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Um mês antes de IPO da XP, Bradesco relança corretora Ágora em ofensiva por pessoas físicas

'Nova' Ágora chega com 150 mil clientes ativos, R$ 50 bilhões sob custódia e com 16% do mercado no segmento de renda variável

13 nov 2019 - 17h52
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Um mês antes de uma das aberturas de capital mais aguardadas pelo mercado este ano, a da XP Investimentos, o Bradesco ressuscitou a corretora Ágora, que passará a concentrar os clientes de varejo do banco. A reestruturação, prevista para ser concluída no início de 2020, ocorre em meio à corrida das pessoas físicas para ativos de maior risco em um cenário de juros baixos.

Com a mudança, a ideia é deixar "dentro de casa", na Bradesco Corretora, os investidores institucionais como fundos de pensão. Em paralelo, a Ágora assumirá, em até 120 dias, as operações dos clientes pessoas físicas, incluindo o segmento de alta renda, e pequenas empresas.

A "nova" Ágora nasce como uma plataforma aberta de investimentos com mais de 800 mil clientes, sendo 150 mil ativos, e cerca de R$ 50 bilhões em ativos sob custódia, que a coloca como terceira maior corretora do País, com 16% do mercado no segmento de renda variável. Além disso, será a corretora dos cerca de 1,5 milhão dos correntistas do banco digital do Bradesco, o Next, e ainda do recém-adquirido BAC, na Flórida, que será o braço internacional da corretora.

O Bradesco pretende abocanhar um terço do mercado de varejo de renda variável em até três anos, encostando nos rivais Itaú Unibanco, com 17%, e XP, na liderança com cerca de 50%. "Não temos obsessão pela liderança, mas queremos encurtar a distância em relação ao primeiro colocado", disse o vice-presidente do Bradesco, Cassiano Scarpelli, em conversa com a imprensa, nesta quarta-feira, 13. Além de 27 milhões de correntistas, o banco tem ao todo 71 milhões de clientes.

O movimento do Bradesco ocorre 11 anos depois de adquirir a Ágora, considerada a "XP de antigamente", dado o potencial que era identificado no mercado na época, além de sua estrutura, considerada moderna para o ano. De lá para cá, porém, o negócio não teve seu potencial explorado, o que sustentou uma visão no mercado de que o banco comprou o negócio em uma estratégia defensiva.

O Bradesco quer resgatar a Ágora para aproveitar a onda de migração de recursos em renda fixa e que pode estar ainda muito no princípio. O número de pessoas físicas na Bolsa brasileira praticamente dobrou neste ano, batendo a marca recorde de 1,5 milhão de CPFs na B3.

Mudança tardia

No mercado, o movimento do banco é visto como acertado, o que não torna os desafios menores. A percepção, no geral, é que a mudança é tardia e dar musculatura à Ágora para capitalizar o crescimento do varejo no Brasil deveria ter sido feito ainda em 2008, quando a compra foi realizada. "O movimento é certo, mas muito tarde", comenta uma fonte de mercado, na condição de anonimato.

"Já entramos em outros segmentos de forma tardia, como em custódia, e cinco anos depois éramos líderes. É um desafio, mas acho que nascemos bem", avaliou o vice-presidente do banco.

O Bradesco não cogita, ao menos por ora, utilizar agentes autônomos, mas sua força interna de vendas. O que afasta o banco desse universo, conforme o vice-presidente da instituição, é a disputa jurídica entre a XP e o BTG Pactual em torno da exclusividade desses profissionais.

A visão é de que os grandes bancos ficaram sem saída em um cenário de maior concorrência com novos entrantes. O maior banco privado da América Latina, o Itaú Unibanco, por exemplo, comprou há dois anos 49% da XP, após assinar um cheque considerado alto na época. O preço hoje é apontado como baixo, tendo em vista o preço que a companhia pode estrear na Bolsa americana Nasdaq em dezembro: é esperado um valor acima de R$ 60 bilhões. O Santander Brasil apostou em uma plataforma própria, a Pi Investimentos.

"Trata-se de uma tendência de mercado, a partir de uma oferta mais ampla de produtos de investimento, inclusive de terceiros, com conceito de plataforma aberta", comenta uma fonte de mercado. Além dos grandes bancos abrindo suas plataformas de investimentos para fazer frente à concorrência, os bancos médios também olham o nicho, que vem sendo mordido pelas beiradas pelos players digitais, que ano a ano se multiplicam.

Para Scarpelli, a tendência, contudo, é de consolidação no futuro, devido ao limite da estratégia da taxa zero em algumas opções de investimentos. No curto prazo, porém, ele vê as receitas do setor de investimento sob pressão em meio à maior concorrência no segmento. A própria nova versão da Ágora já nasce com isenção em custódia e corretagem."Quando tudo é isentado, o produto é você", rebateu.

Integração com o banco

O Bradesco aposta na possibilidade de integrar a corretora com o banco, o que não ocorre na concorrência. além disso, planeja uma ação pesada nos canais digitais e redes sociais para atrair mais clientes. "A XP é um concorrente de peso, mas não é uma marca 100% do Itaú. O banco não tem domínio", observou o diretor executivo do Bradesco, Leandro Miranda.

Para repaginar a Ágora, principalmente sob o ponto de vista tecnológico, uma das principais críticas do mercado diante da nova reorganização do banco na área de corretagem, o Bradesco investiu R$ 150 milhões. O home broker, ferramenta para compra e venda de ações, foi todo repaginado, assim como a estrutura da corretora para receber os clientes do Bradesco.

"O home broker era um dos principais entraves, visto que teve pouca evolução desde 2008, quando o Bradesco comprou a Ágora", observou um analista que acompanha o banco, ressaltando o desafio do sistema em concentrar mais de 800 mil contas.

Um passo natural seria uma futura abertura de capital. O vice-presidente do banco disse que "todas as cartas estão na mesa", mas que o foco agora não é esse, e sim fortalecer a empresa para crescer no mercado frente a concorrência. "É um caminho natural, uma possibilidade, afinal esse tem sido o destino de fintechs e corretoras, mas não temos um prazo", acrescentou Miranda.

Estadão
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