“Eu amo esse homem”: é essa paixão rasgada que queremos ver nas novelas
Cena de Gerluce enfrentando bandido para salvar Paulinho em ‘Três Graças’ resgata algo imprescindível em falta na teledramaturgia
Uma das qualidades de ‘Três Graças’ é não ter a pretensão de ser sofisticada e minimalista. O texto popular, às vezes, se assume cafona — e isso se revela saboroso no vídeo.
No capítulo de segunda-feira (29), Gerluce (Sophie Charlotte) invade o muquifo do chefe do crime na favela, Bagdá (Xamã), para impedir que o namorado policial, Paulinho (Rômulo Estrela), seja morto.
“Eu te imploro, deixa eu sair daqui com ele, por favor”, diz a cuidadora de idosos.
“Por que eu ia fazer isso?”, questiona o criminoso armado.
“Porque eu amo esse homem.”
Bagdá fica impactado com a resposta de Gerluce. E quem não ficaria? Qualquer um seria surpreendido pela coragem dela e a força de seu sentimento.
Foi um excelente fim de capítulo, com um irresistível gancho para o dia seguinte.
Em momentos assim, ‘Três Graças’ se apresenta um novelão como a gente gosta: emotivo, profundo, capturante.
E a cena teve ainda uma imbricação entre ficção e realidade: Sophie Charlotte declarou o amor da personagem em um intenso olho no olho com o namorado, Xamã, que também entregou um desempenho vigorosa.
Paixão convincente
Fazia tempo que o horário nobre da Globo não tinha um casal hétero tão verossímil, em que o amor e a dinâmica afetiva (o tesão, o ciúme, o medo da perda etc.) fossem avassaladores.
Uma longa sequência de novelas insistiu em relacionamentos pautados na vingança ou ambição, deixando a afeição em segundo plano.
E a essência da teledramaturgia é a eletricidade que une dois corpos, da alma à pele. Aquele estado emocional capaz de desejar loucamente e se sentir ardentemente desejado.
Gerluce e Paulinho entregam isso por meio de um roteiro assertivo, atuações envolventes e a tal química entre os atores.
Na sequência da trama, após a amada salvar sua vida, o policial passa a ter uma dívida de gratidão, o que vai dificultar a missão dele de denunciá-la como um dos autores do roubo da estátua.
O amor, a ética e o dever profissional serão testados ao mesmo tempo. Como resistir a uma trama assim, profundamente humana?