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Ofensa de jornalista ao Corinthians reproduz estereótipo preconceituoso contra torcidas de massa

Chacota de mau gosto publicada nas redes sociais reflete banalização do preconceito de classe em meio às rivalidades do futebol

17 abr 2024 - 07h00
(atualizado às 07h20)
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Jornalista fez deboche preconceituoso envolvendo estádio e torcedores do Corinthians
Jornalista fez deboche preconceituoso envolvendo estádio e torcedores do Corinthians
Foto: Vinícius Lúcio/Gaviões

Corinthians e Flamengo são os clubes mais populares do país. Não somente por ostentarem as maiores torcidas em termos absolutos, mas também por terem o maior percentual de torcedores pobres, negros e indígenas.

Justamente por serem times tão abrangentes, costumam se tornar os principais alvos de piadas carregadas de preconceito de classe e banalizadas por torcedores rivais. Um estereótipo impregnado no imaginário popular a ponto de acabar reproduzido com frequência na mídia.

Dessa vez, a jornalista Camila Abdo, da revista Oeste, editorialmente alinhada a posições de direita na política, não enxergou nenhum problema em publicar uma piada preconceituosa e ofensiva a corintianos em suas redes sociais. “Hoje tem jogo do Corinthians no Itaquera. Se a PM bater lá agora, ela acha todos que não voltaram da saidinha, os procurados e os fugitivos. Bora PM. Tá fácil”, escreveu.

Após repercussão negativa entre torcedores, Abdo apagou a publicação e reclamou que não se pode mais fazer “piada”. De fato, não é a primeira vez que o Corinthians sofre com deboches preconceituosos direcionados à sua torcida por parte de jornalistas. A diferença é que, em outras ocasiões recentes, profissionais de imprensa se retrataram imediatamente pelas falas infelizes, casos de Renata Fan e José Roberto Burnier. Abdo preferiu insistir em tratar preconceito de classe como brincadeira antes de pedir “desculpas aos que se sentiram ofendidos”.

Ofensas disfarçadas de troça clubística, que associam uma coletividade de torcedores de clubes de massa à pobreza ou à criminalidade, como fez a jornalista da Oeste, nada mais são que uma forma socialmente aceita de discriminar grupos desfavorecidos. O meio do futebol não pode mais normalizar esse tipo de “piada” de mau gosto.

A mudança de postura passa pelo posicionamento dos clubes, a exemplo de Corinthians e Flamengo, que devem ser mais vigilantes e intolerantes a ataques pejorativos à condição social de seus torcedores menos favorecidos. E, logicamente, pela responsabilização de qualquer pessoa, seja da imprensa, da arquibancada ou das redes sociais, que utilize a rivalidade do futebol como pretexto para disseminar preconceitos.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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