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Marcos Caetano
Domingo, 27 Janeiro de 2002, 20h45
terraesportes@terra.com.br

Chiquitito, pero cumplidor


Estava com a coluna pronta, tecendo loas à brilhante atuação do Fluminense e à calorenta rodada das ligas regionais, quando li na internet uma reportagem do Olivério Júnior dando conta que, conforme confidenciou a um amigo, Felipão jamais voltará a convocar Romário enquanto estiver no comando da Seleção. Incontinenti, apaguei o artigo do computador e comecei este outro. Terei outras oportunidades de comentar a Liga Rio-São Paulo, mas se o técnico do Brasil decidiu cristalizar sua posição em relação ao Baixinho, acredito que também possa emitir meus vaticínios sobre ele. E aqui vai um, bem sintético, como a situação exige: esse camarada não gosta de futebol.

Aos leitores mais benevolentes, que pretendem continuar esperando pelo dia em que o Felipão conseguirá colocar a Seleção para jogar tão bonito quanto os times que treinou – que, aliás, nem jogaram tão bonito assim – tenho que confessar que tentei arduamente ter esperanças. Tocado pelo espírito natalino, cheguei até a transformar esta coluna numa carinhosa carta aberta, dizendo que ainda confiava na sua capacidade de aprender com o cargo. Mas agora, como diria o outro, a porca engrossou: se um técnico não confia no jogador mais confiável do Brasil, o único que sempre faz o que se espera dele, então eu é que não confio mais no técnico.

Além desses leitores benevolentes e pacientes, Scolari também agrada a muitos gaúchos – especialmente os torcedores do Grêmio, clube onde construiu sua fama. Para estes, dirijo aqui um comentário tão importante quanto carinhoso: com a sinceridade de quem leu todos os contos do Simões Lopes Netto, com especial predileção por “A Salamanca do Jarau”, garanto que minha opinião sobre o filho ilustre de Passo Fundo nada tem a ver com bairrismos. Competência não tem passaporte. Se o melhor técnico para a nossa Seleção fosse um talibã dos mais tisnados, não hesitaria em defender seu nome para o cargo. Felipão adora vir com essa conversa fiada de discriminação toda vez que é questionado. Só que usar o bravo povo do Rio Grande do Sul como escudo para as críticas ao seu trabalho não me parece ser uma atitude corajosa.

Portanto, aviso ao amigo leitor dos pampas e da caatinga, das cidades e dos geraes, que serei mais pragmático. Basta de meias palavras, de etiqueta jornalística, de convenções estilísticas e de conversa fiada. A função do técnico é ganhar jogos, certo? E a do centroavante é marcar gols, pois não? Eu nunca conheci um técnico com histórico próximo de cem por cento. Mas eu conheço um centroavante que tem um aproveitamento próximo a cem por cento. Um jogador que, em qualquer estatística que se faça, de qualquer fase de sua carreira, estará sempre perto da média de um gol por partida. Esse jogador se chama Romário – e já nos trouxe uma Copa do Mundo. Se o Felipão – que tem cinqüenta por cento de aproveitamento com a Seleção – não quer convocá-lo é porque não aprecia o talento.

Àqueles que confundem postura crítica com antipatriotismo, quero avisar que sou quase um Policarpo Quaresma. Torço loucamente para que o Brasil ganhe a Copa. Acho que ainda temos os melhores jogadores do mundo e – quer saber? – acho até que nós vamos deitar e rolar lá na Coréia. Só que se isso ocorrer será muito mais por conta da qualidade e experiência internacional dos nossos jogadores – e do respeito que a gringalhada ainda tem pela camisa amarela, apesar da criminosa sabotagem que técnicos e dirigentes vêm impingindo ao auriverde pendão da nossa pátria –, que propriamente pelo consagrado esquema 7-3-0 do Scolari.

Ao desistir de Romário, o treinador Felipão mostrou-nos todo o seu desprezo pelo futebol bem jogado. Por outro lado, ao comprar o passe de Euller para abastecer-lhe com assistências precisas, o jogador Romário provou que entende mais do riscado do que o homem que quer proibir-nos de ver a camisa 11 brilhar pela última vez numa copa. Coisas assim azedam o coração de quem ama o futebol – mas conforta-me saber que ao menos a história gosta dos craques. Daqui a trinta anos ninguém vai falar de Luiz Felipe Scolari. Mas o meu bisneto vai andar por aí contando histórias de um certo baixinho que jogava com a camisa 11 da Seleção.

Nota do colunista: antes do fechamento deste artigo, Romário comandou a virada do Vasco sobre o São Paulo e elevou sua média na tabela de artilheiros para um gol e meio por partida. Comecei a escrever quando o Vasco perdia por 2 x 0.

 

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