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Sushi erótico, Latininho e as polêmicas de Faustão no 'Domingão'

Globo anunciou a saída de Fausto Silva após mais de 30 anos na emissora; relembre momentos marcantes do programa

25 jan 2021 - 19h33
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Fausto Silva ao lado de Latininho e cena do 'sushi erótico' exibida no 'Domingão do Faustão'
Fausto Silva ao lado de Latininho e cena do 'sushi erótico' exibida no 'Domingão do Faustão'
Foto: Reprodução de 'Domingão do Faustão' / Globo / Estadão

Fausto Silva, o Faustão, vai encerrar seu contrato e sair da Globo ao fim deste ano (leia mais aqui). Seu programa, o Domingão do Faustão, foi ao ar pela primeira vez em 26 de março de 1989, e em mais de três décadas de história, contou com diversos momentos polêmicos.

Em 2009, o apresentador chegou a refletir sobre o tema: "O programa é um supermercado de variedades. Por aqui já passaram Tony Bennett, Fernanda Montenegro, Seal, Caetano Veloso, Andrea Bocelli... Mesmo assim, tem gente que só lembra de dois, três maus momentos que tivemos, casos do Latininho e do 'sushi erótico'. Tem de estar de sacanagem para pensar assim".

Relembre a seguir detalhes sobre as maiores polêmicas da história do Domingão do Faustão:

Latininho

Um dos principais momentos do programa que renderam críticas envolveu Latininho, apelido de Rafael Pereira dos Santos, de Colatina, no Espírito Santo, à época com 15 anos. Ele tinha a chamada síndrome de Seckel, medindo 87 cm e pesando 8 kg, com a idade mental de uma criança e foi ridicularizado no palco da atração.

"Você que quer fazer um show em kitnet, um show em creche, pode contratar essa fera aqui. O menor Latino do mundo, o glorioso Latininho", apresentava Faustão, em 8 de setembro de 1996.

O apelido se dava por conta da admiração de Rafael pelo cantor Latino, com quem dividiu o palco cantando a música Louca. Na sequência, interagiu com Fausto Silva, o músico Caçulinha, os integrantes do Café bom Bobagem e o humorista César Macedo (Seu Eugênio).

Alvo da maioria das piadas feitas no programa, Latininho não parecia entender a maior parte dos comentários que eram feitos.

"O Caçulinha tá com medo. O moleque tem 15 anos, não vai fazer xixi, não! Tá segurando o cara meio fora, assim... Tem 15 anos, porra! Você faz na hora que quer, não é isso?", questiona o apresentador, quando Latininho estava sentado em uma das pernas de caçulinha. "Não", respondeu o jovem, para gargalhadas dos presentes.

Após a repercussão negativa, o diretor Carlos Manga pediu desculpas pelo ocorrido. "A todas as pessoas que se ofenderam, eu peço desculpas. O tiro saiu pela culatra. Agora vou guardar o revólver e tomar mais cuidado", disse.

"Apresentei o menino porque achei que seria engraçado. O garoto é fã do Latino, pensei que ficaria divertido colocá-lo dançando ao lado de seu ídolo. Fomos afoitos demais, bobeamos coletivamente."

"Esse público já está acostumado a ver coisas assim no programa do Gugu. O Flávio Cavalcanti fazia isso no programa dele. Também, quando colocaram o anão Ferrugem na televisão, ninguém falou nada", concluía.

José Pereira dos Santos, pai biológico do jovem, reclamava da exploração: "Quando vi Rafael sentado no colo do Caçulinha, fiquei chocado. Ele serviu de cobaia para a guerra da audiência".

O caso chegou a parar na Justiça e os diretores Carlos Manga e Deudedit Pires Costa chegaram a prestar depoimento no Rio de Janeiro.

Cena da polêmica participação de Latininho no 'Domingão do Faustão'
Cena da polêmica participação de Latininho no 'Domingão do Faustão'
Foto: Reprodução de 'Domingão do Faustão' (1996) / Globo / Estadão

Em 11 de outubro de 2001, a juiza Simone Gastesi Chevrand Folly, da 36ª Vara Cível do Rio de Janeiro, condenou a Globo a pagar R$ 1 milhão à família de Latininho por danos morais por conta da exposição de maneira "vexatória" na TV, "de forma desrespeitosa à sua dignidade, submetendo-o a situação constrangedora."

Em sua defesa, a emissora alegava que Latininho não teria sofrido abalos psicológicos e que teria se divertido durante a atração: "todo o tempo transpareceu sentimento de alegria e satisfação, tendo pretensão de retornar ao programa".

Sobre a alta quantia à época, a juíza justificava: "Não tenho dúvida de que este valor é imensamente inferior ao que a ré auferiu unicamente com os anúncios veiculados durante os intervalos do programa naquela data. Para determinar o valor a ser pago, levei em conta também o poderio econômico da empresa."

Sushi erótico

Em 26 de outubro de 1997, o Domingão do Faustão levou ao ar o 'sushi erótico'. A premissa era servir pratos da culinária japonesa dispostos sobre o corpo de mulheres nuas. A atração foi comandada pelos atores Marcio Garcia, Oscar Magrini e Matheus Rocha.

