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Venture capital vira 'clube fechado' e compromete a inovação

Venture capital já foi o principal veículo para inovações mais disruptivas, mas faz tempo que isso não é mais assim. Entenda o que mudou

10 set 2023 - 06h10
(atualizado em 11/9/2023 às 17h59)
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Foto: Ries Bosch / Unsplash

Os fundos de venture capital têm em sua natureza o financiamento a empreendimentos experimentais, que têm a possibilidade de disruptar um mercado. O índice de eficiência é de 10%: ou seja, a cada dez projetos patrocinados, espera-se que apenas um "vingue".

A base do VC, portanto, deveria ser a experimentação. Deveria. A verdade é que, atualmente, raramente optam por negócios disruptivos, conforme conta Alexandre Nascimento, empreendedor e pesquisador em Inteligência Artificial pela Singularity University:

“Trata-se de um clube fechado com uma correlação altíssima, onde há uma tendência de um seguir o outro ao invés de apostar em algo que seja realmente diferente. Como a essência de inovar é fazer algo de um jeito diferente, talvez o venture capital esteja se tornando incompatível com a inovação real, infelizmente.”

Embora o venture capital tenha sido criado para financiar inovações a médio e curto prazo, o mais comum hoje é que busquem por inovações incrementais. "E, melhor ainda, que sejam daquelas que rapidamente tenham uma confirmação, como uma estratégia de ‘de-risking’”, continua Alexandre.

Onde estamos

Glaucia Guarcello, sócia-líder de Inovação e Ventures da Deloitte Brasil, deixa claro que o mercado de venture capital tem passado por muitas baixas nos últimos anos, e aponta vários motivos:

“Entre eles as perspectivas de valuation muito infladas, especulações grandiosas e perspectivas de um mundo pós-pandemia otimizadas demais, uma vez que o ‘novo normal’ não aconteceu exatamente como previsto. E tudo isso fez a bolha do VC estourar.” Dessa forma, outras formas de financiamento, como o próprio Corporate Venture Capital (CVC), passaram a ser mais atrativos até mesmo para o empreendedor.

Outro fator de atenção citado por Alexandre é que os investimentos nem sempre são decididos apenas pelo mérito do negócio, pois há questões de relacionamento envolvido:

“É comum entrar na conta dessa escolha o acesso que os investidos poderão trazer a novos Limited Partners (LPs), por pertencerem à rodas exclusivas.” Isso sem falar do conflito de interesse que acontece entre investir em negócios de retorno rápido, para poderem mostrar resultado e levantar novos fundos na sequência, ou em ideias prioritariamente disruptivas.

Para onde vamos

É por tudo isso que esse tipo de investimento precisa mudar - ou voltar ao que era. Glaucia lembra de certas características inerentes do venture capital que muitos investidores - especialmente os brasileiros - ainda não se acostumaram:

“O capital de um fundo VC deve ser paciente, já que é preciso um longo prazo para que uma solução disruptiva se torne viável e escalável. Além disso, o risco de insucesso é enorme. Por isso, penso que o investidor brasileiro ainda não está preparado para o venture em si - que é experimentar, testar e aceitar a falha ou o erro. Na ânsia de ter um resultado rápido, o que tem acontecido é a elevação do risco de inviabilizar uma inovação ou ‘matar uma boa ideia’ porque ela não trouxe resultados de curto prazo.” É tudo uma questão de expectativas e maturidade para seguir o modelo proposto.

“O modelo de venture capital precisa ser redesenhado, pois há um enorme conflito de interesses e alinhamento entre os gestores do fundo, os sócios e os empreendedores que realmente buscam inovações disruptivas. Disruptar uma indústria pode levar mais de duas décadas [veja a Amazon, por exemplo], e não encontramos esse tipo de apetite em ventures capital para bancar uma aventura dessas”, resume Alexandre, deixando claro que é lógico que existem exceções: “E, para o futuro e por eliminação, entendo que as iniciativas de open innovation são o melhor caminho para inovações disruptivas”, finaliza.

(*) Renata Armas é redatora do Unbox Project, uma iniciativa criada por Adriele Marchesini, Rodrigo Guerra e Silvia Paladino para desencaixotar o pensamento crítico que deve(ria) anteceder a inovação.

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