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Wall Street vê corte do Fed como gestão de risco e antevê mais duas reduções no ano

Após o anúncio, probabilidade de um afrouxamento acumulado de mais 0,50 ponto porcentual até dezembro saltou de 48% para 90,6%, conforme levantamento

17 set 2025 - 20h56
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NOVA YORK — O esperado corte de juros nos Estados Unidos foi recebido em Wall Street como uma "gestão de risco" por parte do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), motivado sobretudo pelo enfraquecimento do mercado de trabalho. A forte queda no ritmo de geração de empregos na maior economia do mundo e a dificuldade de repasse das tarifas no varejo tornam provável, embora não garantida, a entrega de ao menos mais duas reduções até dezembro, enquanto a inflação segue pressionada, porém controlável.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) reduziu os juros em 0,25 ponto porcentual (25 pontos-base), para um intervalo de 4% a 4,25% ao ano, o primeiro ajuste de 2025. Nove dos 19 integrantes do Fomc projetam que os juros terminarão 2025 na faixa entre 3,50% e 3,75%, o que implica implicaria em mais duas reduções na taxa básica este ano no mesmo patamar da tesourada de setembro.

"Diante da mudança no equilíbrio de riscos atual, o Comitê Federal de Mercado Aberto decidiu reduzir nossa taxa básica de juros em 25 pontos-base", disse o presidente do Fed, Jerome Powell, ao comentar a decisão, em coletiva de imprensa, nesta quarta-feira.

De acordo com Powell, a fraqueza do mercado de trabalho americano tem mais a ver com política de imigração do presidente Donald Trump do que com suas tarifas. Ele não vê o corte de setembro tendo uma "enorme diferença" no país, mas o Fed não quer que as condições laborais se enfraqueçam mais.

"Foi um corte de gerenciamento de risco. As decisões seguirão reunião a reunião", diz Stephen Stanley, economista-chefe do Santander para os EUA. Ele lembra que mais de um terço dos dirigentes do Comitê não quer novos afrouxamentos e, por isso, mantém aposta em apenas mais um corte neste ano. Para Thomas Simons, economista do Jefferies, o discurso de Powell foi "mais pessimista" na maior parte do tempo, mencionando os riscos do mercado de trabalho. "Nada impede outro ajuste em outubro se os dados piorarem", avalia.

O economista-chefe do Morgan Stanley para os EUA, Michael Gapen, vê a decisão do Fed coerente com a "mudança no equilíbrio de riscos". Ele lembra que as projeções da autoridade melhoram a estimativa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) americano para 1,6% em 2025, ao mesmo tempo em que manteve o desemprego em 4,5%, combinação que legitima cortes consecutivos até janeiro.

Na mesma linha, Sarah House e Michael Pugliese, do Wells Fargo, avaliaram que o Fed deu uma "resposta equilibrada ao emprego fraco e a inflação ainda alta" no país. Eles projetam mais 0,5 ponto porcentual (50 pontos-base) de corte neste ano e duas reduções em 2026.

Após o anúncio, a probabilidade de um afrouxamento acumulado de mais 50 pontos-base até dezembro saltou de 48% para 90,6%, conforme levantamento da plataforma americana CME Group. "O mercado já precifica que o ciclo não se encerrará aqui", observou Powell, acrescentando que o Fed "não aprova nem desaprova" essas apostas. "Só estou dizendo que não se trata apenas de uma ação", afirmou.

Há quem defenda corte maior

Há, porém, vozes em Wall Street que defendem postura mais agressiva. Ian Shepherdson, da Pantheon Macroeconomics, acredita que o BC "esperou demais pelo pouso suave" e precisará cortar mais 50 pontos-base em 2025 e 75 pontos-base em 2026, pois projeta o desemprego "acima de 4,75% no início de 2026". James Knightley, economista-chefe internacional do ING, também vê necessidade de afrouxamento maior: "O mercado de trabalho enfraquece e o consumo arrefece; já há prêmio para taxas abaixo de 3% no segundo semestre de 2026".

Do lado oposto, Olivia Cross, da Capital Economics, lembra que o ritmo indicado pelo Fed é "menos agressivo que o esperado pelos mercados" e que as projeções mostram núcleo de inflação acima da meta do Fed mesmo com cortes. Dario Perkins, da TS Lombard, concorda que a autoridade está "focada no emprego", mas aposta em "reação mais rápida do mercado de trabalho, inflação mais pegajosa e cortes mais lentos", afirmando que "o discurso de recessão parece exagerado, como no verão passado".

Entre as divergências internas, o novo diretor Stephen Miran — indicado pelo presidente Trump — defendeu corte de 50 pontos-base, único dissidente na reunião de setembro, como parte dos operadores previam. Mas, segundo o presidente do Fed, sua posição "não teve apoio disseminado".

Powell minimizou a pressão política: "Estamos profundamente comprometidos com a independência" — declaração que, segundo analistas, buscou blindar a instituição após o comentário de Miran e as críticas da Casa Branca.

Tarifas no radar

Além do mercado de trabalho, as tarifas seguem no radar do BC americano. Powell reconheceu que os impostos sobre importações "começaram a elevar preços de alguns bens", mas disse acreditar em efeito "breve". Mesmo assim, a mediana das projeções para o núcleo do PCE ficou em 2,9% em 2025, sustentada pela expectativa de que parte do impacto se estenda a 2026.

Com projeções de crescimento ligeiramente melhores (PIB de 1,8% em 2026) e desemprego contido, o Fed aposta em ajuste calibrado. Porém, como resumiu House, do Wells Fargo, "o Fed não tem pressa de voltar à taxa neutra". Powell disse que a trajetória da política monetária americana não está "predefinida" e que as decisões serão tomadas a cada reunião, a depender dos dados. A frase resume o consenso — e a cautela — de que o Fed entrou em terreno novo: não há caminho livre de risco, mas a balança, para a maior parte dos observadores, pendeu o suficiente para justificar mais cortes no horizonte imediato.

Estadão
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