Brasília - Os dois principais clubes de futebol do Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio, estão sob suspeita de lavagem de dinheiro. Segundo documentação da Procuradoria Geral da República entregue à CPI do Futebol, no Senado Federal, o Inter teria usado contas no exterior para o depósito do dinheiro obtido com as vendas do zagueiro Gamarra e do atacante Christian. O Grêmio também teria usado contas no exterior nas vendas de Jardel e Paulo Nunes.
Examinando a documentação de um bingo (que a CPI não revela o nome) localizado na região central de Porto Alegre, a Procuradoria Geral da República constatou que o contrato do jogador Christian estava de posse dos empresários Juan José Mateu Valter, Emil Todorov e Luis Carlos Schuch. Segundo o ministério público, esses empresários exploram o bingo.
A venda do zagueiro Gamarra que saiu do Inter para o Benfica, de Portugal, teria segundo, a CPI conseguiu apurar, indícios de movimentação de contas no exterior “à margem da escrituração contábil” - o que configura crime contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro nacional.
A CPI teve acesso a contratos e correspondências entre empresários e clubes sobre a compra e venda de jogadores. Ainda de acordo com a documentação de posse da CPI, os recursos provenientes da venda de jogadores são depositados no exterior e podem ser destinados para fins diversos “como transferências para empresários, jogadores ou dirigentes, que se beneficiaram com a operação”.
Fax de um banco no exterior (que a CPI não revela o nome, nem o país) comunica ao Inter que está à disposição do clube US$ 1,1 milhão, em cumprimento do contrato da venda de Christian e que foi endereçado em 4 de setembro de 98 ao dirigente Paulo Rogério Amorety Souza, do Inter.
Na mesma investigação, foi localizado um outro recibo, no valor de US$ 500 mil assinado pelo vice-presidente de finanças do clube, Carlos Dix Silveira, como antecipação da primeira parcela do passe Christian. Foi localizado também comprovante de depósito no exterior no valor de US$ 500 mil.
A CPI também teve ainda acesso a um contrato entre o Grêmio e o empresário José Maria Minguella Llobet, em 16 de setembro de 95 referente à venda do jogador Jardel, cujo passe tinha o valor de US$ 1,8 milhão. Além disso, um fax de Juan José Mateo Valter à José Maria Minguella datado de 14 de dezembro de 95, informa o número de uma conta bancária no exterior para depósitos referentes aos passes dos jogadores Jardel e Paulo Nunes.
O Ministério Público apurou também que não existe na contabilidade, nem do Inter nem do Grêmio, “qualquer registro de conta no exterior no período de 97 a 99”. Essa documentação deverá ser apresentada nesta quarta-feira na CPI do Futebol para que sejam votadas as quebras de sigilo bancário e fiscal dos dirigentes dos dois clubes, dos empresários e dos donos do bingo.