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De Romário a R. Gaúcho: veja cortes polêmicos da Seleção
Nem só de abraços, elogios e ensinamentos se dá a relação de um técnico e um jogador de futebol. Em alguns casos, cada qual com seu motivo, a confiança é quebrada, e a consequência é o rompimento. Neste domingo, isto tudo voltou à tona. O cenário? Simplesmente a Seleção Brasileira.
O lateral direito Maicon, homem de confiança de Dunga na Copa do Mundo de 2010, foi convocado para os dois primeiros amistosos do treinador no retorno ao selecionado pentacampeão mundial, jogou o primeiro como titular (contra a Colômbia), mas foi dispensado do segundo (diante do Equador). Sim, acabou cortado por um motivo até aqui desconhecido - a primeira versão aponta para um atraso na reapresentação.
O novo coordenador da CBF, Gilmar Rinaldi, fez o anúncio no hotel em que a Seleção Brasileira está concentrada, na Flórida, e se limitou a afirmar que se tratava de um “problema interno”. Depois, em contato com alguns jornalistas, revelou que o corte havia se dado por causa de indisciplina – confira os bastidores aqui.
A verdade, porém, é que voltou à tona um problema que não é inédito na Seleção com o maior número de títulos mundiais da história. Apenas de 1986 para cá, houve pelo menos seis casos de jogadores que feriram a confiança dos então comandantes brasileiros e foram cortados ou então prontamente “esquecidos” das listas verde e amarelas. Relembre, abaixo:
Noite de arromba às vésperas da Copa
A Seleção Brasileira já estava convocada para buscar o tetracampeonato mundial em 1986. O atacante Renato Gaúcho, então campeão mundial e bi gaúcho pelo Grêmio nos anos anteriores, era uma das principais estrelas que seriam comandadas por Telê Santana em solo mexicano. Seriam? Sim. O polêmico jogador acabou cortado às vésperas do embarque brasileiro à América do Norte. Não bastasse isso, “levou consigo” o lateral Leandro.
O motivo? Simples. Ambos não respeitaram o “toque de recolher” de Telê Santa durante a concentração brasileira em Belo Horizonte e saíram para curtir a noite mineira na véspera de um treinamento. A maioria dos outros atletas ficou acordada até as 4h esperando os dois companheiros, mas eles não chegaram. Consequência? Renato Gaúcho foi cortado pelo treinador, que decidiu dar um voto de confiança a Leandro. O lateral, entretanto, se solidarizou com companheiro e não embarcou ao México, “auto eliminando-se” da delegação que viajou para ser eliminada pela França nas quartas de final.
Lesão grave ou leve?
Romário estava em alta. Quatro anos antes, havia comandado a Seleção Brasileira ao tetracampeonato mundial, que a tirou de um jejum de 24 anos. Em 1998, ao lado de Ronaldo, o penta era certo, não é mesmo? Não. O então atacante do Flamengo até foi convocado por Mario Jorge Lobo Zagallo, mas acabou cortado já na concentração verde e amarela na França. Justificativa? Lesão na panturrilha. E é exatamente aí que está a polêmica.
Isto porque, no dia em que foi diagnosticada pelos médicos da Seleção, a contusão de Romário era considerada leve e ele seguiria com o time na Europa. Misteriosamente, dias depois, a própria comissão técnica brasileira anunciou o corte do atacante por causa de “uma lesão séria que não permitira tempo hábil para recuperação”. O jogador chorou, deixou a França e voltou ao Brasil contrariado. Durante a Copa do Mundo, já estava atuando pelo Flamengo. A contradição irritou tanto o craque que, meses depois, ele mandou pintar caricaturas da dupla Zagallo e Zico (membros da comissão técnica nacional) na porta do banheiro de sua boate.
Contusão, medo ou falta de vontade?
Em 2001, o Deportivo La Coruña era o detentor do título do Campeonato Espanhol e conquistaria, no ano seguinte, o título da Copa do Rei da Espanha. Qual era o principal jogador da modesta equipe que encantava a Europa? O brasileiro Mauro Silva. E o volante era muito cotado para disputar a Copa do Mundo de 2002, na Coreia do Sul e no Japão. Até mesmo como capitão. Porém, um fato que até hoje não foi muito bem esclarecido manchou a relação dele com Luiz Felipe Scolari.
