'Divisões no Brasil permanecem muito vivas', diz diretor da Eurasia
Para Christopher Garman, a expectativa é que governo Trump reaja à condenação de Bolsonaro, mas ainda é difícil antecipar ações
NOVA YORK — O diretor da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, não vê a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro como uma virada de página capaz de pacificar o Brasil. A opinião pública sobre o julgamento do ex-presidente está exatamente em linha com a visão partidária dos brasileiros, segundo Garman.
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta quinta-feira, 11, Bolsonaro por tentar dar um golpe de Estado após perder as eleições de 2022. A pena foi fixada em 27 anos e três meses em regime inicial fechado. "As divisões permanecem muito vivas após essa decisão", disse Garman, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
O segundo reflexo da condenação de Bolsonaro é uma possível reação por parte do governo do presidente Donald Trump, por meio da adoção de mais sanções contra o Brasil, de acordo com o diretor da Eurasia. Garman afirmou, porém, que é "difícil" antecipar quais medidas os americanos devem adotar.
Entre possíveis novas sanções ao Brasil, Garman cita a extensão da Lei Magnitsky a outros ministros que votaram a favor da condenação de Bolsonaro e aos familiares deles. O placar foi de 4 votos a 1 pela condenação. Além do relator do caso, Alexandre de Moraes, votaram a favor os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia. Luiz Fux se manifestou pela absolvição do ex-presidente.
Os EUA também podem adotar tarifas secundárias ao Brasil pela compra do petróleo russo. "Talvez não seja imediato, mas é algo que também pode vir", disse Garman.
Quanto aos impactos econômicos de novas sanções americanas, o diretor da Eurasia considera a probabilidade baixa, mas alerta para o risco de eventual retaliação. "Se o governo Lula reagir com retaliações, podemos ter uma escalada. Não é a nossa aposta, mas é um risco que estamos monitorando."