Braskem: bancos devem ficar mais 5 anos sem receber dívida bilionária à espera de retomada; entenda
No período, estima-se que petroquímica consiga recuperar posição no mercado e volte a dar lucro; dívida, com juro acumulado, se aproxima de R$ 20 bilhões
Após ao menos cinco anos carregando dívidas vencidas da Novonor, tendo o controle da Braskem em garantia, um grupo dos cinco maiores bancos do País pode ficar pelo menos mais cinco anos sem ver o compromisso quitado. Esse é o período estimado para que a Braskem retome sua posição no mercado petroquímico, tenha seu passivo reduzido, volte a dar lucro e tenha um valor de mercado capaz de quitar tal dívida que, com juro acumulado, se aproximou de R$ 20 bilhões.
Pelo valor de mercado atual da participação de 50,1% que a Novonor tinha na Braskem — antes da transferência das ações selada durante o final de semana — a ex-Odebrecht quita apenas R$ 3 bilhões desses créditos.
A IG4 Capital Group, que é uma companhia global de investimentos alternativos e situações especiais, adquiriu os créditos da Novonor junto a Itaú Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e BNDES por meio de um fundo de crédito (FDIC). Ao mesmo tempo, celebrou um acordo de transferência das ações da Braskem, dadas em garantia, para um Fundo de Investimento em Participações (FIP). Para reaver os créditos, as ações terão de ser vendidas.
Mas nenhuma ação será vendida nesse momento para quitar essa dívida, apurou o Estadão/Broadcast. As ações serão mantidas em um Fundo de Investimento em Participações e só devem ser colocadas à venda pela IG4 quando a Braskem tiver um melhor valor de mercado. Para isso, terá de ter ajustada sua dívida líquida, que no terceiro trimestre de 2025 somava US$ 7,1 bilhões. A alavancagem estava em 14,76 vezes (dívida líquida/Ebitda recorrente) no mesmo período.
A IG4 levou sete anos para reerguer a companhia de saneamento Iguá. Segundo pessoas a par do assunto, é provável que, para ajustar a Braskem, leve cerca de cinco anos. Enquanto as ações da Braskem não forem vendidas, os bancos poderão receber dividendos da companhia, ou melhor, o FIDC, disse uma pessoa com conhecimento das negociações. Mas essa é uma hipótese pouco provável, dada a condição financeira e as dificuldades do setor petroquímico globalmente.
Entre as opções que são comentadas na reestruturação da Braskem está a venda de ativos. Mas uma pessoa a par do caso acrescentou que qualquer desinvestimento deverá ter os recursos revertidos para a própria Braskem, como parte da reorganização financeira da companhia.
Os empréstimos dos bancos a então Odebrecht foram feitos a NSP Investimentos, uma entidade do Grupo Novonor, garantidas por ações da Braskem alienadas em arranjos de penhor fiduciário, numa transação envolvendo a estrutura acionária da Braskem.
Após a aquisição desses créditos, o FDIC controlado pela IG4 celebrou um acordo vinculante com a NSP Investimentos pelo qual a NSP se comprometeu a transferir todas as suas ações ordinárias controladoras na Braskem para um fundo de investimento (FIP), mediante liquidação parcial dos créditos detidos pelo FDIC, sujeito às aprovações regulatórias e condições de fechamento usuais.
O acordo de transferência das ações, pelo qual Novonor e os bancos acertaram as condições, vem sendo gestado há meses. À Novonor restará 4% das ações totais da Braskem, o FIP ficará em 50,1% do capital votante e 34,323% do capital total da companhia.
A Petrobras seguirá com sua atual posição, mas exercerá o cocontrole da empresa, por meio da nomeação de quatro diretores operacionais e industriais e quatro conselheiros, segundo pessoas a par das negociações. A IG4 também nomeará quatro diretores, que estarão encarregados de questões relacionadas a governança, reestruturação e gestão financeira da Braskem. A IG4 terá ainda quatro cadeiras no Conselho de Administração e ainda indicará o novo presidente da Braskem.
O novo acordo de acionistas, acrescentaram essas pessoas, já está pronto, mas tudo nesse momento depende do processo de transferência das ações, em seus aspectos jurídicos e de ritos da Novonor, os quais a ex-Odebrecht tem 60 dias para cumprir, em caráter irrevogável. Também, o acordo será submetido ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e somente após a aprovação do órgão, o que pode levar cerca de 45 dias, será chamada uma assembleia-geral de acionistas, para aprovação do acordo.
Até que todos esses processos estejam concluídos, a IG4 deve se abster de realizar nomeações ou entrar na companhia para dar início à sua reestruturação financeira. Entretanto, uma pessoa que acompanha o assunto afirmou que algumas conversas nesse sentido devem ser iniciadas com os atuais assessores financeiros da Braskem, a Lazard, e seus assessores jurídicos para um entendimento dos próximos passos.