Convocado para a Copa América de 2001, na Colômbia, Mauro Silva pediu desligamento e não viajou junto com o restante da delegação brasileira para a Colômbia, sede do torneio. Inicialmente, especulava-se que o motivo teria sido uma lesão na coxa, que o tirara, inclusive, do duelo contra o Uruguai pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo, dias antes. Depois, porém, surgiu a informação de que o jogador havia alegado não ter condições psicológicas de enfrentar o clima de Guerra Civil instalado no país que foi sede da Copa América. Por causa de lesão, medo ou qualquer outro motivo, a verdade é que o ato de Mauro Silva incomodou Felipão, que não convocou mais o talentoso volante daí para frente.
Corte desnecessário?
Emerson, que, curiosamente, substituíra o cortado Romário na Copa do Mundo de 1998, sofreu na pele a decepção de um afastamento quatro anos depois. Homem de confiança de Luiz Felipe Scolari, o volante que seria o capitão do time verde e amarelo no Mundial da Coreia do Sul e do Japão sofreu um luxação no ombro direito enquanto disputava um rachão como goleiro na véspera da estreia contra a Turquia e foi cortado. No momento, tal fato não causou tanta polêmica, mas, em 2014, ganhou outras contornos.
Isto porque, em entrevista ao jornal Zero Hora, Emerson se disse decepcionado com Scolari e preferiu não confirmar se havia, de fato, a necessidade de ter sido cortado da Seleção Brasileira que foi pentacampeã mundial em 2002. O meia Ricardinho, que trocava o Corinthians pelo São Paulo na ocasião, foi convocado para o seu lugar.
“Nunca mais falei com o Felipão depois daquilo. Ele diz que foi o dia mais difícil da vida dele. Sempre fala isso, mas não me tratou com esta importância”, disse Emerson. “Sinceramente, não sei se teria tempo para me recuperar em meio à Copa, mas a Inglaterra manteve o Beckham (cortado em 2010), por respeito. Felipão não precisava ter me cortado. Sempre estive presente quando ele precisou de mim. Quando eu precisei, ele me faltou”, acrescentou.
O e-mail da discórdia
Marcelo é, inegavelmente, um dos laterais esquerdos mais talentosos que o futebol brasileiro já revelou depois de Roberto Carlos. O jogador deixou o Fluminense muito novo e, logo cedo, assumiu a titularidade do Real Madrid. Em 2011, vivia um dos melhores momentos de sua carreira, mas não era chamado para a Seleção Brasileira por Mano Menezes. O motivo? Um pedido de dispensa e um e-mail enviado por engano que irritaram o treinador.
Marcelo pediu para ser cortado da equipe nacional em setembro de 2010, alegando estar machucado. O lateral, entretanto, treinou normalmente pelo Real Madrid no período e, assim, irritou o comandante brasileiro. Para piorar, o jogador teria enviado um e-mail por engano a Mano Menezes, no qual dizia ter conseguido “se livrar” da Seleção Brasileira. O destinatário correto era o Real Madrid. Chegou, contudo, à caixa de e-mail errada e o tirou do selecionado nacional por um bom tempo.
Estava machucado ou foi comemorar o aniversário com a mulher?
Ramires disputou a Copa do Mundo de 2014, mas por pouco não perdeu uma vaga que parecia certa por causa de polêmica com a CBF e com Felipão. Convocado para os amistosos contra Itália e Rússia, em março de 2013, o jogador chegou à concentração brasileira em Londres com um dia de atraso, alegando estar com lesão muscular na coxa. Ao lado da médica do Chelsea, Eva Carneiro, Ramires apareceu com um atestado e foi, assim, cortado da Seleção.
No entanto, alguns dias depois, a esposa do jogador publicou nas redes sociais fotos da comemoração do aniversário de 26 anos de Ramires, justamente na data em que ele deveria ter se apresentado com o restante do grupo. O jogador chegou a se justificar, alegando que se tratava de um mal-entendido, mas, internamente, a CBF não aceitou. Deixou o jogador de fora das convocações seguintes, inclusive da Copa das Confederações. José Maria Marin chegou a detonar “um jogador que atua em um clube da Inglaterra e que teria trocado uma convocação por um jantar com a mulher”, mas, no fim das contas, as necessidades fizeram Scolari convocar o volante para o Mundial.
