Com elenco traumatizado, Corinthians desdenha riscos de "efeito Edílson"
O ex-corintiano Cristian, direto da Turquia onde defende o Fenerbahce, telefonou ainda no sábado para manifestar sua preocupação e solidariedade. Mesmo à distância, é o sentimento entre os membros do elenco depois da invasão de mais de 100 torcedores no treinamento de sábado. Um sentimento que Mário Gobbi definiu como traumático.
Ainda assim, o presidente do Corinthians afirmou categoricamente não ter recebido pedidos de saída entre os jogadores. A ideia dos líderes do elenco era não enfrentar a Ponte Preta no domingo, mas deixar o clube é algo fora de cogitação, segundo Gobbi. Ele quer crédito para dar sequência ao processo de tentativa de recuperação do time que vem de três derrotas seguidas.
"Nenhum jogador pediu para ir embora. Todos estavam ao mesmo tempo abalados emocionalmente, como nós e a comissão técnica. Foi chocante para todos nós. Tenho família, mulher, minha vida. Pensa, isso dói. (...) Todos (atletas) gostam muito do Corinthians e tal é o respeito deles pelo clube que aceitaram em um diálogo nosso irem para o jogo. Mas digo a você: o clima não era de ir para o jogo. Foi um trauma muito grande", relatou.
O histórico do Corinthians nos anos 2000 aponta para situações desse tipo. O caso mais recente ocorreu com Roberto Carlos, de saída para a Rússia depois da eliminação frente ao Tolima e de ter sido seguido por torcedores no trânsito. À época, o então presidente Andrés Sanchez minimizou e disse que os valores da oferta do Anzhi-RUS falaram mais alto.
O caso mais emblemático ocorreu com o atacante Edílson meses depois de ser o jogador mais importante na conquista do Mundial de Clubes 2000. O Corinthians havia sido eliminado na Copa Libertadores diante do Palmeiras, e ele foi cobrado por não cobrar pênaltis no duelo semifinal. Edílson, ameaçado por torcedores, jamais voltou a vestir a camisa corintiana e se transferiu para o Flamengo. Em 2002, foi pentacampeão do mundo com a Seleção Brasileira.
Para Mário Gobbi, apesar da gravidade dos episódios de sábado - houve ameaças, agressões a funcionários e roubos -, os jogadores foram abençoados. Eles se preparavam para ir a campo quando chegou a notícia de que o Centro de Treinamento havia sido invadido. O único a cruzar com torcedores foi Guerrero e acabou "esganado", segundo termo dito por Gobbi.
"Se Paolo, autor de um dos gols mais importantes da história do clube, foi esganado, imagine o que aconteceu aqui. (...) Quatro minutos mais tarde, todos os jogadores estariam no campo de treino e não sei como seria o comportamento. Acho que foi uma benção as coisas não terem chegado a esse ponto", declarou o presidente, com a promessa de que a segurança do CT é replanejada.
Ex-vice de futebol e diretor de futebol do Corinthians e na gestão do clube desde 2008, Gobbi pediu crédito ao trabalho que sofre com resultados ruins desde a conquista da Recopa Sul-Americana em agosto. Mano Menezes estreou com duas vitórias em um elenco que só recebeu quatro reforços para 2014, mas já teve três derrotas seguidas desde então. A pior delas por 5 a 1 contra o Santos.
"Estamos no recomeço com uma geração que ganhou tudo e agora tenta recomeçar. Se não tivesse paciência contra o Tolima, com o Tite, não estaria aqui. A pressão interna já existe, ninguém precisa pôr pressão na gente. Todos querem ganhar. Precisa de tempo, vamos ter paciência e ali na frente vamos e devemos colher coisas boas. Tem que passar por essa fase", ressaltou.