Empresa que desidratar pauta da diversidade sentirá efeitos e terá de voltar atrás, diz analista
Para Itali Collini, diretora do Potencia Ventures, redução de critérios de diversidade influencia resultados financeiros das empresas e mexe com cenário de investimentos de impacto no Brasil
Estratégias de diversidade e inclusão trazem resultados financeiros e de maior produtividade para as empresas, por isso a "desidratação" dessa agenda no cenário atual pode trazer efeitos negativos futuros que obrigarão as empresas a voltar atrás na decisão. A análise é da economista e investidora Itali Collini, diretora da Potencia Ventures, grupo focado em investimentos de impacto.
O argumento, segundo a especialista, é um trunfo que não deve ser ignorado e que já foi comprovado com dados por variadas pesquisas. Uma série delas, por exemplo, elaborada pela consultoria McKinsey, aponta para uma correlação entre a maior diversidade de gênero em equipes executivas e a probabilidade de desempenho financeiro, que se mostra 25% superior às demais nesses casos.
Desde o ano passado havia um temor de que a volta de Trump à Casa Branca reforçasse um movimento anti-ESG, agravando os investimentos de impacto…
Esse temor faz sentido. O que me impede de ser uma pessoa temerosa são alguns resultados de pesquisas nos quais não adianta ser negacionista sobre se a diversidade tem impacto positivo ou negativo na produtividade ou no resultado de uma empresa. Há muitas pesquisas acadêmicas, discutidas em termos estatísticos, mostrando que diversidade traz mais dinamismo para o time, um potencial de receita melhor, mais lucro. É como olhar para a política de cotas no Brasil. Não tem como falar que não funcionou. Funcionou, e ponto. Várias empresas, no que diz respeito a diversidade e inclusão, estão repensando algumas coisas. Porém, o ponto é que diversidade e inclusão dá resultado prático e financeiro. É um trunfo que não podemos ignorar. Não se pode ignorar o fato de que, nos últimos 10 anos, houve tantas empresas testando isso e que temos dados para mostrar que faz diferença não só na cultura organizacional, mas no lucro da empresa. O ponto é que existem argumentos que mantêm a agenda dentro da importância que ela merece. O que vai acontecer nos próximos anos é que as empresas que desidratam a pauta vão sentir esse efeito e vão ser obrigadas a voltar atrás.
E como o movimento antidiversidade de multinacionais norte-americanos interfere nos investimentos para as empresas de impacto?
Isso está exigindo dos empreendedores de startups de impacto uma mudança na abordagem da venda e do próprio produto. O cenário está mudando. As empresas não estão mais dedicando tanta verba para programas de diversidade e inclusão. Então, aquele produto vai ter que resolver outra dor bem séria de setores, como o de Recursos Humanos, onde as empresas querem investir.
Então, essas startups estão tendo de se reinventar?
Não dá para fazer vendas com o mesmo discurso de quatro anos atrás. Hoje não é mais suficiente só falar que diversidade e inclusão é importante do ponto de vista dos Direitos Humanos. Hoje é necessário trazer uma abordagem pragmática que é: o que é que eu resolvo para essa empresa nesse momento, para o que ela tem orçamento reservado, e quais são os resultados disso. Todo empreendedor de startup que tentar vender B2B (de empresa para empresa) para grandes corporações vai precisar focar muito no resultado prático e financeiro que esse produto pode dar.
Neste ano, temos a COP-30, quando se espera um olhar maior para os investimentos em bioeconomia. Como ficam as empresas que olham para outras áreas do impacto social?
O volume investido em empresas que olham para o impacto ambiental cresceu muito, principalmente para as que trabalham com mercado de carbono. Entendo que existe uma oportunidade atrelada a essas discussões de atrair investimentos tanto locais, quanto estrangeiros. O ponto é que muitas vezes há uma concentração em um tipo de solução, que é mensuração de carbono. Mas 'treidar' créditos de carbono não vai salvar o mundo. Há uma grande oportunidade de captação para as empresas que fazem impacto, mas isso é difícil porque o mercado costuma concentrar suas apostas, como está acontecendo com a inteligência artificial (IA). A maior parte das empresas que está recebendo o investimento de risco é de IA. (A descentralização) vai exigir do investidor pensar em investimentos que efetivamente possam ajudar na desaceleração da temperatura da terra e uma intencionalidade para que as apostas não se concentrem tanto. Corremos risco, enquanto investidores, de perder boas oportunidades de retorno, se ficamos nesse movimento de manada para um só tipo de solução.
Pensando no cenário macroeconômico doméstico, em estamos passando por uma instabilidade no campo fiscal, qual o peso dessa instabilidade nesses investimentos?
A questão da discussão fiscal no Brasil mexe com algumas expectativas de curto prazo, mas não com as de longo prazo. A minha expectativa em relação ao potencial do País para soluções de qualidade não muda. Continuo entendendo que o Brasil tem uma grande oportunidade, por ter muitos empreendedores de qualidade e muitos problemas sociais que podem se beneficiar de produtos e serviços que as empresas vão criar. O que muda momentaneamente, com a questão do dólar por exemplo, é que dólar subindo torna os investimentos no Brasil mais baratos, esse é o ponto bom para o investidor de fora. O ponto ruim é que há um risco fiscal que pode gerar problemas para as empresas locais no futuro. Em relação a investimentos, vejo que isso vai ser liquidamente positivo, porque outros países do mundo estão em situações fiscais bem piores que o Brasil. Por isso, não vejo que o risco fiscal do Brasil anule as grandes oportunidades de crescimento que existem aqui.
