Conheça JP de Oliveira: Um dos pilotos mais bem sucedidos do automobilismo japonês
Em entrevista ao Parabólica, o piloto relembra sua trajetória no Japão, desafios no Super GT e a possibilidade de retorno ao WEC.
Após duas décadas construindo uma trajetória sólida fora do eixo tradicional europeu, o Brasil tem em João Paulo de Oliveira um de seus pilotos mais vitoriosos no exterior. Conhecido como o brasileiro mais bem-sucedido do automobilismo japonês, JP consolidou sua carreira principalmente no Japão, onde se tornou referência em categorias como a Super Fórmula e o Super GT. Campeão, respeitado pelas fábricas e admirado pelo público local, ele construiu uma história marcada por grandes títulos.
Em 2025, JP também vive um capítulo importante no automobilismo nacional ao competir na Stock Car Pro Series, defendendo a Toyota Gazoo Racing, pela Full Time Sports em sua primeira temporada completa na principal categoria do Brasil. Apesar do acidente em Brasília, que o tirou da última etapa do campeonato, o piloto esteve em Interlagos, onde conversou com a equipe do Parabólica.
A carreira de João Paulo de Oliveira
João Paulo de Oliveira iniciou sua trajetória no automobilismo no Brasil e, após passar pelas categorias de base, seguiu para a Europa antes de tomar uma decisão que mudaria sua carreira. Em 2004, ingressou no automobilismo japonês, começando pela Fórmula 3 Japonesa, onde rapidamente passou a se destacar.
A adaptação ao país foi um fator determinante para sua permanência. Segundo o próprio piloto, o sucesso no Japão vai além do desempenho na pista. Relembrado pelo Parabólica, Oliveira afirmou:
“O piloto tem que saber administrar não só o lado profissional, mas também o lado pessoal. Eu me adaptei muito bem à cultura japonesa, ao ambiente, e isso foi um ponto bastante fortalecedor para a minha carreira tão longeva no Japão”,
“Eu percebo que o automobilismo japonês está tendo muito mais foco agora do que quando eu entrei. Mas quem conhece sabe o nível que isso aqui tem”
Super Fórmula
A Super Fórmula é considerada uma das categorias de monopostos mais rápidas e técnicas do mundo fora da Fórmula 1. João Paulo de Oliveira construiu seu nome na categoria, superando pilotos que se tornaram referências no automobilismo mundial, como André Lotterer e Loic Duval.
Para JP, o campeonato ainda é subestimado fora do Japão.
“Muitas vezes o piloto estrangeiro acaba subestimando a dificuldade. A Super Fórmula é uma categoria particular, onde até piloto de Fórmula 1 pode sentar no carro e não ser rápido."
O piloto também ressaltou a força do público japonês, algo que diferencia o campeonato de outras partes do mundo.
“A gente fala de 30, 40 mil pessoas numa etapa de Super Fórmula. Isso aqui no Brasil só acontece na Fórmula 1”.
A trajetória no Super GT
Se nos monopostos JP já era competitivo, foi no Super GT que ele alcançou alguns dos maiores feitos de sua carreira. Considerado um dos campeonatos de turismo mais fortes do mundo, o Super GT se destaca pela qualidade competitiva, rivalidade entre montadoras e pela grande presença de público, com etapas que chegam a reunir mais de 90 mil torcedores em circuitos como Fuji Speedway.
A categoria é dividida em duas classes principais: o GT500, que reúne carros de fábrica das grandes montadoras japonesas, e o GT300, que conta com maior diversidade de equipes, regulamentos distintos e um equilíbrio competitivo acentuado. João Paulo teve passagens marcantes por ambas.
No GT500, defendeu a Nissan em equipes clientes, competindo diretamente contra equipes de fábrica. A disputa, nesse cenário, era especialmente complexa, já que as equipes de fábrica contavam com maior estrutura, orçamento e acesso prioritário ao desenvolvimento dos carros.
“É muito difícil disputar um campeonato contra a equipe oficial. Você acaba competindo contra a fábrica, e isso muda completamente o jogo”,
A temporada de 2015 foi o ponto mais alto dessa fase. Ao longo do campeonato, João Paulo de Oliveira conseguiu superar a equipe oficial da Nissan em classificações, ritmo de corrida e desempenho em seus stints, chegando muito próximo do título. No entanto, nos momentos decisivos da temporada, a força da estrutura de fábrica acabou prevalecendo, e JP terminou o ano com o vice-campeonato, em uma das campanhas mais consistentes já feitas por uma equipe satélite no GT500.
“Foi um ano em que a gente conseguiu competir de igual para igual. Chegamos muito perto, mas no fim a equipe de fábrica se sobressaiu”.
Já no GT300, João Paulo de Oliveira encontrou um cenário mais favorável ao seu estilo de pilotagem. Com um pacote técnico mais equilibrado, maior diversidade de carros e equipes e uma competitividade distribuída ao longo do grid, o piloto conseguiu explorar ao máximo sua experiência.
O resultado dessa combinação foi o sucesso. JP conquistou o título do Super GT GT300 em 2020 e repetiu o feito em 2022, cravando seu nome como um dos grandes da história recente da categoria.
Experiência no endurance e possível retorno
O brasileiro também acumulou experiência no endurance mundial. João Paulo participou das 24 Horas de Nürburgring, uma das provas mais desafiadoras do automobilismo, com um desempenho expressivo em sua primeira participação, conseguindo andar entre os dez primeiros colocados nas horas iniciais da corrida. No entanto, a equipe acabou não concluindo a prova após um forte acidente envolvendo seu companheiro de equipe, Josh Burdon, que tirou o carro da disputa.
“Conseguir andar entre os dez primeiros em Nürburgring foi um objetivo realmente de performance. Foi muito bom na minha primeira participação”, relembrou.
O piloto também teve uma passagem pelo Campeonato Mundial de Endurance (WEC) em 2022, quando integrou a Floyd Vanwall Racing Team. Questionado pelo Parabólica sobre a possibilidade de um retorno ao novo projeto da equipe previsto para 2027, JP revelou:
“Eu fiquei sabendo internamente do projeto da Vanwall para 27 e sim, eles têm interesse que eu faça parte, pelo menos, do programa de desenvolvimento. Agora, eu não sei se com tudo que eu tenho acontecendo nesse momento, com Super GT, com Stock Car, vai ser tão fácil equilibrar. Mas seria muito legal. O WEC é uma categoria de altíssimo nível”
Automobilismo do Brasil
Ao analisar o cenário nacional, JP elogia a geração atual de pilotos de turismo, GT e endurance, destacando nomes como Igor Fraga, Felipe Fraga e Daniel Serra.
“São pilotos com experiência internacional. Já competi contra eles fora do Brasil e eles são uma referência”, afirmou.
Entre o Japão e o Brasil, João Paulo de Oliveira segue construindo uma carreira singular no automobilismo mundial. Mais do que títulos, sua trajetória é marcada por mudanças e respeito em um dos ambientes mais exigentes do esporte a motor. João Paulo de Oliveira fez do Japão um segundo lar e da longevidade, uma de suas maiores conquistas no automobilismo.