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Guilherme Fontes sobre 'A Viagem' e sua reprise: 'Vivi na pele as agruras de ter feito Alexandre'

Novela que virou um clássico da teledramaturgia brasileira volta, de novo, às tardes da Globo a partir desta segunda, 12, no 'Vale a Pena Ver de Novo'; Guilherme Fontes fala ao 'Estadão' sobre carreira e legado de Alexandre

13 mai 2025 - 19h16
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Guilherme Fontes está acostumado a virar para trás e olhar sempre que ouve alguém gritar "Alexandre" na rua. Eternizado no imaginário popular como o vilão de A Viagem, novela de 1994 escrita por Ivani Ribeiro, o ator diz não se incomodar por ser reconhecido há 30 anos pelo mesmo personagem - pelo contrário.

Guilherme Fontes como o vilão Alexandre em 'A Viagem'
Guilherme Fontes como o vilão Alexandre em 'A Viagem'
Foto: Globo/Divulgação / Estadão

"Eu não ligo a mínima", diz o ator, em uma entrevista franca concedida ao Estadão. "Ao contrário, me sinto altamente honrado. É como um clássico. Um artista, um ator, tem que se dar por satisfeito se ele tiver construído um, dois, três Alexandres ou clássicos na sua própria carreira. É o suficiente. Alguns cantores não param de fazer clássicos a todos os anos, mas para muitos artistas é difícil ter uma oportunidade de criar um clássico. Nesse caso, eu só sinto muito orgulho quando falam comigo."

O tamanho do sucesso é justificado. Segundo a TV Globo, A Viagem é um dos títulos mais pedidos para reprise pelos telespectadores, e mais uma acaba de chegar: a obra retorna nesta segunda-feira, 12, no Vale a Pena Ver de Novo, e a aposta para a faixa parece ser alta. As chamadas para a reprise têm sido veiculadas no horário nobre da programação da emissora, nos intervalos de Vale Tudo, o que deixou o público ainda mais ansioso para rever Alexandre.

E se engana quem pensa que Guilherme Fontes enxerga como um fardo carregar o sucesso de A Viagem e de Alexandre consigo por três décadas. O ator comemora ter tido a chance de interpretar um personagem que transcendeu a barreira da televisão, ganhou a internet, virou meme e é constantemente redescoberto por novas gerações - mas também explica que nem sempre foi fácil ser confundido com um espírito obsessor.

"Eu poderia dizer que vivi na pele as agruras de ter feito um personagem como esse", confidencia. "Por muitos anos, eu fui confundido com o personagem na minha vida privada. A fantasia do sobrenatural eu sentia pelo medo que eu provocava. As pessoas achavam que eu era aquele cara. Soturno, cheio de olheiras, drogado. Isso se confundiu muito. Toda sorte de pensamento já me ocorreu, em relação a [conversas como] que eu 'comecei a me machucar muito', que 'tive problemas dali por diante, que 'meus problemas começaram a partir dali'. Mas não vi fantasminhas no período [das filmagens]."

O segredo do sucesso

Para o ator, um dos motivos da popularidade de Alexandre é o fato de ser um vilão que fascina, tanto pela complexidade da escrita quanto pelo caminho que ele traça ao longo da trama do folhetim.

"Você imaginar que essa novela foi repetida sete vezes e foi formando gerações é fascinante. Eu digo que [Alexandre] é um personagem transmidiático. Ele fez o papel certinho do que hoje a gente torce para que um personagem faça, ele atravessa as mídias e os tempos."

Guilherme Fontes como Alexandre Toledo em 'A Viagem'
Guilherme Fontes como Alexandre Toledo em 'A Viagem'
Foto: Acervo TV Globo/Divulgação / Estadão

Em A Viagem, baseada na doutrina espírita, Alexandre é um rapaz rico e problemático que, após a morte, ainda tenta prejudicar a vida do irmão Raul (Miguel Falabella), do cunhado Téo (Maurício Mattar) e do criminalista Otávio (Antonio Fagundes), que julga serem os responsáveis por seus infortúnios. Sua revolta aumenta quando vê que Diná (Christiane Torloni), sua irmã mais velha e maior defensora, está apaixonada pelo advogado.

"No mundo da disputa, aquele que é derrotado acaba sendo, de alguma forma, levado a uma impressão de injustiça", reflete Fontes. "O Alexandre era o demônio em vida, ele não tinha nenhum perdão. Mas ele também não perdoou a questão de ser traído por um membro da família, e isso para ele é inadmissível. Atribuo a isso a ligação dele com o povo. Eu brinco que hoje em dia ele virou um conselheiro espiritual. Só que, na novela, ele é um porta-voz da vingança. É um personagem altamente dramático, mas ao mesmo tempo brinca com a ideia do poder espiritual que tem. Eu gosto disso."

