Brasil e EUA: o que está em jogo na relação comercial
Movimento norte-americano tem componente político e soa como uma tentativa de pressão; se o objetivo é proteger interesses nacionais, que o façamos negociando, e não erguendo barreiras
A decisão do governo dos EUA de aplicar uma tarifa de 50% sobre as importações de produtos brasileiros, a partir de 1.º de agosto, representa, na prática, um embargo comercial. No setor de máquinas e equipamentos, essa taxação torna o comércio inviável.
Os EUA são o principal destino das exportações brasileiras de máquinas e equipamentos. Em 2024, o setor exportou US$ 3,54 bilhões - 26,9% do total exportado.
Muitas das máquinas e componentes exportados pelo Brasil são utilizados por indústrias norte-americanas para montagem final ou produção de bens de maior valor agregado. Uma relação "ganha-ganha" - e que não pode ser rompida de forma unilateral.
Nesse comércio bilateral, o Brasil tem déficit. No ano passado, importamos dos EUA US$ 4,7 bilhões em máquinas e equipamentos, frente aos US$ 3,54 bilhões exportados, gerando um saldo negativo de US$ 1,16 bilhão para o nosso país, enquanto que na balança comercial total entre EUA e Brasil, os norte-americanos têm superávit. Isso enfraquece o argumento de desequilíbrio comercial para justificar as barreiras tarifárias.
Diante desse cenário, a Abimaq apoia os esforços do governo brasileiro em buscar uma solução diplomática.
O melhor caminho é negociar um acordo que garanta a continuidade da relação comercial e evite prejuízos para empresas brasileiras e para as indústrias norte-americanas que dependem de nossos insumos.
Há cerca de 3,9 mil empresas americanas com investimentos produtivos no Brasil com o objetivo de exportar seus bens e serviços, e essas companhias serão afetadas por uma tarifa dessa magnitude.
O setor já convive com a concorrência dos produtos asiáticos, em especial os chineses. Em 2024, as importações de máquinas e equipamentos da China no Brasil cresceram 20,4%.
Agora, diante da possibilidade de sermos taxados com uma tarifa superior à aplicada à China pelos EUA, corremos o risco de perder ainda mais espaço.
Por isso, acreditamos que esse movimento norte-americano tem componente político e soa como uma tentativa de pressão para iniciar uma negociação sob vantagem.
Se for esse o caso, o Brasil não deve recuar, deve propor um acordo comercial que amplie o intercâmbio bilateral e traga previsibilidade para os investimentos e exportações.
Reafirmamos, portanto, nosso compromisso com o diálogo e com a construção de soluções sustentáveis para o comércio internacional.
O Brasil tem muito a perder com um distanciamento dos EUA e os EUA também têm muito a perder com um rompimento dessa relação histórica.
Se o objetivo é proteger interesses nacionais, que o façamos negociando, e não erguendo barreiras.