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Montadoras avisam Lula que pacote pró-China causará demissões; entenda e leia a íntegra da carta

Volkswagen, Toyota, Stellantis e General Motors assinaram carta conjunta; Coluna do Estadão já havia antecipado que reunião para tratar de incentivos a fabricantes chinesas deve acontecer nesta quarta-feira

29 jul 2025 - 10h24
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Os presidentes das montadoras Volkswagen, Toyota, Stellantis (que reúne marcas como Fiat, Peugeot e Jeep) e General Motors (que é dona da Chevrolet) enviaram uma carta conjunta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual alertam que o setor deve enfrentar "um legado de desemprego" se o governo federal adotar um pacote de benefícios a favor da indústria chinesa de automóveis.

A Coluna do Estadão antecipou no último domingo, 27, que o Comitê Executivo de Gestão, da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) terá uma reunião extraordinária nesta quarta-feira, 30, para deliberar sobre pleitos da montadora chinesa BYD. O colegiado é composto por integrantes de 11 ministérios.

A BYD pediu ao governo federal, em fevereiro, a redução de impostos de importação para automóveis semimontados (conhecidos em inglês como Semi Knocked Down ou SKD) e desmontados (Completely Knocked Down ou CKD) de 20% para 10% no caso dos carros híbridos e de 18% para 5% no caso dos veículos elétricos.

Montadoras afirmam que incentivo a importação de veículos semimontados ou desmontados trará demissões para o setor automotivo.
Montadoras afirmam que incentivo a importação de veículos semimontados ou desmontados trará demissões para o setor automotivo.
Foto: Taba Benedicto/ Estadão / Estadão

Na carta, as montadoras relembram que a cadeia produtiva do setor automotivo é responsável por 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e por 20% do PIB da indústria da transformação, além de gerar 1,3 milhão de empregos e um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões.

Os presidentes apontam que as empresas do setor pretendem investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, dos quais R$ 130 bilhões serão destinados ao desenvolvimento e produção de veículos e R$ 50 bilhões ao parque de autopeças. Em entrevista exclusiva à Coluna do Estadão, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, já tinha antecipado no último domingo que a indústria automotiva brasileira irá rever essa projeção de investimentos, se o pacote de benefícios a favor das fabricantes chinesas de automóveis for adotado.

"É nosso dever alertar, senhor presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abalo se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no País", diz a carta.

As montadoras afirmam que estimular a importação de automóveis SKD ou CKD não representaria uma evolução para um novo modelo de industrialização, mas sim um padrão operacional que se consolidará e reduzirá a abrangência do processo produtivo nacional, o valor agregado e o nível de geração de empregos. Elas pontuam ainda isso afetaria também a demanda por autopeças e mão de obra.

"Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional", acrescentam. "Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica."

O ofício, enviado ao presidente Lula no dia 15 de julho, não cita o número de empregos que podem ser afetados. Ele foi assinado por Ciro Possobom, presidente e CEO da Volkswagen no Brasil, Evandro Maggio, presidente da Toyota do Brasil, Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis para a América do Sul, e Santiago Chamorro, presidente da General Motors na América do do Sul.

Eles afirmam ainda na carta que confiam na "sensibilidade" de Lula para "preservar a isonomia concorrencial e proteger a indústria e produz no Brasil".

Confira a carta na íntegra:

Excelentíssimo Senhor Presidente Lula,

Com nossos cumprimentos, vimos expor o teor de nossas preocupações quanto ao futuro da indústria automotiva brasileira.

O setor tem sido, desde os anos 1950, um importante vetor de industrialização e de crescimento econômico para o Brasil. Nasceu de uma visão desenvolvimentista, impulsionando com sua expansão um dos maiores e mais diversificados parques mundiais de fabricantes de veículos e autopeças.

A cadeia produtiva automotiva exibe números consistentes, que atestam o acerto da estratégia de localização da produção de veículos e seus componentes. São 26 fabricantes de veículos instalados no país e 508 produtores de autopeças, que formam uma cadeia produtiva responsável por 2,5% do PIB brasileiro, 20% do PIB industrial de transformação, pela geração de 1,3 milhão de empregos e por um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões.

Nossa indústria planeja investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 130 bilhões no desenvolvimento e produção de veículos e outros R$ 50 bilhões no parque de autopeças.

Essa sólida cadeia industrial consolidou-se ao longo de mais de 70 anos de presença no Brasil. Sucessivas ondas de investimentos no decorrer desse período histórico enraizaram profundamente a capacidade industrial, tecnológica e de desenvolvimento de produtos e engenharia de nosso setor, impactando positivamente a economia e a sociedade. A industrialização urbanizou o pais, expandiu o mercado de trabalho, impulsionou a educação e a ciência, somou desenvolvimento econômico ao social. Além de resultar em uma base industrial como poucas no mundo, propiciou a consolidação da engenharia nacional.

É nosso dever alertar, Senhor Presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abato se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país.

Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e, consequentemente, o valor agregado e o nível de geração de empregos.

Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica.

Trazemos nossos argumentos à sua análise, Senhor Presidente, na expectativa de que seu governo assegure igualdade de condições na competição pelo mercado, vetando privilégios para a importação de veículos desmontados ou produzidos no exterior com subsídios. Confiamos na sensibilidade de Vossa Excelência para preservar a isonomia concorrencial e proteger a indústria que produz no Brasil.

Nossos investimentos em curso resultarão em novas plantas industriais, em mais empregos, valor agregado e em uma nova geração de veículos cada vez mais sustentáveis. Reafirmamos, desse modo concreto, nosso compromisso com o fortalecimento da indústria nacional e com o desenvolvimento econômico e social.

Atentamente,

Ciro Possobom, Volkswagen no Brasil

Evandro Maggio, Toyota do Brasil

Emanuele Cappellano, Stellantis Automóveis do Brasil

Santiago Chamorro, General Motors do Brasil

Estadão
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