Com programa popular, Wagner Montes incomoda Globo
Segunda-feira, 12h05, Wagner Montes está fumando e tomando um café em sua sala nos estúdios da Record, em Benfica, quando seu telefone toca. Do outro lado da linha, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, liga para lhe dar parabéns pela estreia do programa Balanço Geral na rede de São Paulo e mais 150 países que recebem o sinal da Record Internacional. Uma das maiores audiências da emissora no Rio, o Balanço incomoda a TV Globo, líder no horário. Nesse dia, o programa ficou por 50 minutos em primeiro lugar: 31 minutos isolado e 19, empatado com a concorrente.
Com duas horas e meia de programa direto, e apenas um comercial, Wagner é o apresentador que mais tempo fica ao vivo no ar na TV. Se o ibope sobe, ele ainda vai esticando esse tempo. "Minha relação com a 'poliçada' não é de agora. Começou em agosto de 74, quando me tornei repórter policial na Rádio Tupi do Rio. Sempre tive ótimo relacionamento com os bons policiais. Os maus, eu sou o primeiro a escrachar", garante Wagner, que passa boa parte do tempo levantando o moral dos homens de farda, com bordões inspirados no linguajar criminal. "A maioria dos policiais não tem desvio de conduta, luta com dificuldades. Se fazem bico, estão deixando de passar um dia com sua família e trabalhando honestamente, em vez de achacar no meio da rua", defende o autor de bordões como "Escraaaacha", "Arregaaaaaça" e "Laaaarga o Aço" e Comandante Honorário da Polícia Militar do Rio de Janeiro - título que ganhou da PM pela defesa da corporação e que lhe rendeu até farda.
Sem se maquiar, Wagner troca a camisa do Botafogo - presente do atacante Victor Simões - pelo terno. Tranquilo, entra no estúdio, onde é recebido por equipe tensa para o primeiro programa gerado da filial para a matriz. "Todos nós somos um só corpo. A vitória é nossa", reza ele, em voz alta e de olhos fechados, antes de entrar no ar. A atração começa às 12h30. Depois de apresentar acidente com 40 feridos na Praça Mauá, Wagner vira para outro câmera e pede: "Peruquinha, chega mais (close). Não uso maquiagem porque sou lindo". Riso geral.
"Quando tenho uma matéria forte, faço uma brincadeira depois para desviar o foco. Às vezes extrapolo, mas as crianças me assistem, e isso é para que elas não fiquem com imagem ruim na cabeça. Mas aqui é tudo real. O ¿Balanço Geral¿ é o retrato fiel da realidade", justifica-se. Em seguida, é hora de Wagner perguntar ao seu diretor de jornalismo, Thiago Contreira, através do ponto eletrônico, como anda a audiência. Ouve a resposta e comemora com a equipe: "Estamos colados no rabinho da Globo, vamos arrombar a festa deles", vibra ele, que começou em terceiro lugar e está em segundo. "Traficantes são presos em favela carioca após intenso tiroteio". Após a chamada, Wagner volta aos gritos: "Trocou tiro com a polícia, laaarga o aço, solta o dedo pra eles verem como dói a dor da saudade". Ele parabeniza a delegacia ou batalhão responsável pela prisão no ar e, por trás das câmeras, jura ser contrário à pena de morte. "Se houver pena de morte no Brasil só vai para o paredão o famoso PPP - pretos, prostitutas e pobres. Vai ser difícil colocar um colarinho branco no paredão".
Ao comemorar a prisão de um bandido, Wagner pede que ele seja recebido pelo delegado com "suquinho de laranja, ar-condicionado, biscoitos, geleia e mel" para contar tudo o que sabe. Seria uma forma branda de sugerir a tortura policial? "O preso mais cascudo pode minimizar sua pena com o artifício da delação premiada. Quando falo assim é para tratá-lo como gente, que ele colabora", garante. O braço-direito do apresentador, Rogério Esteves, recebe em ligações durante o programa a prova da gratidão da "poliçada". "Aqui não tem notícia em primeira mão, é primeira perna (em referência a seu acidente). São os policiais que divulgam as ocorrências para mostrar que estão trabalhando, mesmo com o salário miserável que ganham", diz Wagner, que quebra o clima comentando a Lei Seca. "O cara que quer manguaçar não pode dirigir, deixa a gata levar o carro. Mas mulherada não quer saber de quem bebe e não dá no couro, borracha fraca não dá".
Passa das 14h e, ao saber que ocupa o 1º lugar, Wagner festeja: "Passamos! Vou pagar o almoço de vocês no PF (prato feito) de R$ 3,50", gargalha, e chama os pesquisadores do Instituto Vital Brazil com a sucuri Rafaela, de 5m e 100 kg. "Se Rafaela se enrolar na minha perna direita se lasca. Saio pulando. Não sou chegado em cobra, eu sou é borracha forte", escracha.
"Aos inimigos, digo para tentar a sorte"
A popularidade dos bordões de Wagner foi testada em visita à Central do Brasil com a TV Tudo de Bom!. O apresentador foi recebido por crianças e adultos aos gritos de "Escraaaacha" e seguido por onde andava.
"Só escracho quem foi preso em flagrante, suspeito, não. 'Se eu tivesse medo de gemada não comia ovo' nasceu depois que recebi recados de oficiais de que falo demais, que deveria respeitar o comando. Respeito as patentes, mas não tenho medo de estrela, quanto mais de gemada, as estrelas douradas que apontam para coronel, major, general. A patente que for, 'pagou sugesta' (tentar impor) vai levar", avisa ele, que já quebrou a TV de plasma do estúdio ao arremessar seu 'anel do poder', joia de ouro com símbolo da Record, enquanto gesticulava.
"Com 15 anos risquei do dicionário as palavras medo, medroso e medrar. Já recebi ameaça de morte, mas não tenho carro blindado, nem mudei hábitos. Aos inimigos, falo para tentarem a sorte", diz Wagner, com a segurança que diz ter desde a adolescência.
"Sou disposto e não tomo Viagra"
Filho ilustre do município de Duque de Caxias, Wagner Montes, hoje com 54 anos, é do tipo que faz piada com a própria desgraça. Em 1981, perdeu parte da perna direita em acidente com seu triciclo na esquina das ruas Maria Quitéria e Barão da Torre, em Ipanema. "Chovia e o pneu estava muito liso, deslizei e prensei a perna. Era dar com a cara no poste grande ou esmagar a perna no fradinho, o poste de cimento", relembra ele, que agiu por impulso. "Na época, tirei o corpo fora, mas a perna não deu para tirar. Sempre fui muito bonito, agora não. Já fui flor do campo, hoje sou tiririca do brejo", brinca.
Nos tempos de cantor galã, gravou dois discos. "Não canto mais, não. Parei de gravar discos porque era uma m... cantando", ri. Os 17 anos no SBT renderam a Wagner Montes o casamento, que já dura 22 anos, com a atriz Sônia Lima e a amizade de Silvio Santos. "Ele é o melhor apresentador vivo do país, me inspira. A Sonia é uma mulher guerreira. No lugar dela, eu já teria me largado", diz ele, contando que não falta sexo no seu relacionamento. "Sempre gostei muito do esporte, por isso não envelheço, estou sempre disposto e não tomo Viagra. Mas se um dia eu virar borracha fraca, também vou usar".