Cena do 'sushi erótico' exibido no 'Domingão do Faustão'
Cena do 'sushi erótico' exibido no 'Domingão do Faustão'
Foto: Reprodução de 'Domingão do Faustão' / Globo / Estadão

Para fazer um contraponto à apelação masculina, outro quadro foi criado: "Atendendo aos apelos das mulheres, hoje vai ser escolhido o maior e melhor bumbum: o bumbum mais bonito masculino!", anunciava Faustão.

O momento foi alvo de inúmeras críticas, o que fez com que a Globo cogitasse até mesmo a saída do diretor Carlos Manga do programa.

Em entrevista à rádio Eldorado AM em 26 de dezembro daquele ano, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, então diretor da Globo, comentou o caso.

"O mundo inteiro fez o sushi erótico. A CBS fez com o Sean Connery. Até isso é possível fazer com nível, mas se você põe 40 minutos disso e a pessoa fazendo perguntas absurdas, como onde você vai pôr o sushi, aí é baixaria", opinava.

Cerca de um ano depois, sem novas polêmicas, Faustão afirmava: "Neste ano, nos conscientizamos de que nosso caminho é o popular de bom nível. Apelação traz Ibope com rapidez, mas é uma audiência que não dura".

Parte dos protestos e reclamações eram encabeçados pela ONG TVer, que criticava a 'baixaria' da televisão e era presidida por Marta Suplicy, que se disse "atônica" com o 'sushi erótico'.

À época, a disputa por audiência nas tardes de domingo era acirrada. Naquele mesmo dia, o Domingo Legal trouxe a Banheira do Gugu com Tiririca e Luiza Ambiel, um quadro com o grupo É o Tchan e uma apresentação de Zezé Di Camargo e Luciano.

O ápice, porém, foi durante a exibição do quadro em que Gugu Liberato aparecia caracterizado como morador de rua. Às 17h44, apresentou quase o dobro de audiência que o concorrente: 33 pontos a 17, segundo o Ibope na Grande São Paulo. "O quadro em que Gugu se vestia de mendigo é uma exploração da miséria, foi de vomitar", criticava Marta.

Em 31 de outubro, dias após a exibição, Osvaldo Kaneco, dono do restaurante Kazumi, que ficava na rua Conselheiro Furtado, na Liberdade, e era responsável pelo 'sushi erótico' do Faustão, chegou a ser preso pela Delegacia do Consumidor e teve seu restaurante fechado pela Secretaria Municipal do Abastecimento à época. Ele foi liberado após pagar R$ 2,5 mil de fiança.

O então diretor do Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos, Luiz Antonio Colombo, explicava que as linhas telefônicas da entidade ficaram congestionadas após o restaurante participar do Domingão do Faustão.

"As pessoas denunciaram insistentemente a falta de higiene do local, além de reclamar da pouca vergonha. Isso não é tradição japonesa, é apelação. ", afirmava.

Foram constatados falta de higiene na cozinha e demais dependências, acúmulo excessivo de gordura, mau acondicionamento de alimentos em geladeiras e freezers e alimentos sem procedência ou com data de validade vencida. Foram aplicadas cinco multas, no valor de R$ 1.529.

Belo e Alexandre Pires: casos na Justiça

Em 2002, o Domingão do Faustão recebeu o cantor Belo. Na ocasião, ele havia passado 37 dias preso, acusado de associação com o tráfico de drogas, porte ilegal de armas e formação de quadrilha, estando em liberdade provisória enquanto aguardava julgamento.

Segundo reportagem da revista Veja em agosto de 2002, Carlos Henrique Schroder, então diretor da central Globo de jornalismo, chegou a avisar aos responsáveis pelo programa que haviam novas provas contra o cantor.

Mesmo sabendo que tratava-se de um tema delicado e ainda em curso na Justiça, o Domingão do Faustão resolveu seguir com o que já havia sido anunciado ao público, também por receio de que Belo, caso tivesse sua participação cancelada, fosse ao Domingo Legal, de Gugu.

"Pelo que você diz, você está sendo vítima de uma grande injustiça, ou seja, é totalmente inocente", chegou a dizer Faustão em determinado momento da conversa no programa. Posteriormente, ele se arrependeu da decisão: "O Belo não convenceu. Devíamos ter mostrado também as provas que o incriminavam."

"Em 700 programas erramos agora, no Latininho, no 'sushi erótico' e ao inocentar precipitadamente o cantor Alexandre Pires da acusação de atropelamento por embriaguez. O saldo é positivo", afirmava o apresentador.

Faustão fez referência à acusação de homicídio culposo ao cantor Alexandre Pires, à época no Só Pra Contrariar, após ter atropelado e matado o motoqueiro José Alves Sobrinho em um acidente de trânsito em Uberlândia em fevereiro de 2000.

Em 2001, Alexandre Pires foi absolvido do suposto crime pela Justiça de Uberlândia. Em agosto do ano anterior, o cantor, que também respondia a um processo cível, chegou a pagar R$ 250 mil em indenização à família da vítima (leia mais sobre o caso aqui).

Estadão
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