Episódio final de 'Monk' decepciona
- Eric Deggans
O seriado Monk, da USA Network, sai do ar na noite desta sexta-feira (4) e deixa um curioso legado, já que aprisionava um dos personagens de TV mais originais de todos os tempos em um dos mais convencionais seriados já produzidos.
Ao assistir aos episódios finais da série que estreou sete anos atrás, nesta temporada, já se havia tornado aparente que o detetive Adrian Monk, um personagem obsessivo-compulsivo interpretado por Tony Shalhoub, precisava de repouso.
As tramas dos episódios se tornaram mais e mais exageradas, mas ao mesmo tempo as conclusões finais de cada trama eram óbvias a ponto de qualquer pessoa ser capaz de adivinhá-las. A dinâmica entre os personagens principais já está bem desgastada. O exasperado mas compreensivo capitão Stottlemeyer, interpretado por Ted Levine; a exasperada mas compreensiva assistente pessoal Natalie Teeger, interpretada por Traylor Howard; e assim por diante.
Mas Shalhoub sempre ofereceu um desempenho luminoso como brilhante detetive e ex-policial traumatizado por um distúrbio obsessivo-compulsivo depois que sua mulher foi assassinada. Originalmente posicionado como um incômodo observador externo que fuçava em casos que a polícia acreditava já ter decifrado, o papel serve como veículo perfeito para que o ator demonstre seu maravilhoso talento para a comédia física e para o humor de situação.
Monk também provou ser um dos primeiros exemplos da liderança de qualidade que os canais de TV a cabo norte-americanos viriam assumir diante das redes de TV abertas dos Estados Unidos. Lançado em 2002, poucos meses depois de The Shield, um marcante seriado policial do canal FX, Monk ajudou a demonstrar que produções dramáticas originais tinham uma chance de brilhar na TV a cabo, e valeu a Shalhoub uma indicação ao Emmy e presença ocasional dos episódios do programa na grade da rede aberta ABC.
Na semana passada, o USA exibiu a primeira metade do episódio final duplo, no qual Monk é atacado por um veneno de ação lenta exatamente quanto está a ponto de resolver o mistério do assassinato de sua mulher Trudy, acontecido tantos anos atrás. Craig Nelson interpreta o juiz bem humorado que está à beira de uma grande promoção aparentemente um tanto suspeita, e o episódio da semana passada se encerrava com a descoberta por Monk de um vídeo deixado por sua mulher, que talvez pudesse explicar os motivos de sua morte.
Agora que o seriado chega ao seu episódio final, eis algumas das coisas mais frustrantes que continuam a me irritar nesse programa que amo odiar:Os astros e os atores convidados: Levine causou pesadelos a toda a uma geração como Buffalo Bill, um serial killer no filme O Silêncio dos Inocentes. O terapeuta de Monk, Dr. Neven Bell, é interpretado por Hector Elizondo, ator premiado que já participou de mais de 80 filmes. Os astros convidados do programa já incluíram atores de primeira linha como John Turturro, Jon Favreau, Stanley Tucci e Sarah Silverman, mas é comum que eles se vejam envolvidos em tramas previsíveis e situações dignas de uma história em quadrinhos.
As tramas: As séries de mistério na televisão costumam recorrer a tramas convolutas, hoje em dia, em um esforço para apresentar crimes concebíveis mas cuja solução os telespectadores não sejam capazes de adivinhar antes da metade do episódio. No entanto, as tramas de Monk -um lavador de janelas que se torna assassino de policiais, duas semanas atrás, quase me fez arrancar os cabelos- parecem tão absurdas que defini-las como tolas seria pecar pela modéstia.
O final: Parece estranho que o homicídio que enlouqueceu Monk durante anos seja resolvido em apenas dois episódios, entre os quais o final, que será exibido este noite. Na semana passada, os telespectadores puderam enfim assistir a flashbacks que mostram os últimos dias de vida de Trudy, com muitas indicações de que ela estava ciente de que alguma coisa terrível estava por acontecer. Mas ainda assim a solução parece rápida demais e leve demais, o que de certa forma representa um final apropriado para uma série que, em última análise, dependia demais do personagem-título para que pudesse percorrer território novo em qualquer outra direção.