PUBLICIDADE

Aos 16, "xará" de sertanejo traça caminho ecológico até a F1

Caçula brasileiro no automobilismo internacional em 2012, Gustavo Lima compra créditos de carbono e espera equipes para continuar na Europa. A meta: chegar à Fórmula 1 em cinco anos.

28 fev 2013 - 15h19
(atualizado às 16h20)
Compartilhar
Exibir comentários

A temporada de 2012 foi de altos e baixos para Gustavo Lima nas pistas. Aos 16 anos, o piloto fez sua primeira temporada no automobilismo internacional, disputando as sete rodadas duplas da Fórmula Renault 2.0 Alps. No entanto, o piloto da equipe Koiranen Motorsports terminou o ano sem somar pontos, lutando para chamar a atenção de outras equipes ou para subir degraus nas categorias de acesso do automobilismo.

Não que tenha sido um ano ruim para Gustavo. Em 2012, ele disputaria também a Fórmula Future no Brasil, mas a categoria acabou cancelada antes da primeira prova. Em seu primeiro ano após o kart, Gustavo se viu diante de um dilema que aflige os jovens pilotos brasileiros: a falta de categorias de base no Brasil – com a Fórmula Chevrolet, a Fórmula Ford, a Fórmula Renault e a abandonada Fórmula 3 Sul-Americana, que costumavam levar pilotos à Fórmula 1.

“Ano passado, a gente ia correr (as duas categorias). Como cancelou, ficou só na Europa”, disse Gustavo em entrevista ao Terra, lamentando a falta de categorias de base no Brasil. “A gente tem que apanhar pra aprender, para chegar ao topo e ficar competitivo. Se a gente não apanhar aqui na base, como vai ficar na frente?”, completou o piloto, o mais jovem representante do Brasil no automobilismo internacional em 2012.

<p>Meta de Gustavo é chegar à GP2 em 2016 ou 2017; daí, para a Fórmula 1</p>
Meta de Gustavo é chegar à GP2 em 2016 ou 2017; daí, para a Fórmula 1
Foto: Dutch Photo Agency / Divulgação

Não que o desempenho na prematura temporada de estreia tenha sido ruim para Gustavo Lima. Mesmo sem pontuar no campeonato principal, teve apenas dois abandonos em 14 provas e se destacou no campeonato júnior. Assim, ganhou a chance de testar pela tradicional equipe Prema Powerteam, que já revelou nomes como Robert Kubica, Lucas di Grassi, Ryan Briscoe, Charlie Kimball, Franck Perera, Kohei Hirate e Dani Clos.

Gustavo aprovou os testes, mas o futuro ainda está indefinido. Pode correr na Fórmula Renault 2.0 Alps ou pode disputar a Fórmula 3 na Europa - ele testou um carro da equipe ADM Motorsports, que disputou a Fórmula 3 Alemã em 2012, batendo o recorde da categoria do Circuito de Adria (Itália) . A decisão pode até mesmo definir prematuramente seu caminho para a Fórmula 1, levando-o no futuro para a World Series by Renault ou para categorias como a GP3 e a GP2.

Para 2013, o brasiliense tenta ainda se acertar com os patrocinadores. Não apenas para ajudar a bancar a carreira, mas também para ajudá-lo a continuar com o projeto de sustentabilidade que o acompanhou em 2012 – em sua primeira temporada no automobilismo europeu, Gustavo e seus patrocinadores compraram créditos de carbono equivalentes à emissão de 45 toneladas de CO e CO2, compensando a emissão com plantio de árvores.

“No ano passado, a gente tinha isso. Nesse ano, não sei se vamos continuar com esse projeto”, explicou o piloto, esperançoso de conseguir manter seus patrocinadores para poder angariar também novos pilotos na iniciativa. “Os gases do ano passado, a gente neutralizava. Esse ano, vamos tentar continuar, para que vire uma bola de neve, para que outros pilotos continuem com isso”, completou o piloto.

Para ajudar a atrair patrocinadores, Gustavo Lima conta pelo menos com um ingrediente a mais: o nome famoso, que ele compartilha com o “quase xará” Gusttavo Lima, responsável por sucessos sertanejos como Balada Boa e Gatinha Assanhada. O piloto, bem-humorado, jura que gosta da coincidência. “É uma porta para a amizade. Até quem não conhece vem e canta para mim”, comentou.

Confira a entrevista de Gustavo Lima – o piloto, não o cantor – ao Terra:

Terra – Você fez testes agora na última semana pela Fórmula Renault 2.0 Alps pela Prema. Como foram os testes?

Gustavo Lima - Foi muito bom. Andei na sexta-feira (15 de fevereiro). Estava só eu e mais um inglês na pista. Virei mais rápido que ele. Depois andou um piloto da Ferrari (Academia de Pilotos), 0s4 mais rápido que eu. Foi um treino muito bom.

Terra – E a equipe demonstrou algum interesse oficial já ou foi só um teste?

Gustavo Lima - Eles estão bem interessados em mim. Mas a gente vai ver o que vai fazer.

<p>Sem categoria de base no Brasil, Gustavo Lima foi do kart para o automobilismo europeu</p>
Sem categoria de base no Brasil, Gustavo Lima foi do kart para o automobilismo europeu
Foto: Dutch Photo Agency / Divulgação
Terra – E você testou também na Fórmula 3, certo?

