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Caio Megale, da XP: 'Selic a 8,5% é suficiente para levar a inflação à meta'

Para o economista-chefe da XP Investimentos, o Banco Central deve se convencer de que 8,5% é suficiente; na quarta-feira, 22, BC elevou a taxa Selic de 5,25% para 6,25% ao ano

23 set 2021 - 12h14
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As projeções de inflação no cenário básico do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro indicam que o plano de voo para garantir a convergência à meta é uma Selic, no fim do ciclo de alta, de 8,5% ou um pouco mais. Mas o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, avalia que o Banco Central deve se convencer de que 8,5% é suficiente.

"As projeções de inflação de 2023 estão na meta [3,2%, ante o centro de 3,25%] e de 2022 um pouco acima [3,7% ante o centro de 3,5%]. É uma trajetória aceitável no horizonte relevante. Se subir muito no curto prazo para alcançar 2022 na meta, pode ser que a inflação de 2023 comece a ficar abaixo da meta. Então, poderia ter de baixar no ano que vem, um ano eleitoral. Além disso, poderia gerar muita volatilidade do PIB para um ganho pequeno de inflação. O nível de 8,5% é suficiente para convergência à meta", disse Megale, em entrevista ao Broadcast ao Vivo.

Na quarta-feira, 22, o BC elevou a taxa Selic de 5,25% para 6,25% ao ano, indicando que este é o ritmo adequado para convergência à meta e para dar tempo para avaliar o estado da economia e o grau de persistência dos choques sobre a inflação.

Megale concordou que o ritmo de 1 ponto porcentual de alta é bom, especialmente considerando as incertezas no cenário com a desaceleração da economia mundial e do Brasil. Segundo o economista, a deterioração do cenário inflacionário já vem ocorrendo e o BC anteviu esse movimento e acelerou o passo de 0,75 ponto para 1,00 ponto na reunião de agosto.

No cenário da XP, a Selic deve subir mais 1 ponto no encontro de outubro, a 7,25% e poderia reduzir o ritmo a 0,75 ponto em dezembro e 0,50 ponto na primeira reunião de 2022, considerando uma melhora do cenário, terminando em 8,50%.

O economista, que integrou a equipe econômica até meados de 2020, reconheceu, porém, que, em torno desse cenário base, os riscos são de alta, devido às incertezas fiscais, como a indefinição do Orçamento de 2022, e a persistência dos choques de inflação. Por outro lado, uma evolução dos preços de commodities em baixa, a exemplo do minério recentemente, e as próprias revisões de baixa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 poderiam equilibrar os riscos para a inflação.

"O BC não mencionou as revisões de baixa para o PIB de 2022 no comunicado, talvez para não se mostrar otimista com a inflação. Mas poderia ter citado. Foi algo que aconteceu desde o último Copom. A XP reduziu de 1,7% para 1,3%, mas tem instituições com projeções aquém de 1%", frisou. "Isso vai ajudar a convergência de inflação? Em parte, sim. O choque de oferta relacionado à crise hídrica, não. Mas a desaceleração mundial pode trazer as commodities para baixo e li uma pesquisa que só 10% dos reajustes salariais superaram a inflação, o que ajuda a esfriar a demanda interna."

Megale ainda avalia que uma redução organizada do programa de compras de ativos pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode até ajudar o trabalho do BC, na medida em que pode aliviar a inflação mundial, que foi impulsionada por políticas fiscais e monetárias muito expansionistas.

Em relação ao cenário fiscal, o economista-chefe da XP disse que já está pior desde que se soube do meteoro de R$ 89,1 bilhões de precatórios a serem pagos em 2022, uma vez que o Brasil está mais endividado seja emitindo títulos para pagá-los no ano que vem, seja parcelando a quitação. O importante, então, é adotar uma solução que não desestruture o que "resta" do arcabouço fiscal.

"Se pagar tudo dentro do teto tem problema de pressão de outros gastos que são politicamente inadiáveis, como as emendas do relator e o Bolsa Família. O que vai dar um conforto lá na frente, que não temos agora, é que essa saída não altere outros parâmetros do arcabouço fiscal, como tirar outras coisas do teto. Nesse sentido, a reunião dessa semana juntando presidentes das Casas legislativas é o melhor que pode acontecer."

Estadão
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