Prejuízo dos Correios sobe para R$ 6,05 bilhões até o terceiro trimestre do ano
Valor é quase o triplo do registrado no mesmo período de 2024; empresa negocia plano de recuperação que prevê empréstimo de R$ 20 bi com garantia do Tesouro
BRASÍLIA - Os Correios registraram prejuízo de R$ 6,05 bilhões até o terceiro trimestre de 2025, informou a estatal em divulgação de resultados nesta sexta-feira. O valor é quase o triplo do prejuízo de R$ 2,13 bilhões do mesmo período do ano passado.
"Conforme cenário previsto pela Administração, o prejuízo acumulado chegou a R$ 6 bilhões até setembro", afirmou a companhia em comunicado aos seus funcionários, pouco antes da divulgação do balanço.
Apenas no terceiro trimestre, o prejuízo foi de R$ 1,69 bilhão, contra R$ 785 milhões do mesmo período de 2024.
Segundo a empresa, no período, houve redução de receitas e aumento de despesas e, por isso, é necessário a aprovação do plano de recuperação que prevê um empréstimo de até R$ 20 bilhões garantido pelo Tesouro.
"Nesse período, houve redução nas receitas e aumento nas despesas operacionais, além de maior exigência na gestão das obrigações judiciais e trabalhistas - fatores que influenciaram os indicadores e reforçaram a importância das medidas estratégicas já em curso para reequilibrar as finanças da empresa", disse a companhia.
De janeiro a setembro, as receitas da empresa sofreram uma queda de 12,72%, caindo de R$ 14,15 bilhões, em 2024, para R$ 12,35 bilhões, em 2025.
Ao mesmo tempo, houve forte aumento das despesas gerais e administrativas, que saltaram 53%, de R$ 3,13 bilhões para R$ 4,81 bilhões.
Outro grupo de gastos que também que também subiu fortemente foras as despesas financeiras, de R$ 466 milhões para R$ 1,09 bilhão, um aumento de 133%.
"Os Correios ainda enfrentam desafios estruturais que comprometem sua competitividade, como a redução das receitas em linhas tradicionais, a intensificação da concorrência em segmentos de maior rentabilidade, a rigidez dos custos decorrente da obrigação de atender todos os municípios independentemente da demanda ou rentabilidade", disse a companhia.
A empresa também destacou que houve aumento de gastos com pessoal, em virtude de reajuste salarial de 4,11%, após acordo coletivo e despesas com Programa de Demissão Voluntária (PDV).
"O incremento no custo com pessoal deve-se ao reajuste salarial e outros benefícios aos empregados, estabelecidos no Acordo Coletivo de Trabalho 2024/2025, bem como os desembolsos gerados pelo PDV/2024. Destaca-se o reajuste linearde 4,11% para mais de 55 mil empregados e o resgate da cláusula sobre a gratificação de 70% de férias", disse a empresa.
Plano de recuperação
Na última semana, os Correios aprovaram o plano de recuperação, que contempla três fases: recuperação financeira, consolidação e crescimento.
"Nos próximos 12 meses, os recursos serão aplicados em medidas determinantes, tais como: Programa de Demissão Voluntária e remodelagem dos custos com plano de saúde; 100% de adimplência com fornecedores; modernização e readequação do modelo operacional e infraestrutura tecnológica; liquidez assegurada durante a evolução do modelo econômico da empresa ao longo de 2026?, afirmaram os Correios.
Em setembro, conforme antecipou o Estadão, Emmanuel Rondon assumiu a companhia, no lugar do advogado Fabiano Silva dos Santos.
Desde que assumiu o cargo, Rondon tem dito a interlocutores que não existe "bala de prata" para reverter a crise da empresa. Antes mesmo de aceitar o posto, ele identificou um descasamento de R$ 7,6 bilhões entre ativos e passivos de curto prazo da empresa, de menos de 12 meses, o que motivou o pedido de empréstimo com aval do governo federal.
"A Administração dos Correios está totalmente comprometida em conduzir esse processo com diálogo, responsabilidade etransparência. É um plano robusto, com ações firmes que exigirão compromisso com o resultado esperado, pois todas asiniciativas serão fundamentais para assegurar o futuro dos Correios enquanto uma empresa pública", disse a empresa em seu balanço.
O fluxo de caixa da empresa foi projetado até dezembro de 2025, e o pedido de R$ 20 bilhões visa quitar o empréstimo atual da companhia, no valor de R$ 1,8 bilhão com um grupo de bancos, além de regularizar dívidas com fornecedores, cobrir a folha de pagamentos e realizar investimentos.
Na última semana, a empresa aprovou o plano de recuperação e agora aguarda a proposta dos bancos com as condições para o empréstimo. Tudo isso terá de ser avaliado e aprovado pelo Tesouro Nacional, que será o avalista da operação.
Como mostrou o Estadão, o empréstimo de R$ 20 bilhões é maior do que qualquer outra garantia concedida pela União para estatais, Estados e municípios nos últimos 15 anos.