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Joel Vieira fala de seus personagens que entraram no Porta dos Fundos

O ator e humorista curitibano também levou sua personagem Lucy para as redes sociais do Comedy Central; vídeo com sua personagem Yollanda foi recentemente acusado de machista e foi tirado do ar

27 nov 2020 - 17h22
(atualizado às 20h33)
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Sempre com um copo de drinque na mão, Lucy é uma mulher de classe média alta sem noção. Nelly, seu filho, é um tímido e inocente adolescente que quer fazer sucesso na internet. Yollanda, mãe de Lucy e avó de Nelly, é uma senhora da terceira idade que fuma, leva uma vida muito livre e gosta de namorar homens mais novos e famosos - e usa até como desculpa comprar paçoca no mercado para furar a quarentena, o que deixa Lucy de cabelo em pé. Já Neusa, a empregada de Lucy, tem que aguentar as loucuras da patroa em ligações por vídeo em tempos de pandemia. É interpretando todos esses personagens de uma família (disfuncional) que o ator e humorista Joel Vieira tem se destacado nas redes sociais do Porta dos Fundos desde maio. Este mês, Lucy ganhou o próprio programa, o Jornal da Night, nas redes sociais do Comedy Central, incluindo Facebook, Instagram, Twitter e Youtube, toda quinta, às 18h.

Recentemente, no entanto, um vídeo com Yollanda foi acusado de machismo. Nele, a personagem aparece comemorando ser a vereadora mais votada pelo Partido Novo nas eleições em Curitiba após vazar seus nudes. No Twitter, a vereadora Indiara Barbosa, do Novo, a mais votada em Curitiba nas eleições deste ano, criticou a postagem e lamentou o Porta dos Fundos associar "o sucesso de uma mulher a alguma conotação sexual". Após a polêmica, o vídeo foi tirado do ar.

Em nota, o Porta dos Fundos afirma que "reconhece que o vídeo que gerou a polêmica não condiz com o que acreditamos, *erramos*. Não foi uma paródia com uma pessoa real, a Dona Yollanda é uma personagem que existe há nove anos, mas pedimos desculpas. Vamos continuar errando e aprendendo, sempre conectados com a nossa audiência - todos têm haters, e precisamos saber separar o que é discurso de ódio de uma resposta real e construtiva". Segundo a assessoria do Porta, Joel não vai se pronunciar.

Joel dá vida a esses personagens desde 2011 em seu canal no Youtube. No ano passado, ele chegou a participar de produções do Porta dos Fundos. Foi quando começou a aproximação entre o ator e o bem-sucedido coletivo criado por Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, João Vicente de Castro e Ian SBF.

"Assim que a gente ficou sabendo aqui no Brasil que ia ficar no isolamento também, resolvi fazer mais vídeos, já que eu não ia mais gravar em estúdio, porque faço voz de desenhos. Então, para eu me ocupar e ainda ajudar as pessoas, a colocar leveza em um momento que a gente não sabia como ia ser, resolvi mostrar, através da perspectiva dos personagens que são tão específicos, justamente este momento. Comecei a fazer esses vídeos pandêmicos e, em duas semanas, o Porchat entrou em contato comigo perguntando se eu queria fazer os vídeos dos personagens no Porta", conta o ator curitibano de 33 anos, em entrevista ao Estadão, antes da polêmica com o vídeo de Yollanda.

Em três semanas, toda a estrutura estava pronta para ele fazer seus vídeos semanais. "Mudei um pouco o formato dos vídeos, em relação ao meu projeto, para não ficar exatamente igual, as mesmas críticas, as mesmas coisas, para deixar com outro formato. Começou a dar muito certo, bastante gente passou a conhecer através do Porta. Está num crescente muito legal", comemora Joel, que destaca ainda a parceria no roteiro com Pedro Esteves, um dos redatores do coletivo.

