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Petrobras reajusta preço da gasolina e do diesel a partir deste sábado

Aumento será de 5,2% para a gasolina e de 14,2% para o diesel, considerando o preço dos combustíveis para as distribuidoras

17 jun 2022 - 10h43
(atualizado às 12h03)
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RIO - A Petrobras não cedeu às pressões do governo e de autoridades ligadas ao presidente Jair Bolsonaro e aumentou os preços do diesel e da gasolina nesta sexta-feira, 17. A gasolina será reajustada em 5,2%, passando a custar R$ 4,06 o litro nas refinarias da estatal, em um aumento de 20 centavos. Já o diesel será reajustado em 14,2% e passará a custar R$ 5,61 o litro, um aumento de 70 centavos. Os novos preços entram em vigor neste sábado, 18, nas refinarias da Petrobras. A decisão de elevar os preços nas bombas, no entanto, cabe às distribuidoras e aos donos dos postos de combustíveis.

A gasolina estava congelada há 99 dias, e o diesel passou 39 dias sem aumentos da Petrobras. Em nota enviada à imprensa, a estatal afirmou que "é sensível ao momento que o Brasil e o mundo enfrentam, de alta de preços, rebatendo declarações que vêm sendo feitas nas últimas semanas por Bolsonaro.

O reajuste ocorre em meio a uma queda de braço entre a liderança da estatal e o governo, que pressionava para que a empresa não fizesse um aumento do preço dos combustíveis enquanto o Congresso discute uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para compensar os Estados que zerarem a alíquota do ICMS sobre o diesel e o gás de cozinha.

Um pouco antes do anúncio do reajuste da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro afirmou a empresa pode "mergulhar o Brasil num caos" e reforçou a posição do governo contrária a qualquer reajuste dos combustíveis. "A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo", escreveu o chefe do Executivo no Twitter, pouco antes de a Petrobras anunciar o novo reajuste do diesel e da gasolina.

Os reajustes anunciados nesta sexta refletem a disparada dos preços dos derivados no mercado internacional, seguindo a alta do petróleo por causa da maior demanda e do fechamento de refinarias em meio à guerra entre a Rússia e Ucrânia. Nesta sexta-feira, 17, os contratos do petróleo tipo Brent para agosto eram comercializados a US$ 119,5 o barril. O câmbio também não está ajudando e já ultrapassa os R$ 5, com a cautela dos investidores impulsionando a moeda americana.

O aumento, no entanto, ficou abaixo do necessário para zerar a defasagem entre o preço da Petrobras e o praticado no mercado externo. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para alinhar o preço interno com o praticado no Golfo do México, de onde sai a maioria das cargas, o aumento deveria ser de R$ 0,57 para a gasolina e R$ 1,37 para o diesel, diante de defasagens de 13% e 21%, respectivamente.

Em nota, a Petrobras afirmou que busca o equilíbrio de preços com o mercado global, e evita trazer a instabilidade do mercado internacional para o País, tanto que manteve o preços da gasolina congelado por 99 dias e do diesel por 39 dias, prática que não é comum a outros fornecedores no Brasil e nem fora do País. A Acelen, por exemplo, única refinaria de grande porte privada brasileira, reajusta os preços semanalmente.

O Brasil produz entre 70% e 80% do diesel que consome e 97% da gasolina. Sem as importações complementares, o abastecimento pode correr risco no segundo semestre do ano, quando é previsto aumento da demanda interna, devido ao transporte da safra, combinado com aperto da oferta por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

A Petrobras disse que o mercado de energia passa por um momento desafiador, pelo impacto da recuperação econômica e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que reduziram a oferta e aumentaram a demanda, principalmente por diesel.

Em resposta às críticas do governo a empresa explicou também, que apesar de impactar os preços, a conjuntura tem gerado recursos públicos bilionários, destacando que em 2021 pagou R$ 203 bilhões entre impostos, royalties e participações especiais, e que este ano, até julho, vai desembolsar R$ 32 bilhões para os cofres públicos.

Tensão com o governo

A alta dos combustíveis tem sido ponto de tensão entre a Petrobras e o governo. O presidente Jair Bolsonaro critica a companhia pelos altos lucros e distribuição de dividendos bilionários, inclusive para a União, e pedia para que novos reajustes não fossem realizados.

Pelo estatuto da estatal, um eventual prejuízo provocado pelo seu acionista controlador (União) tem que ser compensado, ou seja, para segurar os preços em relação ao mercado internacional, a União teria que pagar a diferença à Petrobras.

Nos últimos dias, outras autoridades ligadas a Bolsonaro vieram a público reclamar da estatal, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

Ontem, Lira chegou a dizer que a Petrobras "declarou estado de guerra ao povo brasileiro", e que a empresa age como "inimiga do Brasil". Já o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, do mesmo partido de Lira, disse que a Petrobras "não é de seus diretores. É do Brasil".

O presidente Jair Bolsonaro já trocou três presidentes da Petrobras nos três anos e meio de mandato por conta da alta de preços. O atual presidente, José Mauro Coelho, foi a demissão mais recente. Como mostrou o Estadão, Coelho está sendo pressionado a renunciar ao cargo para apressar a troca pelo indicado de Bolsonaro, o secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade. Com a renúncia, Paes de Andrade não teria que esperar a realização de uma assembleia de acionistas, mas Coelho já afirmou algumas vezes que não vai renunciar.

A decisão do reajuste dos combustíveis é tomada por três membros da diretoria: o presidente da empresa, o diretor de Comercialização (Claudio Mastella), e o diretor Financeiro e de Relações com os Investidores (Rodrigo Araújo). Segundo fontes, os dois diretores também serão demitidos depois que Paes de Andrade tomar posse.

Paridade de preços internacionais

Desde 2016, a empresa pratica a política de preços de paridade de importação (PPI), que significa manter os preços alinhados ao mercado internacional. O PPI leva em conta o preço do petróleo e o câmbio - que dispararam esta semana -, somado aos custos de importação, também elevados na esteira da alta do setor.

Se a empresa não seguir essa política, outros importadores não conseguem concorrer com os preços mais baixos da Petrobras no mercado interno.

Estadão
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