'NYT': protecionismo ajuda Índia a crescer na crise
Heather Timmons
Enquanto a maior parte do mundo enfrenta uma crise financeira paralisante e uma recessão, em boa parte da Índia reina o otimismo, e a economia do país continua a crescer.
A economia indiana, com um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de US$ 1 trilhão, continua a ser um ponto positivo, dizem alguns, em parte por que a burocracia do país e suas políticas protecionistas o mantiveram isolado das conseqüências da desaceleração mundial.
"A Índia não é tão vulnerável" quanto outros países, disse Rajeev Malik, economista chefe da Macquarie Capital para a Índia e o Sudeste Asiático e autor de um recente relatório intitulado "Índia: Melhor do que a Maioria dos Demais".
A Índia recentemente reportou que o crescimento anualizado de sua economia ficou em 5,3% no quarto trimestre de 2008, ante o período no ano anterior. Embora isso represente queda ante os 7,6% de crescimento do trimestre anterior, é um forte contraste diante da reacomodação registrada em outros países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o PIB caiu em 6,2% no trimestre final do ano, e o Japão reportou queda anualizada de 12,7% em sua economia.
Os defensores do livre mercado freqüentemente se queixam de muitas das políticas econômicas indianas, entre as quais um sistema financeiro dominado pelo Estado e desconectado dos mercados internacionais, crescimento lento das exportações devido ao excesso de burocracia e à infra-estrutura ineficaz, e centenas de milhões de agricultores que cultivam safras destinadas principalmente ao consumo interno. Mas essas políticas ajudaram o país a manter terreno enquanto o mundo desliza para a recessão.
O banco central indiano costuma agir rapidamente e ainda tem espaço para cortar os juros, e ajudou a aliviar os fluxos de capital, enquanto o governo interferiu com medidas de estímulo aos gastos e cortes de impostos.
Isso não implica dizer que todas as notícias são positivas. Tanto a agricultura quanto a indústria se contraíram ligeiramente no último trimestre, e os pacotes de estímulo do governo que visavam a manter a economia crescendo podem prejudicar o país em longo prazo.
No mês passado, a agência de classificação de crédito Standard & Poor''s revisou sua projeção de longo prazo para a dívida soberana indiana de "estável" para "negativa", mencionando o aumento nos gastos públicos. O déficit geral do governo, como porcentagem do PIB, deve dobrar, para 11,4%, no ano que vem, um nível "insustentável em médio prazo".
Além disso, a maior parte das projeções otimistas não leva em conta os milhões de indianos que dependem de dinheiro remetido por parentes no exterior. A Índia recebe US$ 20 bilhões em remessas de dinheiro vindas do exterior, o maior valor mundial.
Algumas áreas, como o Estado de Kerala, devem ser especialmente prejudicadas pela perda de empregos no setor de construção civil do Oriente Médio.
Mas em outras regiões do país, o bom momento econômico não é apenas uma memória distante. A capitalização de mercado do State Bank of India recentemente superou a do Citigroup, um fato alardeado pela imprensa local.
Em janeiro, 15,4 milhões de novas assinaturas de telefonia móvel foram registradas na Índia, um recorde. A Rolls-Royce recentemente lançou seu novo Phantom Coupe no país, e a BMW abriu um showroom em Delhi. "A recessão existe mesmo?", questionava o Times of India em artigo publicado em 1° de março.
Os executivos já estão falando como se o retorno ao "boom" estivesse próximo. "É razoável presumir que a Índia estará entre os primeiros a se recuperar quando a crise acabar", disse Nandan Nikelani, co-presidente do conselho da Infosys Technologies, em recente apresentação em Nova Delhi. "Os líderes empresariais indianos parecem estar mais otimistas" do que os de outros países, ele acrescentou.
"Aquilo que alimenta a Índia não mudou", disse Sanjay Dhawan, presidente da Aricent, em entrevista. Sua empresa de terceirização de serviços tecnológicos recebeu US$ 60 milhões em investimento do grupo de capital privado Kohlberg Kravis Roberts.
A população jovem, a demanda interna e a inovação nos negócios indianas estão ajudando a manter o ímpeto do país, dizem alguns economistas. A Índia continua a atrair investidores e a realizar transações. O 3i Group, uma empresa de capital privado, anunciou recentemente que investiria US$ 161 milhões no Krishnapatnam Port, um projeto na costa leste do estado de Andhra Pradesh.
Enquanto as demais economias em desenvolvimento e voltadas às exportações importaram os problemas dos países desenvolvidos, na Índia isso não aconteceu, disse Anil Ahuja, o diretor da 3i para a Ásia.
Os projetos não estão sendo sufocados pela crise de crédito, ao contrário de outros países, afirmou. O alto índice de poupança indiano, de cerca de 35%, significa que cerca de US$ 200 bilhões ao ano são economizados e precisam ser investidos em alguma coisa, acrescentou.
Mas alguns indianos dizem que prefeririam sofrer agora com o resto do planeta e desfrutar mais tarde do benefício das reformas. "Vamos nos sair bem por dois ou três anos por conta das restrições que mantivemos", disse Gurcharan Das, ex-presidente da Procter & Gamble na Índia e autor de um estudo sobre o potencial econômico e a necessidade de transformar a economia do país. "Mas toda uma geração poderia sair da pobreza e chegar à classe média se conduzíssemos as reformas necessárias", disse.