O que motivou o convite, conta o ator, foi um vídeo que ele postou com um compilado de chamadas entre Lucy e sua empregada Neusa, em que a socialite tenta tirar uma série de dúvidas domésticas, entre elas, como fazer macarrão ou ligar a esteira. O vídeo se encaixou com o que o Porta buscava. "A Lucy é um personagem que é pouco explorado no humor, não tem tanta gente que tira sarro desse tipo de pessoa, que são equivocadas, que se acham mais que os outros. É a famosa classe média alta do Brasil que a gente conhece", diz Joel.

"A Lucy é muito querida, fofa, extrovertida, mas o sentimento dela está acima de tudo. Ela deixa a realidade dela, o sentimento dela acima de qualquer outra coisa, inconscientemente. Não é uma maldade, mas ela e os drinques dela acabam sendo mais importante que tudo, até o filho." O ator diz que não há referências muito específicas na construção de seus personagens. "A base da criação deles vem de diversos lugares. Sou bem observador, não observador consciente, mas acabo pegando coisas que vejo de pessoas, outros personagens, e acabo os moldando. Mas a Lucy, por exemplo, tem bastante coisa de Narcisa Tamborindeguy."

A trajetória do humorista

Joel veio do teatro, onde começou aos 14 anos. Aos 16, ele entrou na Cia. Máscaras de Teatro, no Teatro Lala Schneider, em Curitiba. "Eu estava em cartaz com quatro peças, enquanto eu estava ensaiando outras quatro. Aí eu tinha de criar muitos personagens para fazer essas peças, e a Lucy foi um dos personagens que criei para uma peça, só que isso em 2010. "O Nelly comecei a criar em 2004, foi a primeira vez que fiz um personagem meio tímido, retraído. Foi evoluindo, comecei a fazer show em pé dele. Era o Nelly fazendo stand up. Comecei a fazer personagens no teatro e juntei eles para fazer essa estrutura familiar na internet."

Mas o teatro não estava em seus planos originalmente. Ele queria fazer TV. Mandava e-mails diariamente para a Globo quando era criança. "Desde de muito novinho, eu quis ser duas coisas na minha vida: ser vendedor de milho na estrada, porque acho que imaginava estrada, praia e diversão, e logo em seguinda, com 5, 6 anos, eu já quis ser ator." Numa viagem que fez com a família para Angra dos Reis, no Rio, encontrou Raul Gazola e lhe perguntou como fazia para ser ator da Globo. Recebeu a dica para fazer teatro. Joel insistiu na emissora. "Ele me deu um telefone, liguei e era a recepção da Globo. Ele zoou com minha cara", conta. "Mas peguei a dica do teatro. Cheguei em Curitiba e, na mesma semana, comecei a fazer curso de teatro aos 14 anos. Me apaixonei por teatro e esqueci de televisão." Foi no teatro também que ele descobriu seu talento para o humor.

Quando tinha 24 anos, no entanto, voltou o desejo de fazer TV. Joel foi para o Rio e criou o canal no YouTube. "O que tenho de diferencial? E vi que eram personagens diferentes. Criei essa família, esse formato, para produtores de elenco, diretores, autores verem o que eu fazia", diz. "Fiz Zorra Total numa época, fiz peça. O canal eu fazia, mas nunca era prioridade. Depois, comecei a fazer voz de desenho, em 2015. Continuei a fazer o canal, mas a prioridade era a voz de desenho. Agora é a primeira vez que a internet e os personagens estão sendo a minha principal atividade", completa ele, que dá voz a personagens em desenhos como Oswaldo e Boris e Rufus.

E a que ele atribui o sucesso de Lucy e companhia no Porta dos Fundos nesta quarentena? "Os personagens individualmente têm um carisma, coisas para explorar individualmente. E fora a individualidade deles, existe essa relação de cada um: como que a mãe rica trata a vó, que viveu sua vida muito alegremente, gosta de namoradinhos, e leva uma vida bem jovial, que é uma coisa que acontece hoje em dia", avalia Joel. "Acho que existe essa identificação também, que não foi consciente, mas que trago dessa observação das coisas."

Estadão
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