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Embraer: Redução de contrato da FAB é revés, mas mercado já não aposta na área de Defesa da empresa

Ações da companhia são sustentadas hoje pela perspectiva de vendas mais altas do futuro 'carro voador'

13 nov 2021 - 17h06
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A decisão da Força Aérea Brasileira (FAB) de reduzir o contrato de compra dos cargueiros militares KC-390 Millenium, produzidos pela Embraer, foi um balde de água fria para a empresa brasileira, que vinha se recuperando de um revés sofrido no ano passado. Em abril de 2020, a Boeing anunciou o encerramento das negociações para comprar a divisão de aviação comercial da Embraer, um acordo de US$ 4,2 bilhões.

Com a crise da covid e o fim do acordo com a Boeing, as ações da fabricante brasileira de aviões derreteram 55% em 2020. No entanto, cortes significativos nos gastos, o que incluiu a demissão de 2.500 funcionários, e notícias de avanço no programa do "carro voador" (tecnicamente chamado de eVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical) fizeram as ações da Embraer disparar 175% na Bolsa no acumulado deste ano até quinta-feira, quando veio a confirmação de que a FAB, sua parceira histórica, reduziria suas compras.

O contrato fechado entre a Embraer e a FAB em 2014 previa a compra de 28 cargueiros em dez anos, por R$ 11 bilhões em valores atualizados. De acordo com o documento, havia a possibilidade de o governo reduzir a encomenda em 25%, ou seja, para 21 unidades. Em abril deste ano, no entanto, alegando restrições orçamentárias, a Aeronáutica divulgou a intenção de ficar com apenas 15 unidades.

A negociação entre governo e empresa se arrastou por sete meses até que, na quinta-feira, o comandante da FAB, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, informou ao Estadão que não houve consenso. O governo justificou a decisão de rever o contrato alegando restrições orçamentárias. A compra de caças Gripen, fabricados pela sueca Saab em parceria com a Embraer, no entanto, não sofreu cortes.

Apesar de a negociação ser conhecida desde o começo, o fim das conversas mexeu com o mercado. Os papéis da Embraer recuaram 4,44% na sexta-feira.

Um analista do mercado ouvido pelo Estadão, no entanto, destacou que a queda nas ações pode significar uma oportunidade para se investir na empresa. Segundo ele, a área de Defesa da Embraer, que foi responsável por 18,3% das receitas no terceiro trimestre deste ano, não é vista como tendo um grande potencial de crescimento.

"Claro que essa notícia (da redução dos contratos) não é positiva, mas achamos que ela acaba sendo marginal. O que sustenta o preço da ação da Embraer, onde achamos que está o crescimento futuro da empresa, é o eVTOL", disse o analista, que preferiu não ser identificado. "Vemos hoje que já está ótimo se a área de Defesa parar de consumir caixa", acrescentou.

O projeto do KC-390 Millennium é um dos maiores já desenvolvidos pela companhia. Até agora, porém, além do governo brasileiro, apenas o português e o húngaro compraram aeronaves do modelo. Um executivo do setor ouvido pela reportagem destacou que, para a companhia avançar nas vendas, o País precisa de força geopolítica.

Compras no futuro

Para militares, o corte determinado pelo Comando da Aeronáutica pode não resistir ao tempo nem à lógica ou ao bom senso. Isso porque a FAB precisa dos grandes jatos cargueiros para cumprir sua missão cotidiana, a de atender áreas remotas do território brasileiro, prestar socorro nas situações de crise, levar assistência a pontos críticos do País.

Ouvidos em diferentes unidades e bases, oficiais da FAB, entre os quais dois brigadeiros, consideraram "ruído de momento" a crise com a fabricante causada pela alteração unilateral do contrato. "Precisamos acertar as contas. A contabilidade não fecha", disse ao Estadão um dos planejadores financeiros da Força. Nada impede, entretanto, que novas e diferentes encomendas do do KC-390 sejam feitas.

O comando de transporte da FAB já recebeu quatro aviões. Tem mais 11 para entregar, um processo que vai exigir entre três e cinco anos. No meio do caminho, em 2022, haverá eleições.

Entre os militares, ninguém vê uma ruptura da Aeronáutica com a Embraer, considerada até hoje, mesmo depois da privatização, uma espécie de agência de tecnologia, desenvolvimento e produção industrial da Força. Também não concordam com a tese de que os recursos disponíveis estejam sendo direcionados para o programa dos novos caças F-39 Gripen, que começam a ser entregues no início de 2022. "Trata-se de contas e negociações independentes." Para um ex-integrante do Alto Comando, a Embraer adquiriu dimensão planetária, "tem compromissos com seus acionistas e investidores - logo, precisa mesmo protestar frente a uma decisão grave como a do corte das encomendas do KC-390".

A um custo de referência médio de UR$ 85 milhões, o Millenium é o cargueiro médio (capacidade de 26 toneladas) mais avançado em produção.

Estadão
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