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Globo relembra oposição de Roberto Marinho a Lula, edição manipulada de debate e encontro de pazes

Citações na série ‘O Século do Globo’ confirmam o poder de influência do fundador da emissora nos rumos da política nacional

12 jul 2025 - 12h34
(atualizado às 12h34)
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No 3º episódio da série ‘O Século do Globo’, exibida na TV e disponível no Globoplay, o filho mais velho do fundador da TV Globo, Roberto Marinho, revela ter enfrentado militares para cobrir o Comício da Candelária, pró-Diretas Já, em 1984, no Rio.

“Eu disse ‘isso está errado, temos de cobrir, vocês estão ameaçando papai, mas eu vou fazer uma cobertura direita, correta; nós temos de construir a devolução do governo, do controle do país aos civis. Vocês segurem seus radicais’”, relata Roberto Irineu Marinho, em relação às conversas com o general Newton Cruz e o general Rubem Ludwig.

O empresário disse ter contatado também à época o líder da oposição à ditadura, Tancredo Neves.

“Já pela manhã apareceu um jipão daqueles do Exército com um general e vários soldados armados na TV Globo para evitar que a gente transmitisse”, relembra. “Eu disse que a gente ia transmitir.”

O canal exibiu a manifestação ao vivo.

“E aí há um ponto de virada da Globo, passando de uma situação constrangedoramente omissa para uma situação de jornalismo pleno”, analisa o jornalista Ernesto Rodrigues, ex-editor na emissora.

Até então, Roberto Marinho era visto como amigo, cúmplice e protegido da cúpula militar. Uma das fotos mais famosas e controversas do empresário é a que aparece caminhando em público de braço dado com o general João Figueiredo, último presidente do regime autoritário.

O episódio de ‘O Século do Globo’ ressalta o beija-mão de políticos a Roberto Marinho. José Sarney, por exemplo, conta ter ido “comunicar” ao dono da TV que havia sido escolhido como vice-presidente na chapa encabeçada por Tancredo na eleição indireta de 1985.

Com a morte do mineiro antes de tomar posse, Sarney passou cinco anos no comando do Palácio do Planalto.

Conseguir a aprovação do dono da Globo era essencial, mostra a série. Paulo Maluf também buscou o apoio do poderoso jornalista quando tentou ser eleito presidente pelo Congresso.

Ao abordar a 1ª eleição com voto popular após o fim da ditadura, o programa documental destaca a influência determinante de Roberto Marinho. “Tinham 22 candidatos. O doutor Roberto tinha os seus preferidos, e o (Fernando) Collor nunca esteve entre os preferidos dele. Ao contrário”, afirma Merval Pereira, comentarista da GloboNews, colunista de ‘O Globo’ e homem de confiança da família Marinho. 

“Papai não amava o Collor”, admite Roberto Irineu Marinho. “Não era uma relação muito boa. Ficou um pouco a sensação de que ele queria o Collor, mas o candidato dele não era o Collor. O candidato dele, se não me engano, era o (Mario) Covas.”

Mas, com o discurso de ‘caçador de marajás’, Collor passou ao 2º turno. Ao lado dele, o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

“Nós optamos pela candidatura do Fernando Collor de Mello”, diz o próprio Roberto Marinho em vídeo exibido. “Pela sua combatividade, pela sua coragem, peça sua mocidade também.”

O episódio não foge de uma das maiores vergonhas da história do jornalismo da Globo: a manipulação de matéria sobre o último debate na TV às vésperas do 2º turno.

“A Globo já admitiu que ali houve um erro”, diz o ex-diretor de Jornalismo do canal, Ali Kamel (não era ele quem comandava o departamento em 1989, e sim Armando Nogueira, já falecido).

“Um erro causado pela constatação de que o Lula tinha perdido aquele debate. Aí a edição do ‘Jornal Hoje’ dava como se fosse empate; a edição do ‘Jornal Nacional’ tentou consertar, mas errou flagrantemente porque deu 1 minuto e 19 segundos a mais para o Collor.”

Lula saiu derrotado das urnas, com 46,97% dos votos contra 53,03% do adversário favorecido pela Globo.

Em março de 2021, o petista criticou o canal numa entrevista coletiva. “A Globo fez aquela ‘mutreta’ nos debates. Em 1989, eu fui para o segundo turno, mas não ganhei porque a Globo me roubou”, disse.

Na esteira dos escândalos de corrupção no governo de Collor, Lula foi até o proprietário da TV Globo e de ‘O Globo’ pedir apoio para a campanha do impeachment. Uma foto do encontro acabou publicada na primeira página do jornal.

Em agosto de 2003, ao comparecer ao velório de Roberto Marinho no Rio, Lula, no 1º ano do 1º mandato, comentou com jornalistas sua relação com o magnata da comunicação.

“Eu tive dois grandes momentos (com Roberto Marinho). Um em Paris, quando discutimos as eleições de 89, e outro, na sede de ‘O Globo’, quando discutimos a participação dele no impeachment do Collor. Os dois momentos foram importantes. Conhecendo melhor as pessoas é que a gente pode analisar o que leva essas pessoas a tomarem grandes decisões.”

Entre altos e baixos (os piores: as coberturas da Operação Lava Jato, do impeachment de Dilma Rousseff e da prisão do então ex-presidente), Lula e a direção da Globo mantêm hoje uma relação cordial.

A emissora voltou a receber verba publicitária significativa do governo federal após o início do 3º mandato, encerrando o boicote imposto por Jair Bolsonaro em seus anos na Presidência.

Lula e Roberto Marinho no encontro na redação de 'O Globo': série conta que a mulher do dono da Globo, dona Lily Marinho, já falecida, morria de medo do petista
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Foto: Reprodução/Série 'O Século do Globo'/TV Globo
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