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O que você precisa fazer e ter para ser um nômade digital?

A pandemia escancarou o uso do trabalho remoto, mas o nomadismo digital veio muito antes disso

26 mar 2023 - 02h00
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Matheus de Souza, um nômade digital na Tailândia
Matheus de Souza, um nômade digital na Tailândia
Foto: Arquivo Pessoal

Um nômade digital é uma pessoa que utiliza a tecnologia para trabalhar de forma remota enquanto viaja pelo mundo. Eles são capazes de trabalhar de qualquer lugar com uma conexão à internet, o que lhes permite viver um estilo de vida mais flexível e independente.

Muitos nômades digitais são freelancers ou empreendedores que oferecem serviços de marketing, design gráfico, programação, tradução, entre outros, enquanto outros trabalham para empresas remotamente.

O fato é que a pandemia escancarou o trabalho remoto, mas os nômades digitais já estavam na estrada antes disso. Hoje, com um bom planejamento, você trabalha em qualquer lugar do mundo.

Como se tornar um nômade digital?

Se você deseja se tornar um nômade digital, aqui estão alguns passos que você pode seguir:

  • • Defina suas habilidades

Primeiro, você precisa decidir quais habilidades e serviços você pode oferecer como um nômade digital. Você pode ter uma habilidade em particular, como desenvolvimento de software, redação, design gráfico, ou pode ter várias habilidades que lhe permitirão trabalhar em diferentes projetos.

  • • Construa sua rede

Construa sua rede de contatos e clientes, utilizando plataformas online como o LinkedIn e redes sociais. Participe de grupos online relacionados ao seu nicho, ofereça seus serviços, e procure oportunidades de trabalho remoto.

  • • Torne-se um freelancer

Se você não está trabalhando remotamente atualmente, comece a procurar por empregos freelance. Existem vários sites de freelancers onde você pode encontrar trabalho como Upwork, Freelancer.com, entre outros. Comece a construir sua reputação e portfólio.

  • • Aprenda a gerenciar seu tempo

Como um nômade digital, é importante que você seja capaz de gerenciar seu tempo de forma eficaz. É necessário ser organizado e priorizar suas tarefas para garantir que você consiga atender às demandas de seus clientes enquanto viaja.

  • • Adquira as ferramentas adequadas

Você precisará de um bom computador e de uma conexão à internet confiável para trabalhar como nômade digital. Além disso, existem várias ferramentas que podem ajudá-lo a gerenciar seu trabalho, como aplicativos de gerenciamento de tarefas, softwares de videoconferência, entre outros.

  • • Comece a viajar

Por fim, comece a viajar e trabalhar remotamente. Você pode optar por trabalhar em um café, em uma biblioteca ou em um espaço de coworking enquanto estiver viajando. Mas é importante se planejar com antecedência e ter um orçamento adequado para se sustentar enquanto viaja.

Bate-papo com um nômade digital clássico

Se você deseja se tornar um nômade digital, precisa ter habilidades, construir sua rede, aprender a gerenciar seu tempo, adquirir as ferramentas adequadas e, acima de tudo, estar preparado para trabalhar duro para alcançar seus objetivos. O estilo de vida de um nômade digital pode ser gratificante e emocionante, mas requer planejamento e dedicação para ter sucesso.

É exatamente esse o caso de Matheus de Souza, catarinense de 34 anos que adotou o nomadismo digital em 2015. De suas experiências, surgiu o livro “Nômade Digital: um guia para você viver e trabalhar como e onde quiser”, lançado em 2019 e finalista do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Economia Criativa.

Hoje, ele trabalha normalmente 6 horas por dia, na Tailândia. Matheus gentilmente atendeu o Terra para contar um pouco sobre nomadismo digital e sobre a vida na Ásia.

Terra ― Antes de mais nada, a pergunta que você já respondeu muito nos últimos anos: Como foi exatamente o processo lá de 2015 em que você decidiu adotar o nomadismo digital?

Matheus de Souza ― 2015 foi o ano em que tive o estalo de que meu trabalho poderia ser feito literalmente de qualquer lugar do mundo com acesso a internet – faltou apenas combinar isso com os meus chefes. Na época, eu trabalhava como assistente de marketing em uma faculdade no interior de Santa Catarina. Batia o ponto às 12h30 e saía do trabalho apenas às 22h. Cheguei a pedir para fazer home office, mas ouvi algo do tipo “se liberarmos para você, teremos que liberar para todo mundo” – o que é compreensível, uma vez que o trabalho remoto ainda não era tão difundido. Lembro de um dia no trabalho me deparar com o livro “Trabalhe 4 Horas por Semana”, do Tim Ferriss, que não é exatamente um livro sobre nomadismo digital, mas que acabou tornando-se uma espécie de bíblia sobre o tema por tratar desse negócio de literalmente trabalhar de qualquer lugar do mundo com acesso a internet. Ainda que nesse primeiro contato tudo tenha soado um pouco utópico para mim, passei a pesquisar tipos de trabalho que eu poderia fazer online. Na virada de 2015 para 2016 consegui meus primeiros freelas como redator – graças aos meus conteúdos produzidos na rede profissional – e no final do mesmo ano eu já estava ganhando mais com os freelas do que como CLT. Após guardar seis meses do meu salário como CLT, finalmente me demiti, em 2017, e parti para o México, meu primeiro destino como nômade digital. Estou na estrada desde então – foram 30 países desde 2017, alguns mais de uma vez.

