Banqueiros de Wall Street temem inflação e piora do cenário com cobrança de tarifas
CEO do Citi, Jane Fraser, projeta aumento nos preços dos bens e já identifica pausas em investimentos e contratações na base de clientes do banco
NOVA YORK - Banqueiros de Wall Street alertaram para o risco de os preços dos bens subirem durante o verão dos Estados Unidos e de piora no cenário diante dos efeitos das tarifas do presidente Donald Trump.
Empresas têm cortado investimentos e contratações na tentativa de evitar o repasse das tarifas de 10% aos consumidores e preparam planos de contingência em casos de piora do cenário, enquanto torcem para que as conversas em andamento evitem outro Dia da Libertação em 1º de agosto, quando estão previstas para entrar em vigor as novas alíquotas de Washington.
"Espero que os acordos sejam concluídos. Então, ainda há risco, mas estou esperançoso de que algumas dessas negociações sejam concluídas em breve, pelo menos antes de agosto", disse o presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, ao falar a investidores e analistas, nesta terça-feira, para comentar os resultados do segundo trimestre.
Depois de ameaçar o Brasil com uma tarifa de 50% e a Rússia de 100%, caso não avance em torno de um cessar-fogo com a Ucrânia, Trump anunciou nesta terça-feira, 15, acordo com a Indonésia e sinalizou tratativas com a Índia. Ao menos até aqui, 25 países e a União Europeia já foram taxados com novas alíquotas pelo republicano por meio de cartas.
Apesar das expectativas de banqueiros por mais acordos, alguns parceiros comerciais dos EUA começam a se acostumar com a ideia de tarifas mais elevadas.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, afirmou nesta terça-feira que pode não ser possível escapar da taxação americana, mesmo com um acordo bilateral em negociação. O país foi taxado em 35%, acima dos 25% anunciados no Dia da Libertação, em 2 de abril.
A CEO do Citi, Jane Fraser, alertou para o risco de aumento de preços durante o verão nos EUA devido à implementação de tarifas mais altas.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em junho teve influência ainda contida da taxação de Trump, mas economistas em Wall Street apostam em uma aceleração nos próximos meses, com o indicador podendo alcançar seu pico em agosto, como prevê o Morgan Stanley.
"Esperamos ver os preços dos bens começarem a subir durante o verão, à medida que as tarifas entram em vigor, e vimos pausas em capex (investimentos) e contratações na nossa base de clientes", disse a banqueira de Wall Street, ao falar a investidores e analistas.
O presidente do Wells Fargo, Charlie Sharf, afirmou que as empresas têm buscado formas para evitar o repasse da tarifa de 10% destinada aos parceiros comerciais dos EUA enquanto tentam negociar novos acordos com Washington.
Ao mesmo tempo, os empresários se prepararam para ventos contrários e, por isso, não estão aumentando estoques ou contratando, e ainda preparam planos de contingência caso o cenário negativo se materialize, conforme ele.
"Temos esperança de que os resultados das negociações atuais tornem nossos clientes mais competitivos e ajudem a impulsionar um crescimento econômico mais forte nos EUA, mas há incerteza e devemos reconhecer que há risco de piora do cenário", avaliou o CEO do Wells Fargo.
Para Dimon, do JPMorgan, os "riscos significativos persistem", incluindo tarifas e incerteza comercial, agravamento das condições geopolíticas, altos déficits fiscais e preços de ativos elevados.
"Como sempre, esperamos o melhor, mas preparamos a empresa para uma ampla gama de cenários", disse o maior banqueiro do mundo, ao comentar os resultados do segundo trimestre.
Em conversa com a imprensa americana, o CEO do JPMorgan também demonstrou preocupação com as pressões de Trump sob o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, para baixar os juros no país.
"Brincando com o Fed, pode haver consequências adversas, exatamente o oposto do que se espera. É importante que eles sejam independentes", reforçou o banqueiro.
Trump, aliás, voltou a cobrar a queda de juros no país após novos dados da inflação nos EUA. Para ele, o indicador está "muito baixo" e o Fed deveria reduzir imediatamente as taxas de juros. "Não imagino trabalho pior do que o que está sendo feito pelo Powell", criticou o chefe da Casa Branca.
Apesar dos riscos, os banqueiros de Wall Street reforçaram a confiança na economia americana. "A economia dos EUA manteve-se resiliente no (segundo) trimestre. A finalização da reforma tributária e a potencial desregulamentação são positivas para as perspectivas econômicas", projetou Dimon, conhecido por suas previsões catastróficas.
Para Fraser, do Citi, a maior economia do mundo tem se provado ser mais resiliente do que se imaginava. "A força da economia dos EUA, impulsionada pelo empreendedor americano e por um consumidor saudável, certamente tem superado as expectativas", disse a banqueira.