Gustavo Lima - Na Fórmula 3, a gente testou uma ADM. Andou um cara no dia seguinte e virou 0s7 mais rápido que eu. Foi bom. Ele andou no segundo dia de pista. No dia que eu andei, tinha chovido pela manhã. Quando ele andou, a pista estava mais emborrachada. Mas foi bom.

Terra – E depois dos testes, a carreira para 2013 já pende para algum lado?

Gustavo Lima - A gente está pensando ainda na questão de patrocínio. Vamos ver o que vamos fazer. É provável que seja a Fórmula Renault.

Terra – Como você lida com a questão de patrocinadores? Você tem alguém que ajuda com a carreira, tem alguém acertado para este ano?

Gustavo Lima - No ano passado, tínhamos quatro. Dos quatro do ano passado, acho que vamos ficar com um. Vamos buscar outros.

Terra – E a questão da sustentabilidade da sua carreira? Como você trabalha essa questão da compra de créditos de carbono? É uma compra anual, certo?

Gustavo Lima - No ano passado, a gente tinha isso. Nesse ano, não sei se vamos continuar com esse projeto. A gente comprava creditos de carbono, cinco toneladas de carbono (cada crédito) que a gente neutraliza. No ano passado, a gente calculou transporte de carro, de avião, as voltas que dá no carro... Deu 45 toneladas. A gente comprou (créditos) para neutralizar. Os gases do ano passado, a gente neutralizava. Esse ano, vamos tentar continuar, para que vire uma bola de neve, para que outros pilotos continuem com isso.

<p>Piloto busca acerto com patrocínios para seguir na Europa em 2013 e manter projeto de compra de créditos de carbono</p>
Piloto busca acerto com patrocínios para seguir na Europa em 2013 e manter projeto de compra de créditos de carbono
Foto: Dutch Photo Agency / Divulgação
Terra – No ano passado, você ia disputar a Fórmula Future (organizada por Felipe Massa, acabou cancelada antes do início da temporada 2012) e acabou ficando de fora...

Gustavo Lima - Ano passado, a gente ia correr. Como cancelou, ficou só na Europa. Ia fazer os dois. Ia ser meu primeiro ano (em monopostos). Por questão disso, a gente faria os dois para ter mais largadas, mais quilometragem.

Terra – E como fica para você, que está começando, essa situação de iniciar a carreira sem uma categoria de monopostos no Brasil?

Gustavo Lima - É a base. Se a gente não tem ela, não tem como a gente atingir o que a gente quer chegar. A gente tem que apanhar pra aprender, para chegar ao topo e ficar competitivo. Se a gente não apanhar aqui na base, como vai ficar na frente? É para ir formando o piloto.

<p>Em 2013, brasileiro ainda busca definição entre Fórmula 3 e Fórmula Renault Alps</p>
Em 2013, brasileiro ainda busca definição entre Fórmula 3 e Fórmula Renault Alps
Foto: Dutch Photo Agency / Divulgação
Terra – Em compensação, isso obriga o piloto brasileiro da base a ir mais cedo para a Europa. Isso ajuda de alguma maneira?

Gustavo Lima - Não é o único jeito. Mas se você quiser chegar na Fórmula 1, é o único jeito de chegar. Se você correr aqui, não tem ninguém te olhando. Não tem Junior Team (times formados pelas equipes de categorias maiores para o desenvolvimento de pilotos em categorias de acesso). Não tem ninguém te olhando. Tem 38 pilotos no grid (na Europa), e aqui tem sete ou oito. O único caminho é ir para lá se você quiser chegar à Fórmula 1.

Terra – E essa é sua meta? Fórmula 1?

Gustavo Lima - Sim.

Terra – Qual é seu planos de carreira até lá?

Gustavo Lima - A gente pensou nesse ano em fazer a Fórmula Renault mais um ano, dependendo do resultado. Se não for bem, ir para a Fórmula 3; se for bem como desejado, ir para a World Series. Aí, para uma GP2 em 2016, 2017. Daí para a Fórmula 1.

Terra – Comentam que a Red Bull tem um carinho especial por quem corre em categorias da Renault, como a Fórmula Renault Alps e a World Series. Um nome como o da Red Bull pesa nessa trajetória?

Gustavo Lima - Acho que todo sonho de piloto é entrar para um Junior Team e ir até o topo. Ano passado não foi muito bom de resultado, então ninguém olhou muito para a gente. Se tiver resultado, a g ente vai atrás e eles vão olhar.

<p>Gustavo jura que não liga para coincidência de nomes com sertanejo: porta para a amizade</p>
Gustavo jura que não liga para coincidência de nomes com sertanejo: porta para a amizade
Foto: Dutch Photo Agency / Divulgação
Terra – Fora da Red Bull, houve algum contato?

Gustavo Lima - De Junior Team, não. Mas houve de várias equipes.

Terra – É claro que a gente ouve falar de você e associa com o cantor. Como você encara isso? Algum problema

Gustavo Lima - Perguntam sempre isso. A gente leva numa boa, tudo na brincadeira. As pessoas já brincam, já fazem mais amizades. É uma porta para a amizade. Até quem não conhece vem e canta para mim. É engraçado.

Terra – Você conhece o Gusttavo Lima? Gosta?

Gustavo Lima - Conheço, gosto muito.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade