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Presidente do BC defende mudar financiamento da casa própria e oferecer juros mais baixos

Gabriel Galípolo afirmou que é preciso fazer uma migração gradual do modelo por causa da queda estrutural dos saldos da poupança, usada para financiar imóveis

8 jul 2025 - 14h26
(atualizado às 15h16)
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BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira, 8, que é preciso fazer uma migração gradual do modelo de financiamento do crédito imobiliário. Isso é importante por causa da queda estrutural dos saldos da poupança, usada para financiar a modalidade, e para "normalizar" esse crédito, adequando-o à política monetária.

"É um tema que estamos trabalhando para ver se conseguimos fazer um caminho de transição do modelo antigo para um modelo novo, que não vai ser do dia para a noite, vai ser um processo longo", disse Galípolo, durante palestra em um evento da Frente Parlamentar de Empreendedorismo (FPE), em Brasília. "É uma agenda estrutural que a gente acha importante."

Ele explicou que apenas a poupança é financiada pela Taxa Referencial (TR), o que significa que o crédito imobiliário é uma das únicas linhas com juros equivalentes à TR mais um prêmio, e isso trava a modalidade.

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, defendeu mudança gradual no modelo de financiamento de imóveis, hoje centrado na poupança
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, defendeu mudança gradual no modelo de financiamento de imóveis, hoje centrado na poupança
Foto: Wilton Junior / Estadão / Estadão

"Se você tem só a poupança que está na TR, e, do outro lado, só o crédito imobiliário com juro da TR mais alguma coisa, você fica casado com isso durante todo o período de financiamento. Então o que você não tem? Você não tem securitização, esse crédito não roda", afirmou.

Pouco antes, Galípolo voltou a mencionar que o Pix em Garantia, que faz parte da agenda evolutiva do BC, também é uma medida estrutural que deve reduzir o custo do crédito.

Ampliar acesso a crédito mais barato

O presidente do BC também disse que é importante ampliar o acesso da população a linhas de crédito de menor custo.

Linhas com juros muito altos diminuem a sensibilidade do crédito à política monetária, ele destacou.

"Temos de tentar facilitar o acesso a essas linhas de crédito, que são adequadas para o problema das pessoas."

Galípolo voltou a defender a importância de aumentar a colateralização do crédito, de forma a reduzir a percepção de risco e os juros cobrados.

A agenda de inovação do BC, ele disse, é importante por aumentar a liquidez de ativos e facilitar o uso de garantias.

Brasil está em posição 'privilegiada' no ambiente internacional

Galípolo afirmou que o Brasil tem uma posição privilegiada em relação a outros países, em meio ao ambiente internacional de incertezas elevadas. Ele citou a segurança alimentar e a matriz energética limpa como ativos do País.

"O Brasil é um país que tem parceiros comerciais bastante diversificados e, no momento de tanta incerteza, isso faz diferença. Você sofre menos com uma decisão bilateral", disse o presidente do BC, respondendo a perguntas durante o evento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo.

Ele afirmou que nos últimos anos o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tem sido puxado por um binômio de consumo ou anos excepcionais da agricultura.

Aumento da autonomia do BC

O presidente do Banco Central defendeu a importância de garantir a autonomia financeira e orçamentária para a autarquia.

"Essa é uma grande discussão que eu acho que é um ponto muito importante para a gente conseguir avançar, e com certeza o parlamento pode nos ajudar", disse, durante almoço com parlamentares.

Durante a palestra, Galípolo lembrou que a autarquia tem perdido servidores, porque a realização de concursos públicos não acompanha o ritmo das aposentadorias. Isso ocorre em meio ao crescimento do número de instituições supervisionadas, ele disse.

Ele também destacou que, cada vez mais, é necessário investir em tecnologia, o que demanda novos recursos. Ele declarou que o BC deseja ser transparente e prestar contas à sociedade, e que a autonomia não vai contra esse quadro.

BCs no mundo precisam ter mais poder regulatório

Galípolo defendeu que é urgente debater o poder regulatório dos bancos centrais todo o mundo, diante da corrida da liquidez para instituições financeiras não-bancárias (NBFIs), que aumentaram sua participação na concessão de crédito e em leilões de títulos públicos.

Segundo ele, há um debate internacional sobre a necessidade de os bancos centrais acessarem essas instituições, em caso de problemas de liquidez.

"Só dar o socorro na hora que der o problema não é o adequado, eu gostaria também de fazer a regulação e a supervisão desses entes", disse o presidente do BC.

