Supergasbras quer comercializar a partir de 2026 no Brasil o BioGL, a versão renovável do GLP
Para acelerar o projeto, a Supergasbras firmou parcerias com seis universidades federais brasileiras, duas no Rio, além de Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia
A Supergasbras, uma das quatro maiores distribuidoras de GLP do País, com 21% do mercado, estuda trazer para o Brasil a experiência europeia de seu controlador, o grupo holandês SHV Energy, na comercialização de bioGL, a versão renovável do GLP, informou ao Estadão/Broadcast o presidente da companhia, Júlio Cardoso. O executivo é um dos grandes entusiastas do programa Gás do Povo e totalmente contrário a mudanças na regulamentação do setor, que considera "excelente".
"A gente já comercializa bioGL na Europa pelo grupo SHV. Lá a gente já tirou o P (de petróleo) e estamos conversando com eles para trazer o produto para cá. A gente já tem oportunidades de ter esse produto no Brasil e está trabalhando no desenvolvimento de bioGL aqui também", disse Cardoso. Por questão de confidencialidade, o executivo não pode divulgar o nome dos parceiros, mas prevê para o ano que vem o início da comercialização do bioGL no País.
Para acelerar o projeto, a Supergasbras firmou parcerias com seis universidades federais brasileiras, duas no Rio (UFF e UFRJ), além de Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia. As fontes pesquisadas vão da cana-de-açúcar e milho até resíduos, principalmente o plástico descartado. "A gente está trabalhando de várias formas, atuando em várias frentes. Podemos importar, mas ano que vem já tem bioGL sendo produzido no mercado brasileiro", disse Cardoso, destacando que o produto renovável é igual ao GLP e não exigirá substituição de equipamentos.
Segurança
Cardoso participou nesta quinta-feira, 25, de painel sobre segurança na Liquid Gas Week, feira internacional do setor de GLP. Considerado um dos mercados mais desenvolvidos do mundo nesse segmento, o Brasil serve de exemplo para outros países, mas, na avaliação do executivo, corre o risco de perder esse status se houver mudanças nas regras da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A agência analisa, no momento, propostas como o fracionamento dos botijões e a quebra da exclusividade das marcas. Se aprovadas, o consumidor poderia comprar volumes menores que o botijão de 13 quilos e trocar de fornecedor com o mesmo vasilhame, que não teria mais marca como atualmente.
"A regulação atual do GLP no Brasil é um exemplo, é excelente, sempre pode ter uma oportunidade de reajuste pequeno, mas a essência da legislação brasileira, que é a responsabilidade do cilindro ser das distribuidoras, manutenção, requalificação, sucateamento e reposição isso é um presente para o consumidor brasileiro", avaliou. "Mas é importante que ele (GLP) seja seguro. A gente é obrigado a requalificar o botijão a cada dez anos, a gente investe nisso", explicou. "Hoje em dia não temos enchimento ilegal (de botijões) porque temos a regulação adequada."
De acordo com Cardoso, se a regulação for alterada, investimentos provavelmente deixarão de ser feitos no setor, inclusive pela própria Supergasbras, que poderá suspender projetos como o terminal de GLP de R$ 1,5 bilhão no Porto de Pecém, no Ceará, cujas obras começam em 2026, para importação do combustível. "Se a legislação mudar, dificilmente virão investimentos para cá. A gente está com o investimento no Pecém andando, ele está indo, mas ele é reversível, ainda é reversível", explicou.
Além disso, outro investimento que pode ficar pelo caminho, caso a regulamentação atual seja alterada, é a compra de mais 2 milhões de botijões de 13 quilos — que se somam aos 23 milhões atuais — para atender o programa Gás do Povo, lançado pelo governo, um gasto de cerca de R$ 500 milhões, quase o mesmo valor que a empresa investe anualmente no País (R$ 400 milhões). "Estamos aguardando para ter certeza da regulação (antes de comprar os novos botijões)", disse Cardoso.
O executivo elogia o programa do governo que substituiu o vale-gás, "usado para comprar qualquer coisa", e que deve aumentar a demanda pelo GLP entre 5% e 8%, segundo o sindicato do setor (Sindigás). Ele afirma que, assim como a regulamentação brasileira, o programa tem vocação para ser copiado no mundo inteiro. De acordo com declaração do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, feita esta semana no evento, mais de 60 países em desenvolvimento já procuraram o governo para conhecer o Gás do Povo.
"Acho que é uma evolução incrível. É o maior programa de clean cooking (cozinha limpa) do mundo. Todos os países, todas as empresas estão tentando trabalhar a substituição da lenha. A gente apoia esse movimento do ponto de vista ambiental, do ponto de vista da segurança do consumidor e também obviamente a questão social, acho que o governo está fazendo o certo", avaliou.