O boom do ‘empreendedor de nicho’: microcomércios crescem em comunidades online
De grupos de WhatsApp a perfis no Instagram, comunidades digitais estão impulsionando microcomércios
O empreendedorismo brasileiro ganhou uma nova cara — e ela está nos grupos de WhatsApp, Telegram e nas comunidades online. Pequenos negócios estão surgindo dentro desses espaços digitais, impulsionando o que especialistas chamam de “boom do empreendedorismo de nicho”: comércios hiperlocalizados, voltados a públicos muito específicos e formados a partir de interações comunitárias.
Grupos de mães viram franquias consolidadas
“Diversos pequenos negócios estão nascendo dentro de grupos como WhatsApp, Telegram e fóruns online. Trata-se de um verdadeiro boom do empreendedorismo de nicho, que está gerando fonte real de renda”, explica Brunno Galvão, especialista em empreendedorismo e CEO da Rede Benkei de Restaurantes.
Exemplos não faltam. O sucesso do bolo de pote, que se espalhou pelo país, começou em grupos de vizinhos e mães trocando receitas. O mesmo aconteceu com os brigadeiros gourmet, que migraram das conversas digitais para cafeterias e, em muitos casos, viraram franquias.
Outros fenômenos seguiram o mesmo caminho. Os brechós virtuais, por exemplo, surgiram em comunidades de moda sustentável no Facebook e hoje movimentam milhares de seguidores no Instagram. As redes sociais se tornaram vitrines de venda e, ao mesmo tempo, mecanismos de validação — um post, uma foto ou um depoimento bastam para que uma ideia simples ganhe força e reputação.
5 negócios que nasceram em comunidades online
- Bolo de pote caseiro. Começou em grupos de mães e vizinhos trocando receitas no WhatsApp. Hoje, é um produto fixo em cafeterias e franquias de sobremesas.
- Brigadeiro gourmet. Virou febre em comunidades de confeitaria no Instagram e Telegram. Pequenos produtores transformaram a tendência em microfranquias locais.
- Brechós sustentáveis. Nasceram em grupos de moda consciente no Facebook. Muitos evoluíram para lojas online no Instagram, com curadoria e assinatura mensal de peças.
- Enxoval e produtos infantis personalizados. Cresceram em grupos de gestantes e mães, que trocam indicações e compram direto de costureiras e artesãs locais.
- Figurinhas da Copa do Mundo. Microcomércio sazonal: grupos no WhatsApp e Telegram conectaram colecionadores e revendedores durante o torneio, movimentando milhares de trocas e vendas.
Clubes, assinaturas e curadoria
O fenômeno evoluiu com o uso do WhatsApp como plataforma de assinatura. Em diversos grupos, consumidores pagam mensalidades simbólicas para ter acesso antecipado a ofertas, curadorias exclusivas ou produtos personalizados. É uma nova camada de monetização para pequenos empreendedores, que passam a trabalhar com públicos fiéis e recorrentes.
“Essas comunidades funcionam como incubadoras de negócios”, afirma Galvão. “Elas oferecem confiança, feedback rápido, avaliações sobre revendedores e uma divulgação orgânica que seria caríssima fora desses grupos.”
Álbum da Copa no delivery?
Nem tudo, porém, é duradouro. Galvão cita os fenômenos passageiros, como o comércio informal de figurinhas da Copa do Mundo, que tomou conta de grupos no Facebook, no Telegram e no WhatsApp durante o torneio.
Mesmo sendo efêmeros, esses casos mostram o potencial de mobilização e geração de renda que existe dentro das comunidades digitais.
Economia fragmentada e personalizada
A principal característica desse movimento é a fragmentação econômica. Em vez de competir diretamente com grandes marcas, os novos empreendedores validam seus produtos em nichos engajados, testam ideias, recebem feedbacks e, só depois, escalam.
O resultado é um mercado mais pulverizado, mas também mais humano e personalizado, no qual o poder das comunidades transforma hobbies e iniciativas pontuais em negócios sustentáveis.
Para Galvão, trata-se de uma mudança estrutural: “As redes sociais privadas viraram os novos mercados. Elas geram empreendimentos com maior capacidade de sobrevivência, porque são validados por pessoas reais, dentro de ecossistemas de confiança.”