Compras por compensação: o que está por trás do ‘Eu mereço’
Você tem consumido por impulso? Então, acompanhe este artigo.
Você chega em casa com a sacola cheia e deixa ali de lado por um tempo? Ou quando compra online naquela alegria, vê sua felicidade um pouco menor quando chegam os itens na sua casa uns dias depois?
Isso tem acontecido com muita gente e, aqueles que percebem que foi um erro, chamam de compra por impulso. Mas eu tenho uma teoria diferente.
Nem toda compra desnecessária é feita por impulso, algumas podem ser mesmo, como quando você vê algo bonito e quer levar pra um familiar, mas tem outras compras que são emocionais. Elas acontecem depois de um dia estressante no trabalho, de uma fase de problemas familiares, de uma insatisfação com o próprio corpo e em alguns casos de um estado depressivo, entre outros motivos.
Pode acontecer com qualquer pessoa, porque é bastante natural que passemos por problemas. As compras emocionais acabam sendo feitas quando algo sai do controle, pode até ser o caso de uma dívida que está aumentando e tirando o sono.
Entendido o que pode ocasionar uma compra emocional, o próximo passo é se lembrar das últimas compras que fez, seja algo de decoração pra casa, ou vários docinhos no super mercado. Nessas horas, o olhar de fora ajuda muito, mas você também pode encontrar a razão, então tente olhar pra essas compras de forma mais analítica, e responda o que você estava sentindo nesse dia, o que parecia faltar, qual foi a situação que aconteceu e te frustrou ou chateou? Depois tente identificar se isso é frequente.
Lembro-me de um tempo em que eu queria comer chocolate todos os dias depois do almoço, parecia que se eu não o comprasse, algo de ruim aconteceria. Com o tempo e observação, entendi que eu estava trabalhando num ritmo muito pesado antes do almoço e que, às vezes, até ia almoçar mais tarde pra conseguir concluir algo, então quando voltava para o escritório o corpo pedia calma e eu naturalmente trabalhava num ritmo mais tranquilo, porém associava isso ao docinho.
Já vi casos de pessoas que vão ao supermercado após o trabalho todos os dias pra relaxar, caminhar e comprar algo gostoso que, em alguns casos, até esquecem de comer quando chegam em casa.
E aí eu preciso dizer que além de emocionais e talvez impulsivas, essas compras podem ser uma compensação. É o tal do "eu mereço". Sabe quando você diz que seu dia foi tão puxado que você merece tomar uma cervejinha ou comer um japa para desestressar? Essa é uma compra por compensação, ela serve apenas para preencher um espaço bem pequeno de uma frustração temporária.
Ela dá uma sensação de felicidade instantânea, que também se vai muito rapidamente. E claro, a causa é esquecida por um tempo e não resolvida.
Não tem problema que você se recompense de vez em quando, isso vai acontecer ao longo da vida muitas vezes, mas é preocupante quando se chega a um ponto onde a única maneira de encontrar alívio é se recompensando, porque aí vicia e você perde o parâmetro do que é vontade real, desejo passageiro, necessidade, impulso ou compensação.
E seguramente suas finanças começam a sentir o peso dessas decisões pouco racionais e é também esse o ponto onde começa o descontrole financeiro - que pode se tornar mais uma razão de compensação, inclusive.
Por isso te convido a pensar sobre suas compras, a origem delas e assim achar a saída pra aquelas frases que tanto são ditas: "não sei o que fiz com meu dinheiro", "o dinheiro não deu pra nada esse mês" ou ainda "eu trabalho, trabalho, mas não saio do negativo".
Com isso quero dizer que pra ter uma vida financeira equilibrada, nem sempre temos que olhar para o orçamento e simplesmente cortar gastos, pode ser que funcione por um mês, mas logo se perde o ânimo, a disciplina e os velhos hábitos voltam. Já quando se sabe a origem do problema, fica mais fácil lutar contra ele.
Identificado o momento do dia ou da semana que fica mais pesado ou ainda compreendido que o problema familiar é que está desencadeando a compensação, você deve tentar encontrar maneiras de lidar com isso, seja começando a buscar um novo trabalho ou a melhorar o diálogo, assim os gastos deixam de ser uma fuga e vão reduzindo naturalmente.
Se você sentir que a parte psicológica ou financeira está em um nível em que você não consegue achar soluções sozinho, busque ajuda de profissionais, ok? O importante é encontrar o equilíbrio.
E lembre-se: o dinheiro não costuma ser a raíz do problema, e sim faz parte da consequência de questões mal resolvidas, de decisões mal tomadas e de sensações e sentimentos pouco compreendidos. Olhe mais pra isso e veja a incrível mudança na vida e nas finanças acontecer.
(*) Mari Ferreira é especialista em educação financeira, consultora, palestrante, criadora de conteúdo e autora do livro “Tostão Furado: Do Zero à Liberdade Financeira”.