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Como o potencial de reciclagem transformou o jeans no 'alumínio dos têxteis' para grandes varejistas

Com capacidade de transformação sem perder integridade, o chamado 'jeans circular' entrou na mira do mercado têxtil, mas ainda enfrenta limitações para crescer no País

31 out 2025 - 10h12
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De forma voluntária ou em troca por desconto, um cliente leva sua calça jeans usada até uma loja de roupas e deposita a peça em uma caixa. Ela é coletada, processada e vira fios de algodão para a confeccionar novas peças, que voltam à loja para serem adquiridas por novos consumidores.

O movimento é um exemplo do chamado jeans circular, que busca aumentar a utilidade do material que seria descartado ou ficaria em desuso, inserindo novamente o tecido na cadeia produtiva. No Brasil, esse processo vem ganhando espaço, com grandes varejistas de moda fazendo anúncios relacionados ao jeans circular, quase em sincronia.

Em setembro, a Riachuelo levou às lojas a sua maior coleção de jeans reciclado, com a utilização de quase 10 toneladas de aparas do tecido. No Grupo Renner, a Youcom lançou sua primeira coleção de jeans circular tingido na cor preta. Já a C&A anunciou nova coleção com jeans circular nas lojas para esta semana, chegando ao total de 50 mil peças neste ano.

Uma das razões que explica a escolha do jeans para a reciclagem está relacionada a questões técnicas, segundo profissionais ouvidos pelo Estadão. Eles explicam que o jeans tem altíssima reciclabilidade para a indústria têxtil, sem perder sua integridade. Em termos comparativos, a resistência da fibra é semelhante ao que o alumínio significa para a reciclagem na metalurgia.

As peças são identificadas nas etiquetas como jeans circular, mas não há diferenças de qualidade em relação às demais peças, explica a gerente sênior de ESG da C&A, Cyntia Kasai. Desde o início das fabricação dessas peças, ela percebe que a cadeia vem conseguindo evoluir na qualidade do material entregue. A evolução também se deu na possibilidade de ofertas de jeans na cor off-white, em vez de tecidos já tingidos.

"As primeiras cargas de fio tinham nozinhos, eram um pouco mais grossas, e você conseguia perceber um pouco dessas irregularidades no produto final. Viemos em um trabalho muito forte de inovação, para ter cada vez fios mais finos e que trouxessem um acabamento mais coeso."

O volume arrecadado por meio da estratégia foi usado na primeira coleção de jeans circular tingido de preto da marca, cujo total de unidades não foi aberto pela empresa. A companhia considerou o tingimento um grande avanço, diante das restrições técnicas que dificultam obter diferentes cores de fibra reciclada já tingida de azul. O processo envolveu um ano de desenvolvimento e de testes de qualidade e durabilidade, e, segundo o diretor de sustentabilidade da Renner, Eduardo Ferlauto, ainda possui limitações.

"Esse reciclado vem a partir de uma tecnologia mecânica processada no Brasil. Não temos ainda, no País, a tecnologia química, e a cor normalmente é definida pela segregação de cores de resíduos que são iguais. Então, o tingimento parte de uma base um pouco disforme. Além disso, essa tecnologia mecânica rompe a fibra, e esse rompimento também gera, em alguns casos, uma disformidade na coloração", explica.

Barreira acrescenta que as limitações ainda não permitem uma criatividade tão ampla no trato com o jeans reciclado, mas diz que o tecido já está "mais bem resolvido" do que os demais. "Pesquisamos muitos players, inclusive internacionais, e esse é um desafio da indústria. Sabemos que vamos ter que ser insistentes, seguir testando, nos unir a outros players para conseguir gerar essas propostas."

H&M: concorrência ou tendência?

O movimento sincrônico de coro ao jeans circular por grandes varejistas no Brasil ocorre em meio à chegada, em agosto deste ano, de uma grande concorrente internacional ao País, a varejista sueca de moda H&M. A companhia é conhecida por ações públicas relacionadas à sustentabilidade, incluindo coleções com jeans reciclado, e está inaugurando sua terceira loja física no Brasil nesta quinta-feira, 30, com intenção de expandir.

O foco no tecido circular seria uma estratégia competitiva? De acordo com as varejistas ouvidas pelo Estadão, não. As empresas ressaltaram que, se a H&M passar a demandar jeans reciclado de fábricas brasileiras, isso poderá ajudar toda a cadeia a superar alguns gargalos relacionados a volume e aos custos de produção, em um ganho de escala no qual há um benefício comum. Além disso, segundo elas, o movimento pela sustentabilidade parte de uma jornada em crescimento nas empresas no Brasil, sem interferência de uma ação de concorrência.

A professora de cenários do varejo na FIA Business School, Patrícia Cotti, faz a mesma avaliação, pontuando que esse é um movimento que aconteceria independentemente da presença da H&M no País. Para a especialista, que também é diretora de pesquisas do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), a sustentabilidade para essas empresas já saiu de um patamar de diferencial competitivo para algo mandatório, com a mudança de um perfil consumidor cada vez mais exigente com a agenda de sustentabilidade.

"Há muitos consumidores que estão mais preocupados com essas pautas de sustentabilidade. Isso deixou de ser um diferencial e começou a fazer parte do cotidiano do consumo", diz. "Obviamente que a H&M entrando faz com que as pautas de inovação de negócios sejam aceleradas nas demais empresas, mas é um movimento que, independentemente da H&M, já aconteceria dentro do mercado brasileiro, porque já era uma discussão de algum tempo, mesmo ainda a passos lentos."

Procurada pelo Estadão, a H&M afirmou que "ainda não pode compartilhar planos específicos para o mercado brasileiro neste momento". A companhia evitou comentar diretamente sobre a venda de jeans circular na subsidiária, mas informou que a sustentabilidade está no centro do negócio, incluindo investimentos em modelos circulares e reciclagem têxtil.

"Para nós, a forma como crescemos é fundamental. Não se trata de vender mais, mas de ampliar nossas fontes de receita, tendo a sustentabilidade no centro de tudo o que fazemos. Isso inclui, por exemplo, novos investimentos e o desenvolvimento de modelos de negócio circulares, como recomércio (revenda), reparo ou tecnologias de reciclagem para têxteis pós-consumo", diz a varejista sueca.

Estadão
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