"É muito importante que a gente volte a discutir o que é o perímetro regulatório e de observância das autoridades monetárias, a extensão desse perímetro."

No caso do Brasil, esse processo passa pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) número 65. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o BC quer usar o texto - que originalmente trata da autonomia financeira e orçamentária - para ampliar o seu alcance regulatório, de olho na migração do crédito para o mercado de capitais e em outros fatores.

"Discutir o perímetro regulatório não envolve simplesmente falar legalmente: você tem que falar legalmente, e você tem que dar condições para fiscalizar", disse Galípolo.

"Por isso que entra neste outro tema do avanço institucional e excelência, que tem muito a ver com a discussão de fazer uma atualização do arcabouço legal e institucional do Banco Central. Para dar nome aqui, é a questão da PEC do Banco Central."

Investimento de segurança contra ataques hackers

Galípolo disse que o avanço dos sistemas de pagamento observado nos últimos anos no Brasil exige investimentos em segurança, e que isso demanda recursos para a autoridade monetária - que podem ser obtidos com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65.

 "A PEC é assim: eu não quero competir com os recursos que o governo hoje já tem, ou que o Estado tem que ter. O Banco Central tem condições de fazer, e que se fiscalize, da maneira que se achar mais transparente e público. Mas a gente precisa dessa liberdade para ter esses recursos e fazer isso", afirmou.

As falas ocorreram enquanto o presidente do BC respondia a perguntas sobre o incidente de segurança que atingiu a C&M Software na semana passada, e resultou em um desvio de ao menos R$ 800 milhões.

Sobre o tema específico, ele destacou que o desvio resultou de um trabalho interno, e não de um ataque hacker, e que as barreiras de segurança funcionaram para impedir o acesso dos criminosos a contas de usuários finais e a sistemas do BC.

"Com todos os avanços que aconteceram, cada vez mais a gente vai assistir esse tipo de coisa se desenvolver. E por isso que é importante que os benefícios que hoje a gente dá como dado - hoje eu consigo fazer com a facilidade que a gente consegue fazer pagamento e acessar - tudo isso é um grande benefício que o Brasil oferece. Mas, com isso, precisa crescer os investimentos em segurança que a gente precisa fazer", disse.

Comunicação do BC afeta política monetária

Galípolo que a potência e a efetividade da política monetária têm a ver com a capacidade que a autarquia tem de comunicar suas decisões.

Ele destacou que a comunicação sobre política monetária tem um dialeto próprio, e é importante que os bancos centrais possam se comunicar também com a sociedade como um todo.

"A obrigação é do Banco Central de conseguir modular o seu discurso, conseguir amplificar e atingir uma camada maior da sociedade a partir da sua comunicação e da informação", disse Galípolo, ponderando que é necessário segmentar a comunicação.

Fatores como a prevenção de golpes de fraudes também exigem uma nova comunicação, mais aberta, ele afirmou. Galípolo elogiou a qualificação técnica da equipe voltada à comunicação na autarquia.

Economia dinâmica surpreende, mesmo com juros altos

O presidente do BC voltou a afirmar que é necessário "normalizar" a política monetária do Brasil.

Ele repetiu que há indícios de entupimento nos canais de transmissão da taxa Selic para a economia, o que exige juros mais altos do que em países semelhantes.

"O tema que geralmente causa estranheza quando você conversa com outros economistas de outros países, especialmente outros banqueiros centrais, é como é que o Brasil convive com taxas de juros num patamar mais elevado, e ainda assim consegue performar do ponto de vista de apresentar uma atividade econômica dinâmica", disse Galípolo.

Ele destacou que alguns subsídios cruzados parecem ter impacto na transmissão da política monetária e citou como exemplo o uso do crédito rotativo pelas famílias. Como os juros da modalidade superam em muito a Selic, eles são pouco sensíveis à taxa básica.

"Subir de 10% para 15% [a Selic] tem basicamente o mesmo efeito para o cara que está pagando uma taxa de 300%. A sensibilidade é baixa", disse.

O presidente do BC mencionou, ainda, que uma série de empresas no Brasil consegue emitir títulos de dívida com juros menores do que os de emissões do Tesouro Nacional.

Também citou o financiamento imobiliário, dependente da caderneta de poupança, que rende menos do que a taxa básica de juros e cujo financiamento vem caindo estruturalmente, segundo ele.

"Como a gente consegue desfazer algumas dessas distorções? Não vai ser simples", disse Galípolo. "Nesse caso, não vai ter uma bala de prata."

Estadão
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