Crédito do trabalhador: desafio de escala, segurança e tecnologia
O novo crédito consignado privado, acessado via CTPS Digital, movimentou R$2,8 bilhões em sete dias, evidenciando a eficácia de sua arquitetura tecnológica, que integra governo, empresas financeiras e de tecnologia para oferecer segurança e agilidade no acesso ao crédito no Brasil.
Com sete dias de vigência, o novo crédito consignado privado atingiu números impressionantes: mais de 11 milhões de propostas simuladas pelos trabalhadores e enviadas aos bancos a partir do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital) - único canal em que é possível solicitar o empréstimo, até o momento.
Pelo aplicativo, o usuário informa o valor pretendido e autoriza o compartilhamento dos seus dados com instituições financeiras habilitadas. Entre 21 de março e 1o de abril foram liberados R$2,8 bilhões em empréstimos consignados para mais de 452 mil trabalhadores, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
Independente de qualquer viés, esses números deixam evidente a dimensão e o potencial dessa modalidade. Mais impressionante ainda é a complexidade técnica por trás dela: trata-se de uma arquitetura tecnológica que reúne Ministério do Trabalho e Emprego, Dataprev, Serpro, Caixa, instituições financeiras de ponta, como o Agibank, e empresas de tecnologia, como a Unico.
Trata-se de uma engenharia de interoperabilidade de dados para oferecer uma alternativa de crédito mais barata para o cidadão, com segurança, simplicidade e agilidade.
Alan Santos, diretor de relacionamento e negócios da Dataprev, empresa pública de tecnologia que desenvolveu toda a solução, detalhou que a coordenação estratégica do projeto se deu pelo Ministério. Foi estabelecido um grupo pelo MTE, envolvendo Dataprev, Serpro e Caixa para definir regras, serviços e integrações. A partir desse entendimento foi desenvolvida a solução, que inclui a CTPS Digital, eConsignado, FGTS Digital, eSocial, e que busca ter menor impacto nas rotinas do empregador, além de maior abertura para o trabalhador, estimulando a concorrência entre os bancos.
Alan acrescenta ainda que o modelo estabelecido herdou características já consolidadas no eConsignado do INSS, que a partir de 2023 adotou o modelo de assinatura digital biométrica como padrão. Foi esse modelo que contribuiu para a drástica redução em casos de repúdio às operações, contribuindo para o processo de qualificação da identificação digital nos serviços públicos e privados.
Para dar conta da imensa demanda, faz-se necessário uma infraestrutura robusta de serviços. O volume do programa gera naturalmente uma pressão sobre todo o ecossistema financeiro, especialmente nos modelos de riscos, de prevenção a fraudes e em soluções que garantam a identidade real desses trabalhadores que estão buscando crédito.
No caso da Unico, a tecnologia tem ajudado a avaliar a confiabilidade dos clientes, especialmente diante da ampliação da oferta e do perfil de pessoas que antes não eram clientes dos bancos, mas já são “conhecidas” pela Unico — que há 17 anos protege operações de cidadãos brasileiros. Ela também permite que instituições financeiras lidem com picos de demanda sem abrir mão da segurança, validando a identidade de cada trabalhador com total precisão e em até três segundos.
No Agibank, por exemplo, mais de 1,6 milhão de downloads do aplicativo foram registrados entre 21 e 31 de março. No mesmo período, a média diária de transações biométricas subiu de 35 mil para 165 mil — um aumento de 371%. Mesmo com esse crescimento, a instituição tem mantido altos níveis de segurança, agilidade e estabilidade operacional.
Assim, o crédito consignado privado deixa claro a importância da confiança digital como um alicerce para políticas públicas modernas e adequadas às necessidades dos brasileiros. Garantindo a segurança de canais digitais e tendo o cidadão sempre no centro da experiência, poderemos escalar programas em uma base sólida.
Outro ponto importante é que fica provado que, quando o governo e o mercado se alinham, é possível viabilizar, em tempo recorde, uma inovação com impacto positivo direto na vida das pessoas.
Mais do que uma nova modalidade de empréstimo, crédito consignado privado é um marco de interoperabilidade, escala, segurança e resposta rápida de diversas partes interessadas. Para que esse modelo siga evoluindo, é indispensável que o ecossistema mantenha o investimento em plataformas que consigam crescer, garantindo segurança com agilidade — como já demonstramos ser possível. Afinal, o futuro da cidadania digital começa com um clique, mas depende de muitas engrenagens para funcionar bem e seguir conquistando a confiança dos brasileiros.
(*) Luis Felipe Monteiro é vice-presidente de Relações Institucionais da Unico.