Matheus faz passeios apenas em suas horas de folga do trabalho
Matheus faz passeios apenas em suas horas de folga do trabalho
Foto: Arquivo Pessoal

Terra ― Você atualmente está na Tailândia. Como é o dia a dia do seu trabalho? 

Matheus de Souza ― Acho que o primeiro ponto aqui é desmistificar o que é – e o que não é – nomadismo digital. Se você jogar “nômade digital” no Google vai encontrar várias imagens de profissionais supostamente trabalhando com seus laptops caros na areia da praia. Minha rotina, definitivamente, não é essa. Não sou um turista em tempo integral e, mesmo que no momento eu esteja em uma ilha paradisíaca da Tailândia, isso não significa que meu escritório seja literalmente na praia. Geralmente, fico entre 2 e 3 meses nos destinos, o que significa que não há pressa de visitar todos os pontos turísticos das cidades – como faz um turista tradicional que compra um pacote em uma agência de turismo para passar 5 ou 7 dias em um lugar. 

No momento, estou trabalhando em meu segundo livro, uma coletânea com crônicas de viagens ainda sem data de lançamento. Acordo lá pelas 6h30, leio durante 1 hora e escrevo das 7h30 às 10h30. Depois disso, dependendo do dia, vou para a praia ou faço coisas do dia a dia – supermercado, faxina, lavar roupas etc. Durante as viagens, geralmente, a maioria das minhas refeições é feita em casa ― costumo ficar em Airbnbs com cozinha e demais utensílios domésticos ―, mas como na Tailândia é muito barato comer na rua, tenho saído para almoçar fora quase todos os dias. 

Depois do almoço faço as coisas que pagam as minhas contas: respondo e-mails, envio orçamentos, emito notas fiscais, preparo aulas, planejo e produzo conteúdos para as redes sociais, escrevo a minha newsletter semanal. Em um dia bom, paro de trabalhar lá pelas 17h. Quando tenho reuniões, vou até mais tarde por conta do fuso – estou 10h na frente do Brasil.

O lazer, salvo exceções, funciona da mesma maneira como para quem não é nômade digital: aos finais de semana – com a diferença de que cortei as sextas-feiras da minha semana de trabalho; mas às vezes ainda preciso trabalhar, como hoje, que estou acordado respondendo essa entrevista ― são 00h12 aqui e estou acordado porque tenho uma reunião às 00h30.

Quando comecei a vida nômade, trabalhava exclusivamente como redator – escrevia para blogs de empresas, fazia trabalhos como ghost writer para CEOs famosinhos no LinkedIn, esse tipo de coisa. Hoje em dia minhas fontes de renda estão mais diversificadas. Sou professor de cursos online, ofereço treinamentos in company, dou palestras e faço publis nas redes sociais.

Terra ― Se você fosse lançar o livro “Nômade Digital” hoje, que capítulos e temas iria incluir que não estão no lançamento original?

Matheus de Souza ― Adorei a pergunta. “Nômade Digital” foi escrito em 2018 e publicado em 2019, ou seja, antes da pandemia. Quando adotei este estilo de vida e trabalho, em 2017, dificilmente você encontrava um nômade na estrada que não trabalhasse por conta própria; freelancers, autônomos e empreendedores. Justamente por isso a obra tem um foco maior nesse tipo de profissional. Porém, a pandemia mostrou que é possível ser CLT e ainda sim ter liberdade geográfica para realizar o seu trabalho literalmente de qualquer lugar do mundo com acesso a internet – ainda que muitos gestores pensem o contrário e estejam exigindo que seus colaboradores voltem ao escritório.

Talvez eu também dedicasse um capítulo para falar de comunicação assíncrona, uma das maiores dificuldades dos times remotos nas empresas – que ficou evidente na pandemia com a tal da “fadiga do Zoom”.

Há também a questão dos vistos específicos para nômades digitais. De 2020 para cá vários países lançaram vistos específicos para profissionais estrangeiros que trabalham de forma remota. Por um lado isso é legal, mostra que os países finalmente entenderam que esse tipo de viajante é importante para a economia local, por outro, não faz muito sentido, uma vez que esses vistos oferecem residência de pelo menos 1 ano – e um nômade, na origem da palavra, não tem residência fixa, está sempre em movimento, mas acho que isso é papo para uma 2ª edição do livro.

Redação Dinheiro em Dia
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