Fontes também acredita que o sucesso é compartilhado, consequência de um trabalho bem feito em conjunto — e que a chave para uma novela de sucesso é simples, embora nem sempre fácil de se realizar.

"Eu fico muito orgulhoso de mim mesmo, sem nenhuma falsa modéstia, mas eu acho que é um conjunto de coisas. Um texto maravilhoso, uma direção primorosa, atores fantásticos contracenando. Esse é o ingrediente que funciona. Não adianta economizar no óbvio."

A vida depois de Alexandre

Hoje com 58 anos, Guilherme já trabalhou em dezenas de novelas, foi dirigido no cinema por Cacá Diegues, e tem uma extensa carreira também no teatro, não só como ator mas também como produtor e diretor. Em 2015, ele lançou nos cinemas o filme Chatô, o Rei do Brasil, cinebiografia de Assis Chateaubriand (1982-1968) inspirada no livro homônimo de Fernando de Morais, rodado cerca de 20 anos antes do lançamento.

Por tudo isso, ele não se vê como um artista limitado pela fama de um único personagem — mas também admite que não se sente pressionado a tentar superá-lo.

"Eu sou um ator que já fiz muitas coisas, mas não fiz tantas coisas capazes de confundir aonde eu posso chegar como artista. Já fiz Nelson Rodrigues, trabalhei com o Daniel Filho, com Cacá Diegues, Jorge Duarte, uma infinidade de diretores com personagens diferentes", enumera. "Não são muitos, porque eu nunca quis ter grandes trabalhos. Ainda que você seja um grande artista, sobretudo atores e atrizes, é muito importante que você descanse, porque essa carreira é longa."

O artista explica que, hoje, prefere fazer trabalhos de menor porte, e diz que preza pela qualidade do resultado ao invés da quantidade de lançamentos. Para ele, um bom personagem precisa trazer sempre um desafio e um risco.

"Eu sei que você tem que trabalhar toda hora, agora mais do que nunca porque não temos mais contratos fixos. Há uma necessidade maior de as pessoas fazerem cada vez mais personagens, e eu não acredito que os atores tenham uma capacidade tão grande assim de fazer tantos personagens, há tanto tempo, por tantos anos", afirma.

"Se você faz menos, mas grandes papéis ou grandes personagens, vai ser melhor a longo prazo. Quanto mais um ator se preserva, melhor. Esse negócio de ficar fazendo novela toda hora não está com nada para a imagem do ator. Só para o bolso."

Legado, remake e espiritualidade

Em tempos de refilmagens e continuações (não só em novelas, mas no cinema e na TV de modo geral), muito se discute quais são os elementos fazem um clássico. A universalidade ou atemporalidade de um tema, e sua adequação a múltiplos meios, são fortes indícios de uma história capaz de atravessar o tempo.

Guilherme Fontes como Alexandre Toledo em 'A Viagem'
Guilherme Fontes como Alexandre Toledo em 'A Viagem'
Foto: Acervo TV Globo/Divulgação / Estadão

Em A Viagem, o que está no centro da trama é uma discussão sobre a consequência dos atos e a importância do perdão e da evolução. Fontes crê que esses assuntos dialogam com o público de hoje mais do que nunca. E, mesmo assim, ele não acredita que mais uma refilmagem da história seria possível.

"Eu não acredito em outro remake de A Viagem. Eu acho que é um ponto grande de dificuldade para quem for fazer. Você faz remake de grandes histórias que foram esquecidas e não são revisitadas mais, mas histórias que são revisitadas ou que fizeram um sucesso extraordinário, o risco é imenso", opina, recordando que a própria versão de 1994 da novela é uma refilmagem, inspirada na novela homônima exibida nos anos 1970 pela TV Tupi.

"E eu acho que tem que insistir nos originais, sempre", continua. "Os remakes são ótimos. Mas eu, particularmente, se fosse dirigir um, talvez não escolhesse novelas sobretudo tão revisitadas como A Viagem. Você não precisa fazer remake de grandes sucessos de bilheteria, porque às vezes são muito arriscados, é melhor não fazer. No caso de Vale Tudo, é um sucesso, a Manuela [Dias, autora] está arrasando. Mas o risco é altíssimo."

Estadão
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