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Com economia patinando, PIB per capita só volta ao patamar de 2013 em 2028, estima Ibre/FGV

Ibre/FGV estima que País precisaria crescer 2,1% ao ano para retomar, só em 2028, patamar de renda que vigorava em 2013, antes da recessão iniciada no governo Dilma

13 dez 2021 - 14h01
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Mesmo que a economia brasileira ganhe alguma tração, a recuperação do padrão de vida dos brasileiros será lenta nos próximos anos. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita -- soma de riquezas produzidas pelo País dividida por seus habitantes -- poderá levar, ao menos, mais sete anos para recuperar o nível registrado em 2013, o ano que antecedeu ao início da recessão do governo Dilma Rousseff.

Projeção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o PIB per capita deve encerrar este ano em R$ 36.661, 3,8% acima do ano passado. Se o cálculo se confirmar, o indicador ainda está 1% abaixo do valor registrado em 2019 (R$ 36.969), logo antes da pandemia de covid-19. E também ficará 7,7% abaixo do pico histórico medido em 2013 (R$ 39.685).

Silvia Mattos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, acredita que o indicador poderá voltar ao nível de 2013, próximo de R$ 40 mil, em 2028 -- 15 anos depois. Para isso, o PIB precisará crescer , em média, 2,1% ao ano no período de 2023 a 2028. Descontado o aumento da população, isso resultaria numa expansão de 1,5% do PIB per capita ao ano. É um cenário "bem otimista".

"O Brasil conseguiu crescer nesse ritmo nos anos 2000, então é algo possível, sim. Seria preciso, porém, de um choque externo favorável para a economia brasileira e, internamente, de um ciclo vigoroso de reformas para termos esse crescimento", diz a coordenadora do Boletim Macro. "Sem esse ritmo mais acelerado, a recuperação das perdas dos últimos anos ficará para depois de 2030."

Esse desejado ganho de tração, porém, não vai ser iniciado em 2022. Nas projeções do Ibre/FGV, o PIB do próximo ano deve crescer 0,7%, o mesmo ritmo do avanço populacional -- o que significa estabilidade no PIB per capita. É cedo para descartar, inclusive, um retrocesso em 2022, diante do desajuste fiscal, inflação em alta e acentuada instabilidade política.

Se a riqueza gerada não cresce, o quadro se complica ainda mais diante do aumento da desigualdade social dos últimos anos, afirma Cosmo Donato, economista da LCA Consultores. "Estamos produzindo menos por habitante e o pouco que crescemos é apropriado por uma parcela cada vez menor da população. Quem está na base da pirâmide social é quem está mais sofrendo", alerta Donato.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a desigualdade piorou em 2018 e 2019. O índice de Gini, medida da desigualdade de renda domiciliar, melhorou em 2020, mas as perspectivas não são animadoras. E mesmo com o auxilio emergencial, um em cada quatro brasileiros vive abaixo da linha da pobreza, o correspondente a 51 milhões de pessoas em 2020.

O pesquisador Rogério Barbosa, professor adjunto do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que o PIB per capita, combinado com indicadores de desigualdade, oferecem uma noção de bem-estar social do País. Se no campo da renda per capita a recuperação é lenta, na desigualdade as incertezas também se multiplicam.

"Mesmo que continuemos sanando o desemprego aos pouquinhos, não vejo recuperação em massa do mercado de trabalho. Isso significa, na prática, concentração de renda. E falta política pública que resolva isso", diz Barbosa. "O Auxílio Brasil vai ter mais orçamento do que o Bolsa Família, mas ancorado de forma frágil em atraso de pagamento de precatórios", diz Barbosa.

Estadão
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