilla na Copa Libertadores de 2006. Sua suspeita foi confirmada. "Aquele na Argentina, né? Sabia. Ele anulou gol que não era para anular, expulsou o Mascherano sem necessidade..."

Técnico do Corinthians na ocasião, o carioca deixou o Monumental de Núñez derrotado por 3 a 2 pelo River Plate nas oitavas de final e revoltado com o árbitro paraguaio (o mesmo que, com indicação colocada sob suspeita por escutas telefônicas divulgadas nesta semana, prejudicou o clube alvinegro contra o Boca Juniors em 2013). Uma semana depois, deu adeus à competição sul-americana e a uma carreira que havia aceitado com alguma resistência.

Ademar Braga teve a oportunidade de comandar jogadores como Roger Flores
Ademar Braga teve a oportunidade de comandar jogadores como Roger Flores
Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians / Gazeta Press

"Joguei tudo ao virar técnico ali. Só fui porque o Kia me pediu. Ele tinha tentado dois ou três. Eu não queria ser treinador, nunca quis ser treinador. Relutei muito. Eu fui, joguei uma cartada na minha carreira. Já estava com 60 anos. Você, com 60 anos, começando a carreira, é muito difícil. Não tinha essa pretensão", recordou, admitindo que o apelo de Kia Joorabchian era irresistível.

O presidente da MSI, fundo de investimento que administrava o futebol do Corinthians, acabou convencendo Braga. Auxiliar técnico alvinegro desde o ano anterior, ele acabou assumindo o comando do time após a demissão de Antônio Lopes, herdando um elenco com nomes como Tevez, Nilmar, Mascherano, Roger, Ricardinho e Carlos Alberto. E acreditando na possibilidade de fazer história.

"Mal ou bem, não sou nenhuma enciclopédia, vamos dizer assim, mas trabalhei em sete países do exterior. E aquele time está entre os três maiores que o Corinthians teve. Tinha tudo para ganhar", disse o agora ex-treinador, que carregava experiência do Oriente Médio. A carreira à beira do campo foi encurtada, e um dos culpados apontados por ele é o juiz Carlos Amarilla, que teve atuação decisiva em Buenos Aires.

Ademar Braga foi técnico do Corinthians durante o início de 2006
Ademar Braga foi técnico do Corinthians durante o início de 2006
Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians / Gazeta Press

A recente divulgação de telefonemas que puseram suspeita na escalação do paraguaio em outro jogo no qual o Corinthians foi prejudicado fizeram Ademar Braga reavivar a raiva de quase dez anos atrás. Apesar de ter deixado o Monumental bradando que "jogar contra os bandeiras e o árbitro não dá", ele não havia pensado em algo arranjado. Até agora.

"Eu me surpreendo, porque ele botava a maior moral dentro de campo", comentou, apontando o estilo enérgico do homem de preto. "Quer dizer, aquilo ali era uma casca só. A gente não sabe até onde isso vai, é impossível em um contato de 90 minutos saber quem realmente é a pessoa. Essa questão do Amarilla é revoltante porque estraga o futebol."

Ademar sabe que sua equipe poderia ter feito mais na partida de volta - a participação do Corinthians acabou com derrota por 3 a 1 e tentativa de invasão em massa do gramado do Pacaembu -, mas não consegue deixar de imaginar um mundo alternativo sem Carlos Amarilla. Dois jogos após a eliminação na Libertadores, o técnico voltava a ser auxiliar e via ruir uma carreira que, sonhava, seria outra com a inédita conquista sul-americana pelo clube do Parque São Jorge.

Carlos Amarilla: "persona non grata" no Corinthians
Carlos Amarilla: "persona non grata" no Corinthians
Foto: Heuler Andrey/Latin Content / Getty Images

"Completamente! É lógico. Completamente diferente. Eu, hoje, ainda estaria sendo treinador se ganhasse a Libertadores naquela época. O Corinthians ainda não tinha ganhado", lamentou, lembrando que Tite mudou de patamar ao comandar o primeiro triunfo preto e branco no continente, em 2012. "Foi um marco na minha carreira. No caso, negativo, porque não deu para continuar."

Braga ainda foi auxiliar de Geninho, que durou pouco, mas Emerson Leão não quis mantê-lo no comissão. O carioca, então, dirigiu brevemente o time B alvinegro na Copa Federação Paulista antes de trabalhar no Mirassol, como gerente, mesma função executada posteriormente no América-RJ. Parado desde 2012, reuniu-se a Antônio Lopes e agora é supervisor no Botafogo.

Atualmente, Ademar Braga trabalha com Antonio Lopes como supervisor no Botafogo
Atualmente, Ademar Braga trabalha com Antonio Lopes como supervisor no Botafogo
Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo / Divulgação

O que não mudou graças ao fracasso de 2006 foi a vaidade do carioca, que gastava R$ 250 por semana em um badalado salão de beleza de São Paulo quando vivia na capital paulista. Cuidados com as unhas, com o cabelo e com a pele são mantidos pelo septuagenário, que chegou a se divertir ao ser apontado como metrossexual nos tempos de Corinthians.

"Sigo com esse cuidado. Sigo, sim, mas, com 70 anos, é difícil você se manter. O cabelo já foi quase todo embora", gargalhou. "Mantenho essa vaidade, claro que mantenho. Hoje em dia, é até uma questão de saúde. São hábitos. Não bebo, não fumo, moro em frente à praia. Claro que é no ritmo dos 70, mas é uma vida saudável. Não tenho aquela vasta barriga", orgulhou-se.

Nem tudo ficou para trás em 2006, como mostram a disposição de Ademar Braga para fazer um bom trabalho no Botafogo e seu ímpeto para permanecer em forma. Pela saúde, pela vaidade e pelo vigor com aquela que é sua namorada há seis anos. "Isso a gente não perde, né? Isso é fundamental. O ser humano não vive sozinho."

 
Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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